Guia sobre disruptores endócrinos é publicado em português

Produtos De Limpeza

Limpeza? Do quê? De nossos hormônios?

https://portugues.medscape.com/verartigo/6503989

[NOTA DO SITE: Incrível! Estão fazendo exatamente 30 anos que este tema é trazido para o conhecimento de todo o planeta sobre estes Diruptores Endócrinos. Através de um texto da ONG Greenpeace, tomamos conhecimento de que a cientista argentina Ana Soto que mora, até hoje nos EUA, e pesquisadora da Universidade de Tufts, em Boston, sua contatação de que existiam moléculas, jamais imaginável, que atuavam como estrogênio, hormônio feminizante que feminiza os machos e gera doenças nas fêmeas. Mas hoje este conteúdo está disponível. Leiam!).

Teresa Santos (colaborou Dra. Ilana Polistchuck)

17 de setembro de 2019

Em agosto deste ano foi lançada a versão traduzida para o português do documento Introdução aos disruptores endócrinos (DEs): Um guia para governos e organizações de interesse público (nota do site: texto do guia completo em PDF), uma iniciativa conjunta da Endocrine Society e da organização não governamental IPEN. [1]

A tradução e a revisão técnica foram assinadas pelo Dr. Cesar Boguszewski, endocrinologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), e o documento foi publicado durante o Congresso Brasileiro de Atualização em Endocrinologia e Metabologia (CBAEM), realizado em Florianópolis, Santa Catarina.

Segundo o Dr. Cesar, o objetivo é alertar os médicos, em particular os endocrinologistas, mas também os demais profissionais de saúde, as autoridades e o público em geral sobre os potenciais efeitos tóxicos dos disruptores endócrinos.

Em entrevista, o médico e tradutor falou ao Medscape sobre o guia.

Publicado originalmente em inglês, em 2014, atualmente o documento tem versões em francês, espanhol, russo, árabe e português, e trata de substância ou compostos químicos exógenos que interferem com qualquer aspecto da ação hormonal.

A publicação aborda vários disruptores endócrinos, entre eles, os relacionados com fertilizantes e agrotóxicos usados na agricultura – como o diclorodifeniltricloroetano (DDT) – e aqueles encontrados em materiais plásticos e derivados do petróleo – como o bisfenol A (BPA, sigla do inglês, bisphenol A) e os ftalatos. Para o Dr. Cesar, esses disruptores endócrinos são os que mais preocupam no momento: “Há uma grande gama de publicações médicas e científicas mostrando a relação de causa e efeito desses produtos com diversos problemas, principalmente em alguns períodos críticos, como a gestação e a infância. Eles também estão relacionados com problemas na vida adulta, como obesidade, diabetes tipo 2, câncer, distúrbios no aparelho reprodutivo (inclusive infertilidade) e distúrbios da puberdade”, alertou.

O guia aponta o tributilestanho (TBT) e o trifenilestanho (TPT) como os obesogênicos mais estudados até o momento. [2] Os obesogênicos podem atuar por meio dos receptores hormonais chamados proliferadores de peroxissoma tipo gama (PPARγ) [3], e a partir da perturbação da função do hormônio da tireoide. Já miomas uterinos, disfunção ovariana e subfertilidade vêm sendo associados a compostos estrogênicos. Há um estudo mostrando, por exemplo, que, entre mulheres dinamarquesas abaixo dos 40 anos de idade, aquelas que trabalham na indústria de plástico são mais propensas a procurar assistência por problemas de fertilidade do que as não expostas. [4] Além disso, ftalatos e outros produtos químicos têm sido relacionados com eventos adversos nos órgãos urogenitais masculinos, tal como criptorquidia, hipospadia, doença da próstata e câncer testicular. [5]

Embora o BPA tenha sido banido da composição de mamadeiras em muitos países, inclusive no Brasil, ainda está presente em vários recipientes de alimentos, como plásticos duros e rígidos, e revestindo o interior de enlatados. Os ftalatos, por sua vez, pertencem à classe de plastificantes usados para amaciar o policloreto de vinila (PVC, sigla do inglês, P olyvinyl chloride), adicionar fragrância a produtos ou aumentar a flexibilidade de plásticos e outros materiais. Eles estão presentes em produtos de higiene pessoal, como xampus e esmaltes, e também em brinquedos, peças de automóveis, equipamentos hospitalares (tubos, bolsas de sangue e plásticos utilizados nas unidades de terapia intensiva), materiais de construção, revestimentos entéricos farmacêuticos, materiais para artesanato e produtos aromatizados, como velas, detergentes e desodorizadores.

O DDT, um inseticida organoclorado, foi muito usado entre 1940 e 1960 em todo o mundo, mas, a partir da década de 70, passou a ser proibido em vários lugares, devido à sua toxicidade. No Brasil, fabricação, importação, exportação, armazenamento, comercialização e uso foram proibidos em 2009, mas, como indica o documento, ainda é usado em algumas regiões do mundo para controle de pragas, por exemplo, na África e na Índia, e também de forma ilegal na agricultura em outras regiões.

O grande desafio, segundo o Dr. Cesar, é alertar a população e as autoridades que a exposição a pequenas quantidades dessas substâncias durante um longo período tem um efeito tóxico preocupante: “A exposição a grandes quantidades evidentemente causa problemas, mas precisamos alertar que ser exposto por longos períodos a pequenas quantidades dessas substâncias também pode provocar grandes alterações”, disse, lembrando que “os danos têm sido evidenciados tanto em estudos na natureza como em modelos animais e em pesquisas em humanos.”

A exposição durante períodos críticos do desenvolvimento do organismo, como a gestação e a infância, também pode ter um impacto importante: “A exposição, mesmo em quantidades pequenas, a esses produtos pode levar a alterações genéticas e epigenéticas que vão comprometer a saúde do indivíduo ao longo de vida”, destacou o médico.

A intenção, disse o endocrinologista, é que esses alertas possibilitem a adoção de medidas eficazes para controlar o uso de produtos que contêm disruptores endócrinos e evitar os que sabidamente são tóxicos. “É um alerta para que possamos substituir produtos de uso comum, optando pelos menos tóxicos em vez dos mais tóxicos. Substituir plástico por vidro, por exemplo, já diminui bastante o risco, assim como usar agrotóxicos menos nocivos. Inclusive, alguns já são proibidos em muitos países, mas ainda são utilizados principalmente em países pouco desenvolvidos ou em desenvolvimento”, afirmou.