
https://www.washingtonpost.com/politics/interactive/2025/billionaires-politics-money-influence
Beth Reinhard, Naftali Bendavid, Clara Ence Morse e Aaron Schaffer
21 nov 2025
[Nota do Website: Material importante de um jornal norte americano convencional onde mostra, sem restrições, quem realmente está dominando a política dos EUA. É fundamental observar-se as falas dos oligarcas para se ter noção da visão de mundo e da humanidade que esses senhores do poder têm sobre tudo e todos. E o presidente é o maior representante dessa ideologia que está intimamente ligada ao fundamentalismo doutrinário da Heritage Foundation com seu Projeto 2025. Mas novos ares se mostram com a eleição do novo prefeito de New York. Sempre há esperança de novos dias. Temos que acreditar que o ‘futuro’ ainda não está completamente ‘roubado’].
A concentração de riqueza entre os americanos mais ricos é algo sem precedentes na história — assim como a influência dos bilionários na política.
O bilionário nova-iorquino John Catsimatidis está envolvido na política há muito tempo. Mas, no ano passado, o magnata republicano do setor imobiliário e do petróleo doou mais dinheiro do que nunca — US$ 2,4 milhões para apoiar Donald Trump e os republicanos no Congresso, quase o dobro do que doou em 2016.
Catsimatidis afirmou sentir uma crescente urgência em tentar influenciar o rumo da política americana, dada a grande divergência entre os dois partidos.
“Se você é bilionário, quer continuar sendo bilionário”, disse Catsimatidis, cuja fortuna é estimada em US$ 4,5 bilhões. Não se trata apenas de sua própria riqueza, acrescentou, dizendo ainda: “Me preocupo com os Estados Unidos e com o estilo de vida que temos”.
Numa era marcada por grandes divisões políticas e pela enorme acumulação de riqueza pelos americanos mais ricos, os bilionários estão gastando quantias sem precedentes na política dos EUA. Dezenas deles aumentaram suas doações políticas nos últimos anos, levando a um aumento recorde de doações dos ultrarricos em 2024. Desde 2000, as doações políticas dos 100 americanos mais ricos para eleições federais aumentaram quase 140 vezes, superando em muito o crescimento dos custos de campanha, segundo uma análise do Washington Post.
Em 2000, as 100 pessoas mais ricas do país doaram cerca de 0,25% do custo total das eleições federais, segundo uma análise do Washington Post com base em dados da OpenSecrets. Em 2024, esse percentual subiu para cerca de 7,5%, mesmo com o aumento exorbitante dos custos eleitorais. Em outras palavras, aproximadamente 1 em cada 13 dólares gastos nas eleições nacionais do ano passado foi doado por um pequeno grupo das pessoas mais ricas do país.
- Os 100 americanos mais ricos gastaram, em média, 21 milhões de dólares em eleições federais entre 2000 e 2010.
- Decisões judiciais de 2010 permitiram gastos ilimitados por sindicatos e empresas, e criaram os super PACs/Political Action Committees.
- Ao longo da última década, os gastos desses bilionários aumentaram de forma constante — até 2024, quando cresceram rapidamente, ultrapassando a marca de US$ 1 bilhão.
Ao longo do último quarto de século, mudanças políticas, jurídicas e econômicas remodelaram a relação entre riqueza e poder político nos Estados Unidos. Economistas afirmam que a riqueza está agora mais concentrada no topo da pirâmide social do que em qualquer outro momento desde a Era Dourada. As revoluções tecnológicas e de mercado das últimas décadas criaram riquezas em uma escala sem precedentes. Mudanças nas normas de remuneração de executivos e políticas de redução de impostos sob administrações republicanas e democratas ajudaram a proteger essas fortunas. E em três decisões históricas, começando com o caso Citizens United vs. FEC em 2010, os tribunais federais enfraqueceram as restrições de financiamento de campanhas eleitorais impostas após o escândalo de Watergate, abrindo caminho para que doadores contribuam com quantias ilimitadas para as eleições.
