
https://www.washingtonpost.com/climate-environment/interactive/2025/meat-beef-climate-impact
21 out 2025
[Nota do Website: Importante material para nos informar como a nossa individualidade do presente não pode ignorar a coletividade do futuro. Mesmo que um dos citados não considere ‘as mudanças climáticas uma prioridade máxima’, não podemos como cidadãos transferir essa prioridade para os governos, as corporações e os industriais. Eles só existem e fazem o que fazem como tal em função da nossa ação pessoal como consumidores. Sim, deve ser prioridade máxima para cada um e todos os agentes sociais de hoje para um mundo saudável para quem vier depois de nós. Esse é o nosso ponto de vista!].
Pesquisadores têm documentado há anos que o consumo de carne bovina, suína e de frango tem um impacto ambiental significativo, especialmente no que diz respeito ao aquecimento do planeta.
Mas o impacto está longe de ser uniforme. O que você come e onde você come pode ter um grande efeito sobre o quanto você contribui para as mudanças climáticas, de acordo com um estudo publicado na segunda-feira no periódico Nature Climate Change.
Pela primeira vez, pesquisadores calcularam a poluição que causa o aquecimento global, emitida pela criação de gado, porcos e frangos que os americanos consomem — sua “pegada de carbono” — para praticamente todas as cidades do país. Devido à disponibilidade de dados, o modelo excluiu o Alasca, o Havaí e Porto Rico da análise.
Em todo o país, o consumo de carne bovina é o maior contribuinte para a emissão de poluentes nocivos. Mas não é tão simples assim. A origem da carne importa. Comer um bife ou um hambúrguer em Milwaukee, onde a carne provém de vacas leiteiras criadas nas proximidades, gera menos emissões do que em Oklahoma City, onde a carne bovina geralmente vem de confinamentos.
Alguns pecuaristas perto de McAllen, no Texas, armazenam esterco bovino em lagoas abertas que liberam metano (nt.: por que não construírem biodigestores para o uso do gás metano? Estupidez ou irresponsabilidade negacionista?), um potente gás de efeito estufa, na atmosfera. E o gado criado em pastagens no Kansas e em Nebraska gera mais emissões do que outros tipos de gado, já que leva mais tempo para ganhar peso em comparação com o gado criado em confinamento.
“Pegada de casco” em cidades dos EUA
Emissões provenientes do consumo de carne (kg CO₂ eq/per capita)

<800 1,2 mil +1,5 mil 1 mil
As duas setas à direita que indicam, para esquerda a região de Chicago e da direita à região de Washington-DC e Filadélfia, indicam menores emissões de vacas leiteiras.

Já a seta abaixo da esquerda, foca região entre São Francisco e Los Angeles com menores emissões de fornecimento de carne bovina dentro de estado. E a seta no centro abaixo, na fronteira com o México, indica emissões mais elevadas pelos confinamentos.
Joshua Newell, um dos coautores do artigo e professor de meio ambiente e sustentabilidade na Universidade de Michigan, ajudou a cunhar o termo “pegada ecológica” há mais de 15 anos, quando era estudante de pós-doutorado na Universidade do Sul da Califórnia. O objetivo, segundo ele, era “introduzir a alimentação na discussão sobre o que torna uma cidade sustentável”, para ampliar o debate sobre a redução das emissões de carbono.
É provável que muitos americanos continuem consumindo carne, mesmo que a carne bovina tenha ficado mais cara nos últimos meses. Ainda assim, o novo estudo oferece um roteiro para determinar o impacto climático da sua dieta, incluindo o que você pode fazer se viver em um local onde ela tem um impacto ambiental maior.
Onde as pegadas são maiores?
Você consegue adivinhar quais são as três cidades que mais emitem poluentes nesta análise? Dica: são as que têm a maior população: Nova York, Los Angeles e Chicago. No entanto, ao ajustar os dados para emissões per capita, os pesquisadores descobriram pouca relação entre o consumo de alimentos em uma cidade e seu impacto climático.
Uma nova análise feita por cientistas da Universidade de Michigan e da Universidade de Minnesota mostra que essas emissões variam dependendo de onde as cidades obtêm sua carne. Os pesquisadores modelaram os poluentes liberados em cada etapa da cadeia de suprimentos, desde o que é necessário para obter ração para os animais até o impacto climático da criação e do abate. Isso permitiu que eles estimassem a pegada ecológica de mais de 3.000 cidades.
Qual é a pegada de carbono da minha cidade?
Washington/DC; Virgínia/Maryland
Por exemplo, em Washington, D.C., as pessoas emitem , em média, 931 kgCO₂ equivalente por ano ao consumirem 80 kg de carne per capita. O consumo de carne está acima da média nacional, enquanto as emissões per capita estão abaixo da média nacional.
