Jejum intermitente: Qual é o segredo para o sucesso?

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Jejum intermitente e a queima de gorduras

https://portugues.medscape.com/verartigo/6504340

Dr. F. Perry Wilson

15 de janeiro de 2020

Bem-vindo ao Fator de Impacto, sua dose intermitente de comentários sobre novos estudos médicos. Eu sou o Dr. F. Perry Wilson.

Eu quero que você se lembre da primeira caloria que consumiu ontem. A minha provavelmente foi o açúcar do meu café, por volta das 6 h.

Agora, pense na última caloria que você consumiu ontem. A minha deve ter sido um pouco de açúcar no meu chá, por volta das 21:30 h.

A maioria dos adultos nos Estados Unidos é como eu, consome calorias durante um período de aproximadamente 15 h.

Você já deve ter ouvido falar em jejum intermitente, um plano dietético que exalta a virtude dos jejuns prolongados para restaurar o metabolismo. Os detalhes de qualquer plano individual variam, mas a ideia central gira em torno de uma alimentação com restrição de tempo – limitando o consumo calórico a horas específicas. E agora, graças a este artigo publicado no periódico Cell Metabolism, temos algumas evidências de que um plano dietético com restrição de tempo relativamente modesta pode melhorar significativamente os parâmetros clínicos em indivíduos com síndrome metabólica.

Este é um estudo pequeno, mas bem feito. Dezenove indivíduos com síndrome metabólica, que tinham o hábito de se alimentar durante um período de cerca de 15 horas, foram acompanhados por três meses, durante os quais foram solicitados a restringir sua alimentação a uma janela de 10 horas – pense em algo como de 8 h às 18 h.

Fora isso, não havia requisitos específicos. Os participantes podiam comer o que quisessem e o quanto quisessem, desde que o fizessem durante as 10 horas.

Em geral, esse foi um grupo com boa adesão, reduzindo o período de alimentação para pouco mais de 10 horas. O perfil detalhado da dieta mostrou que eles não estavam pulando as refeições, mas as comprimindo – tomando café da manhã um pouco mais tarde e jantando um pouco mais cedo.

E, nesse processo, eles acabaram consumindo menos calorias, cerca de 200 a menos por dia em comparação com o início do estudo. Essa redução da ingestão calórica levou a uma quantidade razoável de perda de peso: cerca de 3,17 kg ao longo dos três meses de estudo.

Vários parâmetros metabólicos melhoraram. A gordura corporal e a pressão arterial sistólica diminuíram, o colesterol LDL diminuiu e o participante médio perdeu cerca de 4 cm de circunferência da cintura.

Mas nem tudo mudou tão drasticamente. A glicemia de jejum e a hemoglobina A1c diminuíram um pouco, mas não ao ponto de significância estatística, por exemplo.

Muitas mensurações foram feitas neste estudo; 32 são relatadas na tabela de resultados, portanto, precisamos nos preocupar um pouco com falsos positivos. Mas essa não é realmente a principal limitação aqui.

A principal limitação foi o fato de esses pacientes terem sido incluídos em um estudo, veja só, sem um grupo de controle. Não sabemos se as mudanças positivas observadas ocorreram pelo efeito do jejum intermitente ou apenas porque os pacientes sabiam que estavam sendo “observados”. Eles precisavam fazer o login em um aplicativo, ir para consultas e assim por diante. Isso por si só pode ser suficiente para mudar o comportamento em uma direção benéfica.

Em outras palavras, não temos muito a favor aqui de efeitos particularmente grandes e únicos do jejum intermitente em comparação com outras dietas com restrição calórica.

E isso leva a uma das minhas teorias centrais sobre estudos alimentares: qualquer dieta que dificulte a alimentação, seja por limitar certos tipos de alimentos ou comer em determinadas horas do dia, provavelmente levará à perda ponderal. Um dos principais fatores da epidemia de obesidade é o nosso acesso ad libitum a alimentos. Muitas vezes vemos resultados promissores como esse quando simplesmente limitamos o acesso.

O que eu gosto sobre o plano dietético com restrição de tempo é que é bem fácil de explicar: coma dentro desse horário, não coma fora desse horário. Isso é um pouco mais fácil do que explicar como a cetose funciona, por exemplo. Mas, no final, o segredo para qualquer dieta é a adesão. Os pesquisadores entraram em contato com esses participantes três meses após o término do estudo. Naquele ponto, apenas cinco ainda seguiam a dieta.

Estudos futuros sobre novas intervenções dietéticas seriam melhores ao provar que os participantes não apenas entendem a dieta, mas que podem mantê-la.

O Dr. F. Perry Wilson é médico, professor associado de medicina e diretor do Yale’s Program of Applied Translational Research. Seu trabalho sobre comunicação científica pode ser encontrado no Huffington Post, na NPR, e aqui no Medscape. Seu Twitter é @methodsmanmd, e ele tem um repositório de seu trabalho de comunicação em www.methodsman.com.