INPE e SOS Mata Atlântica divulgam novos dados do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica.

A Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) divulgaram nesta terça-feira (29/5) os dados do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, no período de 2010 a 2011. Os resultados mostram que Minas Gerais e Bahia foram os Estados que mais desmataram.

 

http://www.ecodebate.com.br/2012/05/30/inpe-e-sos-mata-atlantica-divulgam-novos-dados-do-atlas-dos-remanescentes-florestais-da-mata-atlantica/

O estudo aponta desflorestamentos verificados de 13.312 hectares (ha), ou 133 Km², no período de 2010-2011. Destes, 12.822 ha correspondem a desflorestamentos, 435 ha a supressão de vegetação de restinga e 56 ha a supressão de vegetação de mangue. No dia 27 de maio (domingo), foi comemorado o Dia Nacional da Mata Atlântica. Ela é o bioma mais ameaçado do Brasil: restam somente 7,9% de remanescentes florestais em fragmentos acima de 100 hectares, representativas para a conservação da biodiversidade. Considerando todos os pequenos fragmentos de floresta natural acima de 3 hectares, o índice chega a 13,32%.

Da área total do bioma Mata Atlântica, 1.315.460 km2, foram avaliados no levantamento 1.224.751  km2, o que corresponde a cerca de 93%. Foram analisados os Estados do Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo e Bahia. Por causa da cobertura de nuvens, que prejudicam a captação de imagens via satélite, foram avaliados parcialmente os Estados da Bahia (57%), de Minas Gerais (58%) e do Espírito Santo (36%). Nos demais Estados do Nordeste que estão dentro dos limites do bioma – Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Sergipe e Rio Grande do Norte – a análise foi impossibilitada devido a ocorrência de nuvens.

Os dados foram apresentados durante coletiva em São Paulo por Marcia Hirota, diretora de Gestão do Conhecimento e coordenadora do Atlas pela SOS Mata Atlântica; Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da Fundação, e Flávio Jorge Ponzoni, pesquisador e coordenador técnico do estudo pelo INPE.

“A cada edição a avaliação tem sido feita com mais agilidade e maior precisão, validando os desmatamentos em imagens recentes de alta resolução e com trabalhos de campo. A base está sendo complementada com as áreas de campos naturais, várzeas, matas ciliares de forma a tornar as próximas versões mais completas e permitir um melhor monitoramento dos impactos negativos decorrentes das alterações do Código Florestal”, informa Ponzoni, do INPE.

O Atlas tem o patrocínio de Bradesco Cartões e execução técnica da Arcplan. Os dados completos podem ser acessados nos sites www.sosma.org.br e www.inpe.br.

Ranking

Em Minas Gerais, onde a Mata Atlântica já cobriu 46% do território total do Estado (27.235.854 ha de um total de 58.697.565 ha), hoje restam apenas 3.087.045 ha do bioma original. No período 2010-2011, foram desflorados 6.339 ha.

A Bahia conquistou a segunda posição do ranking com o desflorestamento de 4.686 ha. Hoje, restam no Estado 2.408.648 ha de Mata Atlântica, o que, originalmente, já correspondeu a 18.875.099 ha.

Mato Grosso do Sul, Santa Cantarina e Espírito Santo levam, respectivamente, as 3a, 4a e 5a posições, com o desmatamento de 588 ha, 568 ha e 364 ha. A esses números, somam-se desflorestamentos de 216 ha em São Paulo, 111 ha no Rio Grande do Sul, 92 ha no Rio de Janeiro, 71 ha no Paraná e 33 ha em Goiás.

Desflorestamentos – período 2010-2011 (em ha)


Nos últimos 25 anos, a Mata Atlântica perdeu 1.735479 hectares, ou 17.354 km2. Abaixo, o total de desflorestamento na Mata Atlântica identificados pelo Atlas desde 1985 em cada período.

Período 1985-1990: 466.937 ha
Período 1990-1995: 500.317 ha
Período 1995-2000: 445.952 ha
Período 2000-2005: 174.828 ha
Período 2005-2008: 102.938 ha
Período 2008-2010:   31.195 ha
Período 2010-2011:   13.312 ha

Abaixo um gráfico do histórico do desmatamento desde 1985:


Situação nos municípios

Os novos dados do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica indicam também o desflorestamento de cobertura nativa por municípios. Minas Gerais e Bahia lideram o ranking, com as seis cidades que mais desmataram no período 2010-2011. Águas Vermelhas (MG), Canavieiras (BA) e Jequitinhonha (MG) foram as campeãs, com 1.367 ha, 1.337 ha e 1.270 ha devastados. Em quarto lugar ficou a cidade baiana de Belmonte, com 902 ha. Na quinta posição, outro município mineiro: Ponto dos Volantes, com 539 ha. Cândido Sales, na Bahia, ficou em sexto lugar, com 363 ha. Em sétimo, aparece a cidade de Taquarussu (MS), com 352 ha, seguida de Linhares (ES), com 320 ha, para depois abrirem espaço para outras 24 cidades de Minas e Bahia.