Como resultado, os políticos americanos dependem mais do que nunca da generosidade da classe bilionária, conferindo a uma parcela de apenas 0,4% dos americanos uma influência extraordinária sobre quais políticos e políticas terão sucesso. Cientistas políticos e especialistas em financiamento de campanhas também afirmam que o dinheiro em larga escala está elevando os custos das campanhas e corroendo a confiança pública na democracia americana.
Na corrida para o Senado do Arizona em 2022, por exemplo, o bilionário investidor de capital de risco Peter Thiel ajudou um amigo e ex-funcionário, o novato na política Blake Masters, a vencer uma disputa primária republicana acirrada contra o então procurador-geral do estado e um milionário que financiava sua própria campanha, investindo US$ 15 milhões em um super PAC para apoiá-lo. O consultor político de Masters, Chad Willems, lembrou-se de ter visto o primeiro anúncio de ataque financiado por um super PAC contra um rival.
“Fiquei encantado. Essa é uma resposta sincera”, disse Willems, embora tenha acrescentado que a derrota de Masters para o senador democrata Mark Kelly, que contava com amplo financiamento, demonstra que o apoio de um bilionário não garante o sucesso. “As coisas ficaram muito mais caras, e por isso você depende muito mais de arrecadação de fundos.”
A ex-representante Cheri Bustos (Illinois), que chefiou o braço de campanha dos democratas na Câmara durante o ciclo eleitoral de 2020, afirmou que o dinheiro de um indivíduo — ou a capacidade de arrecadá-lo — é um fator importante quando os partidos buscam candidatos para cargos públicos.
“Parte do que você analisa ao recrutar é a capacidade de arrecadar fundos”, disse Bustos. “Não se trata apenas de ser autofinanciado, mas sim de: você tem acesso a pessoas que poderiam fazer grandes contribuições? Você tem esse tipo de conexão?”
Doações não são o único caminho para o poder para os ultrarricos; seguindo o exemplo de Trump, alguns bilionários estão usando sua influência financeira para ocupar cargos públicos. Pelo menos 44 dos 902 bilionários americanos na lista da Forbes de 2025, ou seus cônjuges, foram eleitos ou nomeados para cargos estaduais ou federais nos últimos 10 anos, desde cargos de alto escalão no Gabinete até posições mais obscuras em conselhos consultivos, segundo uma análise do The Post.
Esse poderoso grupo inclui Howard Lutnick, um ex-banqueiro de investimentos que agora atua como secretário de comércio de Trump; JB Pritzker, herdeiro do império hoteleiro Hyatt e governador democrata de Illinois; e Paul Atkins, presidente da Comissão de Valores Mobiliários (SEC), que é casado com uma herdeira do ramo de telhados.
- 7,5 % – Metade dos dólares gastos no ciclo eleitoral de 2024 foram doados pelos 100 americanos mais ricos.
Os 902 bilionários dos Estados Unidos possuem, juntos, uma fortuna superior a US$ 6,7 trilhões, a maior riqueza já acumulada pelos ultrarricos do país, segundo a Forbes. Há pouco mais de uma década, o número de bilionários nos EUA era metade, com um patrimônio total estimado em US$ 2,6 trilhões, ajustado pela inflação. Elon Musk, já o homem mais rico do mundo, garantiu recentemente um pacote de remuneração de US$ 1 trilhão, repleto de incentivos , aprovado pelos acionistas da Tesla para mantê-lo na empresa pelos próximos dez anos.
De modo geral, os bilionários se uniram em torno do Partido Republicano de Trump. Mais de 80% dos gastos de campanha federais dos 100 americanos mais ricos em 2024 foram destinados aos republicanos, segundo apurou o The Washington Post. O próprio Trump arrecadou 15 vezes mais doações dos 100 americanos mais ricos em 2024 do que durante sua primeira campanha presidencial, em 2016. Em comparação, a democrata Kamala Harris arrecadou três vezes mais do que Hillary Clinton em 2016.