(Nota da tradução: para se saber as outras cidades dos EUA, consultar o texto original do Washington Post – https://www.washingtonpost.com/climate-environment/interactive/2025/meat-beef-climate-impact/)
O que faz com que a pegada fique visível?
Em média, 73% da pegada ecológica de cada cidade se deve à criação de gado bovino. Além de ser mais popular, a produção de carne bovina gera muito mais poluição que contribui para o aquecimento global em comparação com a criação de suínos e galinhas. No entanto, a criação de gado em confinamento pode ser mais eficiente em termos energéticos, apesar de seus outros custos ambientais e éticos. E o tipo de ração que uma fazenda utiliza e a forma como gerencia os resíduos podem influenciar positivamente as emissões desses animais.
A distância percorrida pela ração do gado, assim como a distância que as vacas percorrem até o abate, também é importante, já que isso pode envolver milhares de quilômetros.
Newell, no entanto, disse que o transporte representa “uma pequena parte do impacto total”.
Mario Herrero, diretor do programa Sistemas Alimentares e Mudanças Globais da Universidade Cornell — um grupo interdisciplinar de acadêmicos e empreendedores que trabalham com sistemas alimentares sustentáveis — e que não participou do estudo, afirmou ser significativo que ele tenha constatado que o consumo de carne em algumas cidades era três vezes maior do que em outras.
Ben Goldstein, um dos autores do estudo e professor assistente de meio ambiente e sustentabilidade na Universidade de Michigan, disse em entrevista que, quando se trata de emissões de gases de efeito estufa, “a carne bovina ainda é a principal culpada”, independentemente de como é produzida.
Mary-Thomas Hart, conselheira jurídica da Associação Nacional de Pecuaristas de Carne Bovina (National Cattlemen’s Beef Association), afirmou que as conclusões sobre as diferenças nas emissões ao longo da cadeia de suprimentos da carne bovina não foram surpreendentes. Hart enfatizou que, em comparação com outros países, os Estados Unidos têm a menor intensidade de emissões por quilo de carne bovina, citando os esforços para reduzir os gases de efeito estufa por meio de melhorias no pastoreio e no manejo da alimentação animal.
O que está em jogo?
A poluição proveniente apenas da dieta de carne bovina, frango e porco dos EUA é equivalente à poluição de outros países.
Compreender a complexidade do sistema alimentar é fundamental para reduzir a poluição de carbono nas cidades.
Identificar os impactos da cadeia de suprimentos na pegada ecológica pode informar governos e produtores de carnívoros sobre como reduzir seu impacto ambiental.
O que diminui a pegada?
“Você não precisa eliminar nenhum tipo específico de carne para ter mudanças realmente significativas na sua pegada ecológica”, disse Goldstein, acrescentando que substituir metade da carne bovina que você come por outras proteínas já pode fazer diferença. Os pesquisadores modelaram os impactos nas emissões a partir de mudanças simples no estilo de vida que podem resultar em uma redução de até 51% na pegada ecológica de uma pessoa.
Alternativas para reduzir a pegada de carbono
Redução das emissões equivalentes de CO₂
Troque metade da carne bovina por frango – 33%
Reduza o desperdício de alimentos pela metade – 16%
Segundas-feiras sem carne – 14%
impacto combinado – 51%
“O americano médio come cinco porções de carne bovina por semana”, disse Goldstein. “Então, tudo bem, você ainda pode comer dois hambúrgueres por semana.” Goldstein não é vegetariano, disse ele, e come hambúrguer de vez em quando.
“Se você é tão fã de carne bovina”, disse Goldstein, “mude-se para o Meio-Oeste Superior… vá comer o gado leiteiro descartado, que tem menores emissões de carbono.”
No fim das contas, a cadeia de suprimentos determina o tamanho da pegada ecológica de uma cidade. Pesquisas mostram que essa pegada poderia ser reduzida em 30% por meio de mudanças na dieta do gado, nas práticas de pastoreio e nos confinamentos. Tais mudanças poderiam reduzir em 20 milhões de toneladas métricas de dióxido de carbono por ano e impedir que outras 58 milhões de toneladas métricas fossem lançadas na atmosfera anualmente: juntas, essas medidas equivalem a retirar 18 milhões de carros das ruas.
E mesmo que combater as mudanças climáticas não seja uma prioridade máxima, disse Goldstein, o aumento dos preços dos alimentos oferece mais um motivo para reduzir o consumo de carne bovina.
“Comer frango, carne de porco ou tofu é mais econômico”, disse ele. “É uma maneira eficaz de reduzir sua pegada de carbono, diminuir seus gastos com supermercado e melhorar sua saúde.”
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, outubro de 2025