Emboscados em nossos sofás, nossos travesseiros, nossas televisores, roupas e mobiliário, estão quilos de substâncias tóxicas retardadoras de chamas. Estas substâncias são da mesma família e estruturas dos agrotóxicos organo-halogenados tais como o DDT, o Dieldrin e o Mirex (nt.: os três inseticidas organoclorados, largamente usados depois da segunda guerra mundial e que contaminaram todo o planeta!). Enquanto estes agrotóxicos foram banidos nos anos 80 em quase todo o mundo e os níveis de contaminação de nossos suprimentos alimentares foram finalmente decrescendo, o uso dos parentes destes venenos, os retardadores de chamas halogenados, vem dobrando a cada meia dúzia de anos. É um problema relativamente fácil de ser resolvido com enorme potencial de benefícios à saúde de cada criatura viva sobre este planeta.
http://www.psr.org/environment-and-health/environmental-health-policy-institute/responses/stopping-the-use-of-toxic-and-unnecessary-flame-retardant-chemicals.html
(MÉDICOS POR UMA RESPONSABILIDADE SOCIAL)
By Arlene Blum, PhD
Este ensaio é em resposta a: qual perigo ambiental emergente que deveria ser a próxima pauta da agenda política (What emerging environmental hazard should be next on the policy agenda?) ?
Os problemas com a maioria dos retardadores de chamas organo-halogenados são suas altas persistência, tendência a bioacumulação e toxicidade. Os níveis presentes tanto em seres humanos como na vida selvagem global têm crescido muito rapidamente e as criaturas vivas do topo da cadeia alimentar como os mamíferos marinhos, aves de rapina, ursos polares e os filhotes ainda em aleitamento materno, são os que têm as maiores contaminações.
Efeitos adversos de saúde em animais estão bem documentados na literatura científica de revisão aos pares. Estudos epidemiológicos humanos têm detectado associações entre o aumento dos níveis de retardadores de chamas e a redução do QI em crianças, disfunções endócrinas e da tireoide, mudanças nos níveis de hormônio masculino e redução da fertilidade, aumento do tempo para mulheres tornarem-se grávidas, resultados adversos de nascimento e desenvolvimento prejudicado. Isso é muito incomum, encontrar tantas associações humanas adversas pela exposição do consumidor a um produto químico. A maioria dos dados epidemiológicos humanos vem da contaminação ocupacional.
Bebês e crianças pequenas com o rápido desenvolvimento dos sistemas cerebral e nervoso, são os mais vulneráveis a estes tóxicos e têm os mais altos níveis de éteres difenilos polibromados (nt.: em inglês – polybrominated diphenyl ether/PBDEs), um dos tipos de retardadores de chamas, quando comparados aos dos adultos. Os recém nascidos estão nascendo com retardadores de chama em seus corpos, recebendo contaminação adicional do leite materno além de poderem estar ingerir a poeira que contém estes químicos ao contatarem quando engatinham e levam as mãos à boca.
Apesar da proibição de alguns retardadores de chamas halogenados, grandes quantidades de móveis estofados, produtos eletrônicos, carpetes e interior de automóveis que contenham essas substâncias químicas, ainda estão sendo empregados e deverão, depois de seu tempo de utilização, ser eliminados. Para isso terão que ser criados depósitos ao ar livre, como aterros sanitários e estações de tratamento das águas que dai lixiviam, para se impedir sua futura dispersão pelo ambiente e então pelos suprimentos de alimentos.