O que mudou? Os republicanos há muito caracterizavam o Vale do Silício como um bastião do liberalismo. Mas, na última meia década, muitos dos magnatas mais ricos da tecnologia se rebelaram contra as críticas e a fiscalização do governo Biden sobre o setor. No ano passado, muitos barões da tecnologia declararam apoio ao Partido Republicano, que consideravam mais alinhado com seus ideais, muitas vezes libertários, e com os interesses econômicos de suas empresas. Trump e seu partido cortejaram ativamente líderes influentes do setor de tecnologia, abraçando as criptomoedas e prometendo limitar a regulamentação da inteligência artificial (nt.: destaque em negrito dado pela tradução para mostrar a IA está numa posição de privilégio no governo Trump). Seu vice-presidente, JD Vance, trabalhou anteriormente como capitalista de risco em São Francisco, estabelecendo laços com Thiel, o ex-CEO do Google Eric Schmidt e o capitalista de risco Marc Andreessen.
Musk é o exemplo mais flagrante dessa mudança. Ele foi responsável por uma parcela considerável do aumento nos gastos políticos em 2024, desembolsando US$ 294 milhões para ajudar a eleger Trump e outros republicanos em eleições federais e estaduais. Dezenas de outros bilionários da tecnologia e das finanças se juntaram a ele, doando coletivamente cerca de US$ 509 milhões a mais para os republicanos do que para os democratas.
- Mais do que 80% – Em 2024, a maior parte das doações feitas pelos 100 americanos mais ricos foi destinada a republicanos ou grupos conservadores.
Isso representou uma mudança drástica em relação a 2020, quando bilionários que fizeram fortuna nos setores de tecnologia ou finanças contribuíram com cerca de US$ 186 milhões a mais para os democratas do que para os republicanos.
A abrangente agenda de cortes de impostos e desregulamentação de Trump, juntamente com a percepção de que os democratas abraçaram a extrema esquerda, levou outros bilionários a se alinharem mais com os republicanos, disse Marc Shuster, um advogado de Miami que representa multimilionários e bilionários.
“Eles acham que a esquerda foi tomada por Zohran Mamdanis”, disse Shuster, referindo-se ao recém-eleito prefeito socialista democrata de Nova York. “Eu acho que eles mudaram de opinião porque um Partido Democrata que costumava defender a classe trabalhadora agora está imerso na ideologia de gênero.”
“A esquerda progressista do Partido Democrata é um partido socialista”, disse Thomas Peterffy, fundador de uma corretora eletrônica e detentor de um patrimônio líquido de US$ 57,3 bilhões, falando de uma de suas casas em Aspen, Colorado. “As pessoas mais ricas são empresários, e eles estão apoiando Trump em massa porque entendem o quanto Trump é melhor para uma economia próspera.”
Catsimatidis, um ex-democrata que coapresenta um popular programa de rádio com uma vibe semelhante à da Fox News, disse que não confia nos democratas para lidar com imigração ilegal, crime ou economia.
“Trump está tomando decisões sensatas, decisões que um empresário tomaria em nome dos Estados Unidos da América”, disse Catsimatidis durante um jantar na churrascaria em frente à estação de rádio que ele comprou há cinco anos por US$ 12,5 milhões. “O país estava fora de controle.”
As temperaturas congelantes obrigaram a realização da segunda posse de Donald Trump em um local fechado, deixando dezenas de milhares de pessoas com ingressos do lado de fora, no frio, em 20 de janeiro. Até mesmo alguns governadores e dignitários estrangeiros foram realocados para áreas extras.
Mas pelo menos 17 bilionários, com um patrimônio coletivo superior a US$ 1 trilhão, ocuparam os cobiçados assentos na Rotunda do Capitólio — uma concentração histórica de riqueza que parecia anunciar uma nova classe de oligarcas americanos, ali para celebrar um presidente conhecido por recompensar publicamente seus aliados e punir seus oponentes.
