A cientista norte-americana Lynn Margulis, conhecida por seus trabalhos sobre a origem e evolução das células, e considerada uma autoridade em biologia evolutiva, morreu aos 73 anos em sua casa em Amherst, no estado de Massachusetts, nos EUA. Segundo um comunicado divulgado nesta quarta-feira (23) pela Universidade de Massachusetts, onde deu aulas, ela morreu em sua casa na terça-feira em consequência de um acidente vascular cerebral (AVC) que sofreu recentemente. A ciência perde a mulher que ajudou a mostrar como pessoas, árvores e outros seres vivos complexos são criaturas híbridas, tão improváveis quanto centauros ou sereias.
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Durante toda a sua carreira científica, Margulis foi a principal defensora da teoria da simbiogênese, a ideia de que grandes transições da evolução envolveram a fusão de dois ou mais seres vivos completamente diferentes -daí a analogia com centauros e sereias do parágrafo acima.
Parece uma maluquice, mas pistas de que isso realmente ocorreu começaram a surgir quando cientistas verificaram que certas estruturas das células possuem DNA próprio, distinto do material genético “principal” que a célula guarda em seu núcleo.
PISTAS NO DNA
Isso foi em meados do século passado, quando começou a ficar claro que o DNA era a molécula da hereditariedade, ou seja, a substância responsável por transmitir as características dos seres vivos de pais para filhos.
O DNA independente achado no interior das mitocôndrias (os “pulmões” das células, responsáveis pela respiração celular) e dos cloroplastos (estruturas das células vegetais que comandam a fotossíntese) sugeria uma hereditariedade à parte.
As coisas estavam nesse pé quando Margulis, nos anos 1960, propôs que a explicação mais provável era uma fusão simbiótica. No passado remoto, dois micróbios totalmente diferentes um do outro, com estrutura parecida com a das bactérias atuais, teriam se fundido.
Um deles passou a ser o que consideramos como a célula “principal”, enquanto o outro passou a levar uma vida semi-independente dentro da célula maior (o que seria o caso das mitocôndrias e dos cloroplastos).
Dessa forma, a célula maior ganharia a energia produzida pelos seus novos parceiros internos, enquanto a menor ficaria mais protegida de predadores microscópicos, por exemplo.
Hoje, poucos biólogos discordam da ideia, porque a comparação entre o DNA “normal” das células e o encontrado nas mitocôndrias e cloroplastos mostrou que, de fato, eles têm muito pouco a ver um com o outro.
Mais importante ainda: o material genético dos dois lembra muito o de certas bactérias (no caso dos cloroplastos, com o DNA de bactérias que fazem fotossíntese).
Margulis participou da elaboração de outra ideia famosa, que também enfatiza a cooperação entre organismos: a hipótese Gaia, que vê a Terra como um superorganismo.
Ela foi a primeira mulher do célebre astrônomo e divulgador de ciência Carl Sagan (1934-1996) e mãe de dois dos filhos do pesquisador.
http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2011/11/24/77042-morre-nos-eua-a-biologa-lynn-margulis.html
24.11.2011
A cientista ficou conhecida por sua teoria da simbiogênese, que desafia as teorias neodarwinistas com o argumento que as variações herdadas não se devem a mutações ao acaso, mas à interação entre os organismos em longo prazo.
Segundo Margulis, a origem das primeiras células com núcleo se deu a partir da fusão de bactérias primitivas há bilhões de anos, com o que essas bactérias seriam um fator a levar em conta na origem da vida.
Teoria de Gaia – Margulis, doutora honoris causa pela Universidade Autônoma de Madri e agraciada com a Medalha Nacional de Ciência dos EUA em 1999, foi também uma das impulsoras, ao lado do britânico James Lovelock, da teoria de Gaia.
Segundo a hipótese colocada nesta teoria, o meio ambiente mudou devido ao comportamento dos seres vivos que o habitam e à sua interação com o entorno, enquanto outras teorias falam de adaptação dos organismos a um ambiente determinado.
Nascida em Chicago em 1938, entrou na Universidade de Chicago quando tinha 14 anos. Formada em Zoologia e Genética pela Universidade de Wisconsin, também era doutora em Genética pela Universidade da Califórnia e co-diretora do departamento de Biologia Planetária da Nasa (agência espacial americana).
Sua obra ofereceu uma visão nova da microbiologia e ajudou a posicionar a figura da espécie humana em harmonia com o resto da natureza, inclusive de microorganismos.
Era membro da Academia de Ciências dos EUA desde 1983, da Academia Russa de Ciências Naturais desde 1997 e da Academia Americana de Artes e Ciências desde 1998, além da Sociedade Internacional para o Estudo da Origem da Vida e a Sociedade Catalã de Biologia.
Lynn Margulis publicou numerosos artigos e livros. Seu texto “Simbiose na evolução da célula” (1981) é considerado um clássico da Biologia do século 20.
Margulis foi casada com o astrônomo Carl Sagan, um divulgador da ciência que ganhou fama mundial com seu programa de televisão “Cosmos”, falecido em 1996, e era mãe do poeta Dorion Sagan, que colaborou com ela em diversas publicações. (Fonte: G1)