Enquanto continuarmos colocando em risco nossa saúde através da contaminação destes retardadores de chamas, eles não nos provê proteção mensurável ao fogo. De 1980 a 1999, os estados que não regulamentaram a inflamabilidade do mobiliário, experimentaram declínio nas taxas de mortes por fogo, similares ao que visto na Califórnia (1) que tem uma exigência específica para retardadores de chamas em mobiliário e a espuma dos produtos para bebês (nt.: mais do que ter ou não retardadores de chamas, observar se esta espuma não é de estireno tipo isopor e expandido com gases da família do CFC da camada de ozônio, resina plástica que a academia de ciência dos EUA concluiu ser cancerígena!). Assim, enquanto estes retardadores podem decrescer o tempo para o material se incendiar em pouquinhos segundos, eles aumentam o monóxido de carbono, gases tóxicos e a fumaça que contribuem para mais mortes por fogo e lesões (nt.: lembrar a tragédia que aconteceu no RS, em Sta.Maria, quando na boite Kiss, o que queimou foi a espuma de poliuretano que nem se menciona e é lógico que tinha, quantidades ‘permitidas’ e legalmente ‘recomendadas’ de retardadores de chamas. Quais? Nem se levanta isso!). As estratégias de maior efetividade quanto à segurança incluem a redução do tabagismo, o uso de cigarros e velas que sejam seguros contra incêndios além do aumento do emprego de aspersores e extintores de incêndio, como detectores de fumaça. Todos estas estratégias podem prevenir incêndios sem se adicionar substâncias químicas perigosas nos produtos de consumo.
Os dados científicos são arrasadores. Centenas de químicos, epidemiologistas e toxicologistas que, pelo mundo a fora, estudam a acumulação e os efeitos sobre a saúde destes retardadores de chamas, encontram-se anualmente nas conferências sobre Retardadores de Chamas Bromados (nt.: em inglês – Brominated Flame Retardant) e nos encontros sobre Dioxinas (nt.: considerados os venenos mais perigosos jamais criados pelo ser humano, de triste lembrança por sua ação devastadora como ‘herbicida’ chamado Agente Laranja na guerra do Vietnan e agora se pretendendo trazer através pela soja transgênica que suportará o herbicida 2,4-D, integrante desta arma química) nas conferências sobre os POPs (nt.: poluentes orgânicos poluentes – ver: http://www.greenpeace.org.br/toxicos/pdf/factpops.pdf), para compartilharem suas pesquisas. Apontados pela conferência sobre Dioxina 2010, em setembro daquele ano, na cidade de San Antonio, no Texas, na declaração de San Antonio sobre retardadores de chamas bromados, num consenso onde estão documentados tanto os danos como a ausência de benefícios efetivos de segurança contra incêndios, e sua ampla dispersão pelos ambientes. Este documento foi assinado por mais de 150 cientistas e médicos de 22 países. Ver os links: http://greensciencepolicy.org/node/269 e o editorial dos cientistas Linda Birnbaum e Ake Bergman está no link http://www.ehponline.org/article/info:doi/10.1289/ehp.1003088 bem como o link dos termos deste edital em http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3002201.
Lamentavelmente este documento consensual entre os cientistas que estudam estes químicos não chegou ao grande público. A maioria dos consumidores não têm a mínima ideia de que as espumas de seus sofás e travesseiros tenham provavelmente em torno de 5% de seu peso de químicos disruptores endócrinos que podem permanecer nos organismos de nossas crianças por anos a fio, com o grande potencial de causar-lhes grandes danos. Se informados, poderemos agir no sentido de protegermos nossas famílias ao evitarmos estes produtos químicos tóxicos, tomando medidas de precaução para reduzirmos a contaminação dela bem como apoiando políticas que venham a reduzir o uso destes retardadores de chamas, efetivamente desnecessários.