Os três homens mais ricos do mundo — Musk, Jeff Bezos da Amazon (que também é dono do The Washington Post) e Mark Zuckerberg da Meta — ocuparam lugares de honra ao lado da família de Trump. O quinto homem mais rico do mundo, o executivo da Louis Vuitton, Bernard Arnault, estava presente com sua esposa e dois filhos. Vários outros bilionários estavam sentados nas proximidades, incluindo o CEO da Apple, Tim Cook, o ex-proprietário da Marvel, Isaac Perlmutter, e o magnata da mídia Rupert Murdoch.

“Foi tão impressionante e tão evidente que os ricos estão no comando do país”, disse o ex-executivo de Wall Street Morris Pearl, presidente do grupo Patriotic Millionaires, que defende o aumento de impostos para os ricos desde o governo Obama e realizou uma conferência intitulada “Como Derrotar os Broligarcas” em abril. “Antes, isso acontecia nos bastidores… Ficou muito claro naquele momento.”
Os bilionários não conquistaram sua influência em Washington da noite para o dia. O presidente Bill Clinton cortejou agressivamente Wall Street e, em seguida, sancionou uma ampla lei de desregulamentação financeira e um acordo comercial fortemente apoiado pelos americanos ricos. O presidente George W. Bush também dependeu muito de doadores abastados e, posteriormente, aprovou cortes de impostos que beneficiaram os ricos, bem como o Programa de Alívio de Ativos Problemáticos (TARP) para resgatar os grandes bancos. Em 2008, Barack Obama tornou-se o primeiro candidato presidencial na era pós-Watergate a rejeitar o financiamento público de campanha, optando por não se submeter às limitações de gastos do sistema e, em vez disso, arrecadando grandes somas de doadores privados.
O TARP de Bush e o pacote de estímulo econômico de Obama durante a Grande Recessão desencadearam uma reação populista que persiste até hoje, abrindo caminho para a mensagem de Trump de que, apesar de sua riqueza, ele compartilha da fúria dos americanos comuns contra um sistema fraudulento. No entanto, sob Trump, o primeiro presidente bilionário, os ultrarricos estabeleceram influência nos corredores do governo de forma mais aberta do que nunca.
O presidente nomeou cerca de uma dúzia de bilionários para sua atual administração e escolheu Musk, seu maior doador, para supervisionar demissões em massa de funcionários públicos. O gabinete de Trump é o mais rico da história dos EUA, com um patrimônio líquido combinado de US$ 7,5 bilhões, segundo a Forbes. Isso é mais que o dobro do patrimônio líquido de US$ 3,2 bilhões do primeiro gabinete de Trump e 64 vezes a riqueza combinada do gabinete de Biden.
Trump recebeu com orgulho bilionários na recém-decorada Casa Branca pelo menos quatro vezes neste outono, confraternizando com o cofundador do Google, Sergey Brin , o magnata do petróleo Harold Hamm e o gestor de fundos de hedge Bill Ackman. Os americanos mais ricos estão até mesmo ajudando a financiar as prioridades do governo: pelo menos 10 bilionários ou suas fundações familiares contribuíram para uma organização sem fins lucrativos para a construção de um salão de baile de US$ 300 milhões que Trump está adicionando à Casa Branca. Durante a recente paralisação do governo, o bilionário Timothy Mellon teria doado US$ 130 milhões para ajudar a pagar os salários das tropas americanas.
Ao mesmo tempo, Trump defendeu uma agenda de desregulamentação e cortes de impostos que está trazendo enormes benefícios aos americanos ricos. Sob a gestão de Musk, o DOGE (sigla para Departamento de Eficiência Governamental) reduziu drasticamente o aparato regulatório que fiscaliza — e irrita — os bilionários e suas atividades comerciais. A Receita Federal (IRS) perdeu milhares de funcionários, o que, segundo órgãos de fiscalização, prejudica os esforços para combater a sonegação fiscal — revertendo uma expansão planejada pelo governo Biden. O Escritório de Proteção Financeira do Consumidor (CFPB), criado para garantir que as instituições financeiras tratem seus clientes de forma justa, está à beira da extinção. E a principal conquista legislativa de Trump, a Lei “One Big Beautiful Bill“, consolidou alíquotas de impostos mais baixas para as empresas e permitiu que os filhos dos super-ricos herdassem US$ 15 milhões isentos de impostos, ao mesmo tempo em que cortou programas do Medicaid que beneficiam os pobres e os idosos.
