Globalização: Jair Bolsonaro, acusado de planejar golpe, não está no julgamento

Os participantes assistiram enquanto o juiz Alexandre de Moraes lia as acusações durante a sessão de abertura do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal, em Brasília, na terça-feira. Crédito: Dado Galdieri para o The New York Times

https://www.nytimes.com/2025/09/02/world/americas/bolsonaro-trial-brazil.html

Ana Ionova

02 set 2025

[Nota do Website: Momento histórico que reabilita o nosso país depois da chaga da impunidade da ditatura militar de 64. Essa matéria do New York Times mostra para os norte americanos e para seu atual governo, o que está acontecendo por aqui. E assim reafirma a matéria da semana passada da mídia inglesa, “The Economist“, quando afirma que o Brasil está dando uma aula para as atuais ‘democracias’ do ocidente e dentre elas, os EUA com Trump].

O Supremo Tribunal Federal (STF) começou a julgar o caso contra o ex-presidente, que não compareceu ao julgamento por motivos de saúde debilitada, informou sua defesa.

O Supremo Tribunal Federal (STF) começou a analisar na terça-feira o caso contra Jair Bolsonaro, o ex-presidente acusado de planejar um golpe após perder a eleição de 2022, dando início a um julgamento que levará anos e que representará um grande teste para a democracia do país.

Mas o próprio Sr. Bolsonaro não estava lá.

Ele não compareceu ao tribunal devido a problemas de saúde, informou sua equipe de defesa a repórteres do lado de fora do tribunal. Antes do julgamento, um de seus filhos contou a um site de notícias brasileiro que Bolsonaro sofria de soluços debilitantes, que o ex-presidente atribui a complicações de um ataque a faca durante a campanha eleitoral em 2018.

Bolsonaro, de 70 anos, está em prisão domiciliar, usando tornozeleira eletrônica, há semanas. Então, no fim de semana, as autoridades brasileiras reforçaram as medidas de segurança , posicionando policiais ao redor de sua casa, em meio a preocupações de que ele possa tentar fugir e possivelmente buscar refúgio na Embaixada dos EUA perto de sua residência.

Os promotores acusam o Sr. Bolsonaro e sete membros de seu círculo íntimo de supervisionar uma vasta conspiração para se agarrar ao poder após sua derrota nas urnas em 2022, buscando anular os resultados, tentando alistar os militares em sua conspiração e elaborando planos para envenenar o rival do Sr. Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva, que agora é o presidente do Brasil.

O Sr. Bolsonaro e os outros réus enfrentam acusações criminais, incluindo “abolição violenta do Estado democrático de direito” e “golpe de Estado”. Se considerado culpado, o Sr. Bolsonaro pode ser condenado a mais de 40 anos de prisão.

Bolsonaro nega ter planejado um golpe ou assassinado Lula, mas, em depoimento pré-julgamento em junho, afirmou ao tribunal que havia “estudado maneiras dentro da Constituição” para permanecer no poder após sua derrota eleitoral. A maioria dos analistas, apontando para um acervo de evidências , espera que a maioria dos cinco membros do Supremo Tribunal Federal condene Bolsonaro.

Em sua declaração de abertura, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que está supervisionando o caso, disse que a “impunidade” para os envolvidos na trama não era uma opção.

O processo começou na terça-feira, em meio a um reforço na segurança em torno do Supremo Tribunal Federal, em Brasília. Cães treinados para farejar explosivos varreram o prédio, e a polícia utilizou um drone para monitorar a área.

Lá dentro, policiais montavam guarda nos corredores e dentro da pequena sala de audiências onde os ministros do Supremo Tribunal Federal deliberavam sobre o caso. Equipes de segurança encarregadas de proteger os ministros estavam em alerta máximo, e planos de emergência para evacuações, se necessário, já haviam sido elaborados, segundo autoridades brasileiras.

Jornalistas e advogados dos réus lotaram a sala, mas apenas um dos acusados ​​compareceu ao tribunal. Membros do público assistiram a uma transmissão ao vivo do processo em um tribunal vizinho.

Do outro lado da cidade, em frente ao condomínio fechado de luxo onde vive o Sr. Bolsonaro, um pequeno grupo de manifestantes se reuniu carregando uma grande faixa pedindo a prisão do Sr. Bolsonaro e um boneco inflável de 3 metros do ex-presidente, vestido com um uniforme listrado de presidiário preto e branco.

Na terça-feira, o clima em Brasília estava calmo e as áreas ao redor dos prédios do governo, cercadas por barricadas, estavam praticamente desertas. No entanto, as autoridades se preparavam para possíveis distúrbios nos próximos dias, enquanto os apoiadores de Bolsonaro planejam protestos em todo o país no domingo, dia da Independência do Brasil.

O julgamento é a etapa final de um processo que já dura meses. Nas sessões pré-julgamento, os juízes já ouviram depoimentos de mais de 50 pessoas, incluindo testemunhas e todos os réus. A fase final está programada para ocorrer nas próximas duas semanas, com um veredito e uma possível sentença previstos para 12 de setembro.

No Brasil, que viveu uma ditadura militar brutal de 1964 a 1985, o processo criminal de um presidente e seus poderosos aliados militares é visto por muitos como uma vitória da democracia.

Mas o julgamento também desencadeou uma crise diplomática entre as duas nações mais populosas do Hemisfério Ocidental, já que o presidente Trump ajudou o Sr. Bolsonaro, seu aliado político, e tentou intimidar o Brasil a desistir do caso.

Em julho, Trump ameaçou o Brasil com tarifas, exigindo o fim do que chamou de “caça às bruxas” contra Bolsonaro. Ele cumpriu a promessa, impondo tarifas de 50% ao Brasil e aplicando sanções ao ministro Moraes.

Um de seus filhos também tem feito lobby agressivo na Casa Branca para ajudar seu pai.

Durante o discurso de abertura de terça-feira, o juiz Moraes condenou as tentativas do Sr. Bolsonaro e de seu filho de buscar a intervenção do Sr. Trump, chamando suas ações de covardes e traiçoeiras.

“Essa coerção, essa tentativa de obstrução”, disse ele, “não afetará a imparcialidade e a independência dos juízes deste Supremo Tribunal”.

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, setembro de 2025

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