Assim, dados todos estes inconvenientes, por que continuamos a usá-los em níveis crescentes? Chemtura (nt.: ver – http://pt.chemtura.com/corporatev2/v/index.jsp?vgnextoid=e6d5b38e65f4d210VgnVCM1000000753810aRCRD&vgnextfmt=default) , Albemarle (nt.: no Brasil atua sob este signo: http://www.albemarle.com/About/S%E3o-Paulo-69C12.html?LayoutID=9) e a Israeli Chemicals Limited/ICL (nt.: http://www.icl-group.com/Pages/default.aspx), são as três fábricas químicas que produzem estas substâncias, empregam lobistas e gastam milhões de dólares tanto a nível dos estados como a nível federal (nt.: a autora relata a situação dos EUA e que não deve diferir absolutamente nada em relação ao Brasil e todos os países do planeta!!) para iniciarem e manterem aqueles padrões de inflamabilidade que sejam favoráveis a suas indústrias e seus negócios. A imensa lucratividade das vendas destes químicos parece ser a força motriz para seu uso. Por exemplo, os ganhos da corporação transnacional Albemarle foram maiores do que quatro vezes em 2009 ao se compara com os de 2008, em razão de terem sido “fortalecidos pelo aumento nas vendas dos retardadores de chamas bromados”. Apesar da influência da pressão monetária sobre este tipo de indústria, somente três delas produzem estes químicos. Precisam da pressão pública para demovê-las destes químicos e assim buscarem alternativas seguras.
Um primeiro passo importante para proteger a saúde dos californianos, pode começar pela mudança nos padrões antiquados sobre inflamabilidade da Califórnia contidos no denominado TB117 (nt.: o estado da Califórnia quer revisar o Technical Bulletin 117/TB117 que trata dos retardadores de chamas. Para maior informações ver – http://www.nahfa.org/government-relations/the-issues/tb117-2013/) que exige que a espuma da resina plástica chamada poliuretano em produtos da juventude e mobiliário estofado, deve suportar uma exposição à uma pequena chama aberta por 12 segundos. Desde sua implementação em 1975, os retardadores de chamas halogenados vêm sendo adicionados às espumas vendidas na Califórnia em níveis em torno de cinco por cento do peso da espuma sem haver o benefício de segurança aos incêndios. Quatro anos de tentativas legislativas para se alterar estes padrões para se alcançar um aumento da segurança aos incêndios sem a toxicidade destes produtos, foram frustradas pelo alto financiamento (nt.: para não se dizer aberta e explicitamente de corrupção como vem se falando agora no Brasil, democrática e judicialmente) dos lobistas dos fabricantes químicos.
A questão retardador de chamas é um fato emblemático pela importância de se reformar a legislação federal sobre as substâncias tóxicas (nt.: no caso dos EUA a chamada Lei de Controle das Substâncias Tóxicas – Toxic Substances Control Act/TSCA). Pela primeira vez desde 1976, está havendo nos EUA a presença de projetos de lei tanto na Câmara dos Deputados como no Senado Federal (The Safe Chemicals Act de 2010 e a The Toxic Chemical Safety Act de 2010), para se dar à agência de proteção ambiental norte americana (EPA) autoridade verdadeira para regulamentar o uso de químicos perigosos como os retardadores de chamas, para garantir a troca por substâncias químicas seguras além de exigir dos fabricantes que forneceçam informações comprovando a segurança dos produtos químicos antes de sua entrada no mercado de consumo.
Interromper o uso de retardadores de chamas organo-halogenados desnecessários, poderia auxiliar a prevenção de cânceres, deficiências neurológicas, deficiências reprodutivas, alterações na tireoide, no sistema endócrino e no processo fisiológico do desenvolvimento em nossa população. É tempo de utilizar as evidências científicas arrasadoras para tomarmos uma atitude de proteção da nossa saúde e especialmente a de nossas crianças. Favor conectar nosso website: atwww.greensciencepolicy.org para maiores informações.
Arlene Blum, PhD
Arlene Blum, PhD, química biofísica, autora e montanhista, é uma cientista visitante junto ao campus de Berkeley da Universidade da Califórnia, lotada no Departamento de Química, além de diretora executiva do Green Science Policy Institute. Suas pesquisas anteriores contribuíram para a regulamentação de dois retardadores de chamas carcinogênicos empregados em roupas infantis. O Green Science Policy Institute aproxima governos, indústrias, cientistas e grupos de cidadãos para que, juntos, venham a proteger a saúde de todos pela redução de substâncias químicas em produtos de consumo. Mais informações acessar: www.greensciencepolicy.org.
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Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, novembro de 2014.