Ludovic Maugé,ex-paisagista e vítima do glifosato Mathieu Orcel
01/12/2023
[NOTA DO WEBSITE: Nessa matéria temos o resultado das criminosas intervenções das corporações sobre as regulamentações dos agrotóxicos em todos os países do mundo. Aqui estão os doentes, as vítimas dos crimes corporativos. E o Brasil altera, no Congresso, a legislação sobre agrotóxicos para beneficiar os agro suicidas e as corporações criminosas. Os criminosos se ampliam em suas ações venais].
Por que o glifosato ainda não foi proibido? Esta é a questão colocada aos políticos pelas vítimas deste herbicida, numa altura em que a Comissão Europeia prorroga a sua autorização por mais dez anos.
O glifosato é um herbicida usado para eliminar ervas daninhas. Chegou ao mercado pela primeira vez em 1974 e, na época, seus efeitos na saúde eram desconhecidos. Mas desde então a sua utilização provocou um debate acirrado em torno dos perigos daquele que se tornou o agrotóxico mais utilizado no mundo.
Em novembro, a União Europeia renovou a sua autorização por dez anos.
Quiberon, no noroeste da França, é o lar de Ludovic Maugé, um ex-paisagista de 52 anos. Sua vida foi destruída quando ele foi diagnosticado com câncer por trabalhar com glifosato.
Desde 2020, a vida de Ludovic tornou-se uma luta diária. Ele passou seis meses na UTI e teve que passar por 12 quimioterapias sucessivas.
“Isso remonta a 20 anos. Encontramos [glifosato] em quase todos os lugares. Simplesmente trabalhávamos com um pulverizador nas costas, vestindo uma camiseta sem nada por baixo.”
“Os herbicidas são tão poderosos que atacam a vedação do pulverizador, causando vazamentos automaticamente. Na verdade, nossas costas costumam ficar encharcadas”, explicou Ludovic, acrescentando: “Quando fiquei doente, não fiz realmente a conexão com o glifosato. Até o momento, é claro, em que os exames de sangue revelaram que meu sangue estava envenenado por ele.”
Dois terços dos europeus apelam à proibição total de agrotóxicos como o glifosato, de acordo com um inquérito recente. ONGs e centenas de cidadãos saíram recentemente às ruas de Bruxelas para fazerem ouvir as suas vozes. Entre os manifestantes estava João Camargo, pesquisador do agronegócio.
“Devemos continuar a lutar contra o glifosato porque a decisão de aprovar e continuar a promover este veneno por mais dez anos é inadmissível.
“É uma questão de saúde, uma questão agrícola e uma questão de futuro. Devemos evitar que este veneno continue a se espalhar”, disse ele.
O ‘lobby dos agrotóxicos’: Conhecemos toda a extensão do perigo que representa?
Ludovic não tem mais forças para processar a empresa agroquímica Monsanto, que produzia herbicidas à base de glifosato. No entanto, hoje, muitos processos foram vencidos em todo o mundo contra a gigante alemã Bayer, que comprou a Monsanto em 2018.
François Lafforgue é um advogado especializado nestas questões. Foi o primeiro a conseguir estabelecer a ligação entre a patologia dos seus clientes e o uso de herbicidas e agrotóxicos. Foi ele quem ganhou o primeiro processo contra a Monsanto.
“Estamos perante um verdadeiro lobby dos agrotóxicos que tenta esconder seu perigo para que continuem a ser utilizados pelos agricultores e pelos seus empregados”, explicou.
“Este lobby intervém a todos os níveis. Intervém primeiro a nível europeu quando as substâncias ativas são aprovadas. Os estudos que foram levados em conta para esta renovação da aprovação não são conclusivos e, sobretudo, os estudos que deveriam ter sido considerados, que mostram a periculosidade destas substâncias ativas, foram excluídas por razões erradas pelas autoridades europeias”, argumentou François Lafforgue.
No Parlamento Europeu, encontramo-nos com Gilles Lebreton, eurodeputado do partido francês de extrema-direita, Le Rassemblement National, que é a favor da renovação da aprovação do glifosato, mas por um período limitado a cinco anos. Ele reconhece os danos que o glifosato pode causar.
O uso do glifosato gerou um debate acirrado em torno dos perigos daquele que se tornou o agrotóxico mais utilizado no mundo. Mathieu Orcel
Perguntamos se é possível colocar os interesses econômicos à frente da saúde pública.
“Para mim, não é exatamente assim que o problema surge”, respondeu ele, “porque não se trata apenas de interesses econômicos. É também um problema de segurança alimentar. Devemos produzir cereais suficientes, em particular, para alimentar a população.”
“Para mim, os responsáveis pela política agrícola comum, que durante anos pressionaram pela agricultura industrial, são os culpados”, disse o direitista Gilles Lebreton.
O efeito do glifosato em mulheres grávidas
A poucos quilômetros da cidade francesa de Vienne, Sabine Grataloup e Théo, mãe e filho, conseguiram uma grande vitória. Pela primeira vez em França, os danos do glifosato nos bebês de mulheres grávidas, foram oficialmente reconhecidos.
“Aqui estamos no picadeiro onde andávamos a cavalo e onde apliquei um herbicida à base de glifosato. Era algo que eu fazia regularmente na época”, disse Sabine à Euronews.
Sabine não tinha ideia na época a que estava expondo seu corpo.
“Foi muito complicado porque no nascimento, eu deveria ter morrido”, disse Théo. “Já passei por muitas operações. No total, passei por 54 anestesias gerais.”
No caso de Sabine e Théo, o fundo francês de compensação para vítimas de agrotóxicos reconheceu a ligação entre as malformações de Théo e o uso de glifosato pela sua mãe. Recebe uma remuneração mensal de cerca de 1.000€.
Théo Grataloup, estudante e vítima do glisofato Mathieu Orcel
Perguntamos a Sabine se ela acha que a Monsanto sabia dos perigos do glifosato.
“[Nos] Monsanto Papers, não quero errar aqui, acho que foi em 2017, descobrimos falsos estudos independentes que eram, é claro, a favor do glifosato. Havia e-mails internos reconhecendo que eles haviam testado apenas o glifosato, mas não a formulação, por exemplo. E que, portanto, o produto foi autorizado com base em informações que eram, para dizer o mínimo, parciais […] deliberadamente parciais.”
“O produto em si é perigoso, tudo bem. Mas é acima de tudo a estupidez em torno de como ele é gerenciado, que é muito mais revoltante do que o produto em si. Quanto tempo deve demorar para ser banido? É terrível”, concluiu Théo.
Pode-se fazer com que as legendas sejam em português, para isso utilizar tanto o retângulo abaixo da tela à direita como a engrenagem para compreender quem tem dificuldades em inglês e francês.
Tradução livre, parcial, de Luiz Jaques Saldanha, dezembro de 2023.