Um relatório que vai ser publicado este mês pela organização não governamental WWF coloca duas regiões brasileiras no mapa das dez maiores frentes de desmatamento no mundo. A versão preliminar do documento, à qual o Valor teve acesso, aponta que a Amazônia e o Cerrado poderão perder 59 milhões de hectares de mata até 2030, caso não sejam reforçadas as políticas de controle do desmatamento. O volume representa 40% de todas as áreas verdes que poderão desaparecer do planeta nos próximos 15 anos.
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A reportagem é de Murillo Camarotto, pubicada no jornal Valor, 16-03-2015.
Apesar da expressiva redução no ritmo do desmatamento na Amazônia observada na década passada, ainda não há segurança de que o movimento se manterá nos próximos anos, avalia o diretor de Florestas da WWF International,Rodney Taylor. O ativista australiano esteve em Brasília na semana passada para encontros com representantes do projeto Amazônia Viva, organizado pela WWF.
Coordenador do relatório global das frentes de desmatamento, Taylor diz que, apesar dos bons resultados dos últimos anos, o Brasil ainda é vice-campeão mundial de desmatamento, superado apenas pela Indonésia. Lembra que, nos últimos dois anos, a derrubada da floresta amazônica voltou a crescer no país.
O relatório da WWF estima que a região amazônica pode perder entre 23 milhões e 48 milhões de hectares de floresta até 2030. Pecuária, agronegócio, indústria madeireira e obras de infraestrutura estão entre os principais fatores de pressão sobre a floresta, que abrange nove países da América do Sul. A Pan Amazônia é formada por Brasil, Bolívia, Peru, Colômbia, Equador, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa e Suriname.
Taylor lembra que a redução no desmatamento em terras brasileiras – que representam 60% da área total da Pan Amazônia – é negativamente compensada pelo crescimento na devastação dos vizinhos, especialmente Peru e Bolívia. “A Amazônia é um bioma interdependente. Se o Brasil cuidar e os outros não, não adianta. O Brasil não pode achar que tem que fazer sua parte sozinho”, disse.
Cláudio Maretti, que coordena o projeto Amazônia Viva, lembra que os fenômenos climáticos mais recentes experimentados no país, como a seca prolongada na região Sudeste e as chuvas e enchentes no Norte, podem refletir o desmatamento feito ao longo das últimas décadas. De acordo com ele, além do monitoramento das florestas, são necessárias a implementação de políticas específicas de preservação da floresta e pressão social sobre os principais devastadores.
De acordo com Maretti, a participação das empresas é fundamental, mais ainda incipiente. “Temos algumas iniciativas bem-sucedidas na indústria da soja, no sentido de não comprar de produtores que devastaram a Amazônia. Mas ainda é pouco, porque muitos não compram de fornecedores da Amazônia, mas compram de quem destrói o Cerrado“, diz. Também são poucas as iniciativas da indústria da carne, outro setor visto como “vilão” das florestas.
Entre as maiores preocupações em relação à Amazônia está o projeto da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, no Pará. O empreendimento ainda não recebeu o licenciamento ambiental, mas é fortemente questionado pelos ambientalistas. A WWF está preparando um levantamento sobre o efeito dos desvios nos leitos dos rios – comuns nos projetos hidrelétricos – sobre a saúde da bacia amazônica. O documento será apresentado em abril, durante congresso sobre o clima na Coreia do Sul.
O relatório das frentes de desmatamento afirma ainda que, no curto prazo, a solução para atenuar a degradação é melhorar a governança das políticas de preservação. No longo prazo, diz o documento, “agricultura e pecuária terão que encontrar formas de produzir mais com menos terra, menos água e menos poluição”. Os padrões de consumo terão que ser revisitados, de forma a combinar as necessidades de redução da pobreza com a redução dos resíduos.