O poder político dos ultrarricos tem limites. Vários bilionários, incluindo Catsimatidis, uniram-se para tentar impedir Mamdani, alertando que sua eleição significaria um cataclismo econômico. Mas Mamdani prevaleceu, considerando a oposição dos bilionários uma medalha de honra. “Podemos responder à oligarquia e ao autoritarismo com a força que eles temem, não com a complacência que desejam”, disse ele durante um discurso de vitória inflamado neste mês em Nova York.

Alguns ativistas e políticos de esquerda argumentam que a crescente influência dos ultrarricos está transformando os Estados Unidos em uma oligarquia. Em seu discurso de despedida em janeiro, o presidente Joe Biden alertou que “uma oligarquia está se formando na América, caracterizada por extrema riqueza, poder e influência”.
Nem sempre fica claro o que os liberais querem dizer quando usam o termo. Oligarquia, ou governo de poucos, é mais frequentemente associada a autocracias como a Rússia, governada pelo presidente Vladimir Putin e um pequeno grupo de aliados. Nos EUA, o termo está sendo adotado por aqueles que argumentam que os bilionários atingiram um nível de poder que consideram incompatível com a democracia americana tradicional.
- 44 – Bilionários americanos ou seus cônjuges ocupam cargos estaduais ou federais desde 2015.
“Há uma maior conscientização por parte dos eleitores sobre o papel da riqueza no sistema político”, disse Jeffrey Winters, professor de ciência política da Universidade Northwestern, que estudou oligarcas ao redor do mundo. “E isso mudou o foco da conversa, deixando de lado termos como doadores, contribuintes e megadoadores e passando a abordar oligarcas e oligarquia.”
A mensagem antibilionários está sendo amplamente abraçada pela corrente principal do Partido Democrata, e não apenas por sua ala esquerda. Quando a paralisação do governo começou em outubro, o governador da Califórnia, Gavin Newsom, publicou: “Donald Trump quer que você pague mais pelo seu plano de saúde para que ele possa dar um corte de impostos aos seus amigos bilionários”. Abigail Spanberger, a governadora eleita democrata da Virgínia, atacou o apoio de seu oponente à política tributária de Trump em um anúncio de campanha, dizendo: “Você paga mais para que os bilionários paguem menos”.
Mark Cuban, o investidor bilionário texano mais conhecido por suas aparições no reality show “Shark Tank”, disse que os democratas deveriam moderar sua retórica que condena os americanos mais ricos. “O Partido Democrata de Biden virou as costas para os empresários bem-sucedidos, e isso se voltou contra ele”, disse Cuban, cuja fortuna é estimada em US$ 5,7 bilhões.
No entanto, Cuban, que apoiou Harris para presidente, mas disse não ter feito doações para sua campanha, também afirmou acreditar que bilionários não deveriam ter permissão para gastar somas ilimitadas em política. “Ou a qualidade das suas ideias se destaca, ou você compra influência, e eu prefiro saber que são as minhas ideias que se destacam, e não o cheque que eu escrevi”, disse Cuban, que se descreve como independente. “As pessoas tentam comprar poder, isso é óbvio.”
Alguns republicanos proeminentes começaram a questionar os laços de seu partido com bilionários, particularmente magnatas da tecnologia, a quem acusam de suprimir vozes conservadoras e expor crianças a conteúdo perigoso online. Quando vários líderes do setor tecnológico jantaram na Casa Branca em setembro, Stephen, Steve, K. Bannon, ex-conselheiro de Trump e influente apresentador de talk show no movimento MAGA, reagiu com veemência.
“Eles só pensam em si mesmos”, disse ele em seu podcast “War Room”. “E no dia em que tropeçarmos — no dia em que tropeçarmos — eles estarão do outro lado.”
