Financiamento coletivo online visa captar recursos para apoiar as ações do povo que habita a bacia do Tapajós contra projeto do governo que destruirá suas terras. Desde que o governo brasileiro intensificou a empreitada para implantar o complexo hidrelétrico do rio Tapajós, no norte do País, os índios Munduruku, uma das populações mais diretamente afetadas pelo projeto, também passaram a lutar mais intensamente pelos seus direitos e pela preservação de seu território e seu modo de vida.
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Juarez, cacique de Sawré Muybu, a mais afetada das terras Munduruku (©Greenpeace/Gabriel Bicho)
A reportagem é de
e publicada pelo portal do Greenpeace, 19-01-2015.Desde que o governo brasileiro intensificou a empreitada para implantar o complexo hidrelétrico do rio Tapajós, no norte do País, os índios Munduruku, uma das populações mais diretamente afetadas pelo projeto, também passaram a lutar mais intensamente pelos seus direitos e pela preservação de seu território e seu modo de vida. Visando prioritariamente o apoio ao processo de auto-demarcação da Terra Indígena Sawré Muybu, no oeste do Pará, iniciado em outubro passado, Munduruku lançaram uma campanha de financiamento coletivo que têm como meta final arrecadar um total de 18 mil dólares.
Mobilizados, os mais de 12 mil indígenas Munduruku que vivem nessa região têm direcionado seus esforços na iniciativa autônoma de demarcação da TI, que espera 13 anos pela demarcação oficial. Caso o complexo seja realmente instalado, a Hidrelétrica São Luiz do Tapajós, a primeira usina a ser construída, alagará o território DAJE KAPAP EYPI, como os Munduruku chamam aquela terra. Os recursos captados com a campanha serão destinados a ajudar nos gastos com transporte e alimentação de 30 indígenas até lá.
O financiamento coletivo também conta com outros dois objetivos prioritários: legalizar duas associações Munduruku – a “Da’uk” e “Pahyhyp” – de modo que elas possam se articular com maior autonomia; e traduzir e dublar o documentário “Índios Munduruku: Tecendo a Resistência” e o acervo de vídeos do “Amazônia em Chamas” para a língua Munduruku, além da distribuição deste material como estratégia de comunicação. Foi colocada ainda uma meta adicional de dar início à construção de um portal online para alocar toda a produção de conteúdo sobe a luta do povo Munduruku.
Aos apoiadores da campanha, os guerreiros e guerreiras Munduruku retribuirão com colares tradicionais produzidos pelas associações “Da’uk” e “Pahyhyp”, além de outros brindes personalizados confeccionados nas aldeias Munduruku.
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História recente de luta
A implantação do complexo do Tapajós fere um direito inalienável garantido na Constituição Federal e também pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT): o direito à consulta livre, prévia e informada aos povos indígenas sobre quaisquer empreendimentos e ações que impactem diretamente seus territórios. Tal consulta até hoje não foi plenamente realizada pelo governo federal.
Visando um procedimento claro e abrangente, cerca de 600 representantes da etnia e mais de cem caciques de todas as aldeias da região aprovaram, durante Assembleia Extraordinária do Povo Munduruku, no início de dezembro, um protocolo para orientar o processo. A construção do protocolo foi resultado de um largo ciclo de conversas e articulações entre as lideranças, Ministério Público Federal e ONG’s a partir do projeto “Consulta prévia, livre e informada: um direito dos povos indígenas e comunidades tradicionais da Amazônia”, documentado em vídeo.
Mais recentemente, os Munduruku levaram suas reivindicações também para a Conferência das Partes sobre Mudança do Clima, a COP20, realizada em Lima, no Peru. Lá, eles protestaram contra a construção das hidrelétricas no Tapajós durante a marcha organizada pela Cúpula dos Povos.