O Atlas dos Municípios da Mata Atlântica revela a identificação, localização e situação dos principais remanescentes florestais existentes nos municípios abrangidos pelo bioma. Por meio do IPMA (Índice de Preservação da Mata Atlântica) – indicador criado pela SOS Mata Atlântica e pelo INPE –, torna-se possível ranquear os municípios que mais possuem cobertura vegetal nativa. Os dados e mapas podem ser acessados pela internet, nos sites www.sosma.org.br e www.inpe.br.

Mapa da Área da Aplicação da Lei 11.428

Desde sua quinta edição, de 2005-2008, o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica considera os limites do bioma Mata Atlântica tendo como base o Mapa da Área da Aplicação da Lei nº 11.428, de 2006. A utilização dos novos limites para os biomas brasileiros implicou na mudança da área total, da área de cada Estado, do total de municípios e da porcentagem de Mata Atlântica e de remanescentes em cada uma destas localidades.

A Mata Atlântica está distribuída ao longo da costa atlântica do país, atingindo áreas da Argentina e do Paraguai nas regiões sudeste e sul. De acordo com o Mapa da Área de Aplicação da Lei nº 11.428, a Mata Atlântica abrangia originalmente 1.315.460 km2 no território brasileiro. Seus limites originais contemplavam áreas em 17 Estados: PI, CE, RN, PE, PB, SE, AL, BA, ES, MG, GO, RJ, MS, SP, PR, SC e RS.

Histórico

O Atlas dos Remanescentes Florestais e Ecossistemas Associados do Bioma Mata Atlântica, desenvolvido pela Fundação SOS Mata Atlântica e o INPE, órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, representa um grande avanço na compreensão da situação em que se encontra a Mata Atlântica.

O primeiro mapeamento, publicado em 1990, com a participação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), teve o mérito de ser um trabalho inédito sobre a área original e a distribuição espacial dos remanescentes florestais da Mata Atlântica e tornou-se referência para pesquisa científica e para o movimento ambientalista. Foi desenvolvido em escala 1:1.000.000.

Em 1991, a SOS Mata Atlântica e o INPE deram início a um mapeamento em escala 1:250.000, analisando a ação humana sobre os remanescentes florestais e nas vegetações de mangue e de restinga entre 1985 a 1990. Publicado em 1992/93, o trabalho avaliou a situação da Mata Atlântica em dez Estados: Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que apresentavam a maior concentração de áreas preservadas. Os Estados do Nordeste não puderam ser avaliados pela dificuldade de obtenção de imagens de satélite sem cobertura de nuvens.

Um novo lançamento ocorreu em 1998, desta vez cobrindo o período de 1990-1995, com a digitalização dos limites das fisionomias vegetais da Mata Atlântica e de algumas Unidades de Conservação federais e estaduais, elaborada em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA).

Entre o período de 1995-2000, fez-se uso de imagens TM/Landsat 5 ou ETM+/Landsat 7 em formato digital, analisadas diretamente em tela de computador, permitindo a ampliação da escala de mapeamento para 1:50.000 e, consequentemente, a redução da área mínima mapeada para 10 ha. No levantamento anterior, foram avaliadas as áreas acima de 25 hectares. Os resultados revelaram novamente a situação da Mata Atlântica em 10 dos 17 Estados: a totalidade das áreas do bioma Mata Atlântica de Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul; e áreas parciais da Bahia.

Em 2004, a SOS Mata Atlântica e o INPE lançaram o Atlas dos Municípios da Mata Atlântica, de forma a fornecer instrumentos para o conhecimento, o monitoramento e o controle para atuação local. A partir desse estudo, cada cidadão pode ter fácil acesso aos mapas e atuar em favor da proteção e conservação deste conjunto de ecossistemas. O desenvolvimento da ferramenta de publicação dos mapas na internet foi realizado pela ArcPlan, utilizando tecnologia do MapServer (Universidade de Minnesota), com acesso nos portais www.sosma.org.br e www.dsr.inpe.br.

Ao final de 2004, as duas organizações iniciaram a atualização dos dados para o período de 2000 a 2005. Esta edição também foi marcada por aprimoramentos metodológicos e novamente foram revistos os critérios de mapeamento, dentre os quais se destaca a adoção do aplicativo ArcGis 9.0, que permitiu a visualização rápida e simplificada do território de cada Estado contido no bioma. Isto facilitou e deu maior segurança nos trabalhos de revisão e de articulação da interpretação entre os limites das cartas topográficas.

A quarta edição do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica apresentou dados atualizados em 13 Estados abrangidos pelo bioma (PE, AL, SE, BA, GO, MS, MG, ES, RJ, SP, PR, SC, RS). Um relatório mostrou a metodologia e os resultados quantitativos da situação dos remanescentes da Mata Atlântica desses Estados e os desflorestamentos ocorridos no período de 2000-2005. Essa fase manteve a escala 1:50.000, e passou a identificar áreas acima de três hectares e o relatório técnico, bem como as estatísticas e os mapas, imagens, fotos de campo, arquivos em formato vetorial e dados dos remanescentes florestais, por município, Estado, Unidade de Conservação, bacia hidrográfica e corredor de biodiversidade.

