Japão paralisa geração nuclear de energia.

Neste domingo (15), o Japão desligou seu último reator nuclear, o número quatro da usina de Kansai Electric Ohi, ficando completamente sem geração atômica de energia pela terceira vez em cerca de 40 anos. O penúltimo reator a ser desativado, o número três da usina de Kansai Electric Ohi, teve suas operações interrompidas no início de setembro.

 

 

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usina1 Japão paralisa geração nuclear de energia

por Jéssica Lipinski, do CarbonoBrasil

O desligamento dos reatores no Japão, em decorrência do desastre de Fukushima, é de grande relevância, uma vez que nas últimas décadas cerca de 30% da eletricidade da terceira maior economia do planeta foi gerada por usinas nucleares.

Desde a desativação da maioria dos reatores nucleares, em maio de 2012, o setor energético do país está tendo que gastar bilhões de dólares na importação de petróleo, gás natural e carvão para a geração de energia, compensando o déficit.

No caso do gás natural liquefeito (LNG), por exemplo, as importações aumentaram 4,4% no último ano em volume para um recorde de 86,87 milhões de toneladas, e 14,9% em valor para um recorde de US$ 62, 1 bilhões até março.

Até 2015, as importações devem subir dos atuais 88 milhões de toneladas para cerca de 90 milhões de toneladas, isso considerando um cenário em que 16 dos 50 reatores nucleares do país sejam religados.

Isso fez com que em 2011 o Japão tivesse seu primeiro déficit comercial em mais de 30 anos, e em julho deste ano teve seu maior déficit comercial, de US$ 10,5 bilhões, devido ao aumento no preço do petróleo, que tornou a importação de energia mais cara.

Além disso, o aumento no uso de combustíveis fósseis está fazendo com que as emissões japonesas de gases do efeito estufa aumentem, se tornando um obstáculo para as metas climáticas do país.

Contudo, há os que veem a desativação dos reatores nucleares como uma oportunidade para estimular o crescimento das energias renováveis no país. De fato, desde abril de 2012, a Japão instalou 3,36 gigawatts destas fontes, e, segundo o Greenpeace, o seu potencial ainda pode ser muito maior.

De acordo com um relatório da ONG, o país já poderia ter adotado uma estratégia renovável visando dobrar sua produção para 20,3% do mix energético até 2015 e para 43% até 2020.

Entretanto, o documento critica que os japoneses estão negligenciando as oportunidades de desenvolver essas fontes naturais por causa dos grupos de lobby nuclear, que pressionam pela reativação da energia atômica do país.

De fato, o governo japonês estuda religar alguns dos reatores, e há estimativas de que alguns deles sejam reativados entre dezembro e a metade do próximo ano. No entanto, acredita-se que a aprovação da reativação seja difícil, já que a opinião pública se mostra cada vez mais contrária à .

“O argumento de que não ter energia nuclear abala a economia é míope, considerando que, se por algum erro tivéssemos outra tragédia como Fukushima, o Japão sofreria de mais efeitos colaterais e perderia a confiança mundial. Na nova economia, quanto menos você usar energia, mais valor agregado você tem. O grande coro da energia nuclear está prejudicando os esforços para irmos para uma economia nova e mais aberta”, colocou Tetsunari Iida, diretor do Instituto de Políticas Energéticas Sustentáveis, à Reuters.

Brasil

A polêmica da energia nuclear, contudo, não se restringe ao Japão, e chegou inclusive ao Brasil. Em entrevista à Reuters, Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), observou que o país provavelmente recuará em seus planos de novas usinas nucleares, embora Agra I e Angra II devam continuar em funcionamento, e Angra III já esteja em construção.

“Depois do Japão, as coisas foram colocadas em espera. Não abandonamos [os planos], mas eles também não foram retomados. Não é uma prioridade para nós neste momento”, comentou Tolmasquim.

Ele declarou que o momento é favorável às energias renováveis, em especial a eólica. A média de preços da energia eólica no Brasil caiu de 148 reais por megawatt-hora no fim de 2009 para 110 reais por megawatt hora neste ano.

O presidente da EPE acrescentou que atualmente a energia eólica é mais barata do que a solar no país, mas que os avanços tecnológicos provavelmente mudarão isso. “É uma questão de tempo. A energia solar está vindo, cedo ou tarde”, afirmou.

* Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.