O senador Josh Hawley (republicano do Missouri) disse em entrevista que o Partido Republicano nem sempre deu a devida atenção às preocupações da classe trabalhadora, embora tenha reconhecido que Trump está conduzindo o partido na direção certa.
“Um partido conservador que se preze é um partido do trabalhador. Quero dizer, é isso que ele precisa ser”, disse Hawley. “O que você está tentando conservar? Você está tentando conservar o lar, a família, o trabalho… No momento, os trabalhadores estão realmente sob ataque.”
Mas, dado o crescente alcance dos bilionários na política americana, é muito mais fácil para os políticos denunciá-los do que escapar de sua influência.
O deputado estadual democrata do Texas, James Talarico, um seminarista presbiteriano, lançou sua campanha para o Senado dos EUA em setembro, usando linguagem explicitamente cristã para criticar duramente os bilionários, veiculando um anúncio chamativo que incitava as pessoas a “começarem a virar as mesas”, emulando Jesus expulsando os cambistas do templo em Jerusalém.
“Provavelmente não há tema mais recorrente nos ensinamentos e no ministério de Jesus do que a preocupação com os pobres e a crítica à riqueza extrema”, disse Talarico em entrevista. “Há um reconhecimento em nossa fé de que acumular recursos não é apenas prejudicial ao próximo, mas também à nossa própria saúde e bem-estar espiritual.”
No entanto, Talarico aceitou dezenas de milhares de dólares em fundos de campanha de um comitê de ação política (PAC) pró-jogos de azar apoiado por Miriam Adelson, uma magnata bilionária dos cassinos e importante doadora republicana. Ele defendeu o recebimento das doações, afirmando que apoia a legalização dos jogos de azar para aumentar a arrecadação de impostos para as escolas públicas.
“Não é que eu nunca vá me sentar com um bilionário ou trabalhar com um bilionário em alguma questão”, disse Talarico. “Tudo o que estou dizendo é que precisamos mudar o sistema para que esses bilionários tenham muito menos influência em nosso sistema político.”
Metodologia
Para identificar os 100 americanos mais ricos, o The Washington Post utilizou as listas da Forbes 400 de 2010 a 2025. Para os anos anteriores, o Post utilizou dados compilados pelos pesquisadores Ricardo Fernholz e Kara Hagler. O Post identificou os doadores que figuravam entre os 1.000 maiores doadores em eleições federais em cada ciclo eleitoral desde 2000, utilizando dados fornecidos pelo OpenSecrets. Esses dados incluíam doações para comitês da Comissão Eleitoral Federal e para organizações sem fins lucrativos da Seção 527. Doações feitas por casais foram agrupadas. Todos os totais de doações federais excluem doações para campanhas políticas individuais. Os dados sobre setores de atuação foram baseados na lista de bilionários da Forbes.
Para analisar as doações de bilionários, o The Post examinou as contribuições políticas federais e estaduais para candidatos e propostas de votação nos 50 estados entre 2015 e 2024, utilizando dados do OpenSecrets. Esses dados foram complementados com informações de Comitês de Ação Política (PACs) estaduais da Transparency USA, referentes ao período de 2017 a 2024, em 24 estados.
O Post utilizou as classificações partidárias de dados federais da OpenSecrets para analisar os destinatários de doações e identificou um doador como “principalmente” apoiador de um partido se pelo menos 75% do total de suas doações fosse destinado a candidatos, comitês ou organizações políticas sem fins lucrativos que promovem a ideologia republicana ou democrata.
As doações para Trump e candidatos democratas à presidência incluem contribuições para o Comitê Nacional Democrata, o Comitê Nacional Republicano, comitês de campanha e PACs afiliados, bem como para quaisquer super PACs ou PACs híbridos onde a maior parte dos gastos independentes foi destinada a influenciar a corrida presidencial.
O patrimônio líquido reflete a riqueza em 7 de março de 2025, de acordo com a lista de bilionários da Forbes.
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, novembro de 2025