Em 2008, foram divulgados os números atualizados a partir de análises da 4ª edição do Atlas, incluindo os Estados de Bahia, Minas Gerais, Alagoas, Pernambuco e Sergipe, que, somados ao mapeamento dos Estados de Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, gerados pela ONG Sociedade Nordestina de Ecologia, totalizam 16 dos 17 Estados onde o bioma ocorre, ou 98% de Mata Atlântica.

Em 2009, a 5ª edição do Atlas trouxe os números do desmatamento com dados atualizados, até maio de 2009, em 10 Estados abrangidos pelo bioma (BA, GO, MS, MG, ES, RJ, SP, PR, SC, RS). Essa edição apresentou a metodologia e os resultados quantitativos da situação dos remanescentes da Mata Atlântica ocorridos nessas regiões no período de 2005-2008.

Em 2010, a sexta edição do estudo trouxe dados atualizados, até maio de 2010, de nove Estados abrangidos pelo bioma: GO, MS, MG, ES, RJ, SP, PR, SC, RS. O documento apresentou, sinteticamente, a metodologia atual, os mapas e as estatísticas globais e por Estado. O mapeamento utilizou imagens do satélite Landsat 5 que leva a bordo o sensor Thematic Mapper.

O levantamento de 2011, ano em que a Fundação SOS Mata Atlântica comemorou seu 25º aniversário, foi apresentado o estudo mais abrangente sobre os remanescentes da Mata Atlântica, com a situação de 16 dos 17 Estados, no período de 2008 a 2010. Da área total do bioma, 1.315.460 km2, foram avaliados 1.288.989 km2, o que corresponde a 98%.

 

http://www.ecodebate.com.br/2012/05/30/com-a-aprovacao-do-codigo-florestal-os-79-que-restam-de-mata-atlantica-podem-estar-ainda-mais-ameacados/

 

Com a aprovação do Código Florestal, os 7,9% que restam de Mata Atlântica podem estar ainda mais ameaçados

 

Novo Código Florestal poderá impactar nas ações de reflorestamento do bioma da Mata Atlântica – Com a aprovação do novo Código Florestal, os 7,9% que restam de Mata Atlântica no Brasil podem estar ainda mais ameaçados. Esta foi a avaliação feita pela Fundação SOS Mata Atlântica durante a divulgação do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, que mostra as alterações no bioma no período de maio de 2010 a maio de 2011. De acordo com o estudo, o Brasil perdeu mais de 13 mil hectares de sua Mata Atlântica em apenas um ano. Segundo a fundação, o novo código pode provocar diminuição nas ações de reflorestamento.

“O novo código altera a obrigatoriedade da regeneração de determinadas áreas e esse estudo vai nos ajudar a avaliar os reais impactos do Código Florestal”, disse Márcia Hirota, coordenadora do atlas, que foi produzido em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Segundo a coordenadora, estão sendo feitos novos levantamentos para incluir no documento dados sobre matas ciliares e de várzea, que irão formar um “marco zero” do momento que antecede a implantação da nova lei. Os dados complementares devem estar prontos em agosto deste ano.

O Atlas, que teve sua primeira edição em 1990, mostra uma redução dos níveis de desmatamento ao longo de 25 anos. No período de 1985 a 1990, a média anual era de cerca de 93 mil hectares desvatados. Em 2010, o volume foi de 13 mil hectares. “Apesar da diminuição do volume, o desmatamento não deixou de acontecer e nos fez chegar a marca de apenas 7,9% de remanescentes florestais”, disse Hirota. Segundo a fundação, a Mata Atlântica é o bioma mais ameaçado do Brasil.

Foram pesquisados dez dos 17 estados que formam o bioma, os quais representam 93% da Mata Atlântica do país. Minas Gerais e Bahia são os estados que mais desmataram, com 6.339 e 4.493 hectares, respectivamente. “No estado de Minas Gerais, as florestas nativas estão sendo transformadas em carvão e substituídas por eucalipto”, disse a coordenadora do estudo.

Os estados com menos áreas desmatadas (em hectares) são Goiás, com 33; Paraná, com 71; e Rio de Janeiro, com 92. “Destacamos o Rio de Janeiro, pois o estado já liderou a lista dos maiores devastadores em análises anteriores e, nos últimos anos, temos verificado um ocorrência menor de desmatamento”, avaliou Hirota. O Rio de Janeiro possui, atualmente, 19,59% de sua Mata Atlântica preservada.

Nesta edição, o estudo delimitou a área pertencente aos municípios como forma de permitir uma melhor atuação das entidades e organizações municipais. “É importante que os municípios sigam o que diz a Lei da Mata Atlântica e criem seus Planos Municipais de Conservação e Recuperação do bioma”, ressaltou Mario Mantonvani, diretor de políticas públicas da SOS Mata Atlântica. As cidades mineiras de Águas Vermelhas e Jequitinhonha estão entre os piores resultados, com devastação de 1.367 e 1.270, respectivamente.

Reportagem de Camila Maciel, da Agência Brasil.