
Ilustração da Mother Jones; Chip Somodevilla/Getty, Zach D Roberts/NurPhoto/Getty
Abby Vesoulis
01 nov 2025
[Nota do Website: Notícia que mostra nas mãos de quem o povo norte americano está. Se Trump está baseado, nessa sua nova gestão, no Projeto 2025 da Heritage Foundation, pode se ver quem faz os verdadeiros bastidores de sua gestão. A extrema direita representada efetivamente por essa fundação e no governo Trump, é importante vermos como essa realidade se espraia pelo Brasil com os adeptos do bolsonarismo e seus asseclas. Olho vivo e muita informação é fundamental para não permitirmos que essa visão de mundo, totalmente paranoica, não respingue entre nós].
No início desta semana, Tucker Carlson recebeu o proeminente nacionalista branco Nick Fuentes em seu podcast em vídeo.
Conforme minha colega Kiera Butler descreveu a conversa: Fuentes “defendeu a importância de os americanos ‘serem pró-brancos’, elogiou o brutal ditador soviético Josef Stalin e lamentou o problema do ‘judaísmo organizado na América’”.
Grande parte da conversa amigável entre eles envolveu críticas aos republicanos que apoiam o sionismo cristão — a crença, entre alguns evangélicos, de que os cristãos devem apoiar o Estado de Israel. Carlson disse que sionistas cristãos republicanos, como o senador do Texas Ted Cruz e o embaixador dos EUA em Israel, Mike Huckabee, foram “tomados por esse vírus cerebral”.
“Eu os detesto mais do que qualquer outra pessoa”, acrescentou Carlson.
Butler escreveu extensivamente sobre o sionismo cristão e como, em sua essência, o movimento não abraça a adesão ao judaísmo: Muitos sionistas cristãos estão convencidos de que, após a chegada do Messias, os judeus se converterão em massa ao cristianismo; em muitas versões, aqueles que não se converterem perecerão.
Mas essa não foi a razão pela qual Carlson e Fuentes repudiaram o sionismo cristão. Pelo contrário, Fuentes tem defendido rotineiramente visões antissemitas, chegando a expressar descrença no Holocausto.
“Seis milhões de biscoitos? Não acredito”, disse ele em 2019, por exemplo, comparando os produtos de confeitaria aos seis milhões de judeus mortos pelos nazistas. Em 2022, Fuentes afirmou que tudo o que queria era “vingança contra meus inimigos e uma vitória ariana total”.
Mas talvez tão surpreendente quanto as crenças de Fuentes, ou o fato de Carlson ter lhe dado uma plataforma enorme para compartilhá-las, tenha sido que o presidente da Heritage Foundation, Kevin Roberts, postou seu próprio vídeo mais tarde naquela semana no canal X, apoiando sem reservas a decisão de Carlson de convidar Fuentes para o programa.
Com a divisão entre os conservadores em relação à aparição de Fuentes, Roberts descreveu os críticos como uma “coalizão venenosa” cuja “tentativa de cancelar [Carlson] fracassará”.
“Os conservadores não devem se sentir obrigados a apoiar automaticamente qualquer governo estrangeiro, não importa o quão forte seja a pressão da classe globalista ou de seus porta-vozes em Washington”, disse Roberts, cuja organização publicou o Projeto 2025, uma espécie de plano para o segundo mandato de Trump na Casa Branca. (A isso, o ex-líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, respondeu: “Até onde eu sei, ‘os conservadores não devem se sentir obrigados’ a defenderem antissemitas e apologistas de autocratas que odeiam os Estados Unidos.”)
Carlson “sempre será um amigo próximo da Heritage Foundation”, concluiu Roberts em sua veemente defesa.
A resposta de Roberts apenas aprofundou a divisão na direita em relação à entrevista de Fuentes-Carlson. “Ficar do lado de Hitler e Stalin em vez de Churchill não é conservador nem coerente, não importa o que Tucker afirme”, escreveu a autora conservadora Bethany Mandel no X. “Ao decidir ficar do lado dele, Kevin Roberts alterou os alicerces sobre os quais a Heritage Foundation foi construída.”
A enxurrada de comentários negativos levou Roberts a esclarecer suas opiniões sobre Fuentes com uma postagem no Google na tarde de sexta-feira: “[A] Heritage Foundation e eu denunciamos e nos opomos à sua ideologia antissemita perversa, à sua negação do Holocausto e às suas implacáveis teorias da conspiração que ecoam os capítulos mais sombrios da história”, disse Roberts, antes de fazer questão de ressaltar que o antissemitismo também “floresceu na esquerda”.
Mas não é tão fácil voltar atrás. Na manhã de sábado, o vídeo de Roberts em apoio à controversa entrevista de Carlson-Fuentes tinha muito mais visualizações (15,9 milhões) do que a própria entrevista original (4,7 milhões).
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, novembro de 2025