“Forever chemicals” amplamente presentes nas principais marcas de comésticos

Os PFAS são frequentemente chamados de ‘forever chemicals’ (substâncias químicas eternas) porque não se decompõem naturalmente e podem se acumular nos humanos. Fotografia: Alamy Stock Photo

https://www.theguardian.com/fashion/2021/jun/15/pfas-makeup-forever-chemicals

Tom Perkins

15 de junho de 2021

Os pesquisadores encontram sinais de PFAS em mais da metade das 231 amostras de produtos, incluindo batom, rímel e base

Os “forever chemicals” (nt.: produtos químicos para sempre) tóxicos da família do PFAS são amplamente usados ​​em cosméticos produzidos por grandes marcas nos Estados Unidos e Canadá. Um novo estudo testou os produtos químicos em centenas de produtos do mercado.

O estudo revisado por pares, publicado na Environmental Science & Technology, detectou o que os autores do estudo caracterizaram como níveis “altos” de flúor orgânico, um indicador de PFAS, em mais da metade de 231 amostras de maquiagem e cuidados pessoais. Isso inclui batom, delineador, rímel, base, corretivo, protetor labial, blush, esmalte de unha e muito mais.

Os produtos que mais frequentemente contêm altos níveis de flúor incluem rímel à prova d’água (82% das marcas testadas), bases (63%) e batom líquido (62%).

PFAS, ou substâncias per- e polifluoroalquílicas, são uma classe de cerca de 9.000 compostos usados ​​para fazer produtos como embalagens de alimentos, roupas e carpetes resistentes à água e manchas. Eles são freqüentemente chamados de “produtos químicos eternos” porque eles não se decompõem naturalmente e acumulam-se nos organismos de seres, entre eles os humanos.

Os produtos químicos estão ligados em certos níveis ao câncer, defeitos congênitos, doenças do fígado, doenças da tireóide, diminuição da imunidade, distúrbios hormonais e uma série de outros problemas graves de saúde.

Os pesquisadores ficaram surpresos com o alto número de produtos que contêm o produto químico perigoso, disse Tom Bruton, um cientista sênior do Green Science Policy Institute e um dos autores do estudo.

“Este é o primeiro estudo a observar o flúor total ou PFAS em cosméticos, até então simplesmente não sabíamos o que iríamos encontrar”, disse ele. “Este é um produto que as pessoas estão espalhando pela pele, dia após dia, havendo realmente um potencial de exposição significativa.”

Os produtos que foram verificados para compostos PFAS individuais continham entre quatro e 13 tipos em cada um. Os autores do estudo testaram cosméticos feitos por dezenas de marcas, incluindo L’Oréal, Ulta, Mac, Cover Girl, Clinique, Maybelline, Smashbox, Nars, Estée Lauder e muito mais.

No entanto, o estudo não revelou quais marcas usam os produtos químicos tóxicos porque os autores disseram que não queriam “implicar” com as empresas envolvidas. O Guardian não pode pedir comentários das empresas porque não está claro quais usam o PFAS.

Os produtos químicos, que são altamente móveis e se movem facilmente pelo meio ambiente e pelos humanos, podem ser absorvidos pela pele, pelos canais lacrimais ou mesmo ingeridos. O Green Science Policy Institute observa que as pessoas que usam batom podem ingerir acidentalmente vários quilos do produto ao longo de suas vidas.

Tom Perkins, autor dessa matéria, testou dezenas de utensílios domésticos, bem como amostras de sangue de seu gato, Ling Ling, para PFAS. Fotografia: Great Lakes Now

As empresas muitas vezes não listam PFAS em seus rótulos quando usam os produtos químicos, tornando-os quase impossíveis de serem evitados pelos consumidores, disse Bruton. As agências reguladoras geralmente permitem que as empresas reivindiquem o PFAS como um segredo comercial; no entanto, o estudo descobriu que o flúor estava frequentemente presente em produtos anunciados como “resistentes ao desgaste”, “duradouros” e “à prova d’água”.

Bruton disse que a literatura da indústria cosmética revisada pelos autores do estudo indicou que os PFAS eram comumente usados ​​em cosméticos para torná-los à prova d’água, mais duráveis ​​e mais fáceis de espalhar. No entanto, a cadeia de abastecimento era “complicada”, acrescentou ele e não estava claro se as empresas estavam cientes de que estavam adicionando produtos químicos tóxicos.

“Não está claro se as marcas estão realmente dizendo ‘Dê-nos PFAS para usar em nossos produtos’ ou pedindo um espessante, por exemplo, ou algo funcional sem prestar muita atenção ao que está nele”, disse Bruton.

Ele observou que cerca de metade das amostras não continham altos níveis de flúor, o que sugere que os cosméticos podem ser feitos sem PFAS.

“É por isso que é importante que o governo aumente e regule isso com mais força e que a indústria de cosméticos faça mais [para evitar o uso de produtos químicos]”, disse ele.

O lançamento do estudo coincide com a introdução de um projeto de lei bipartidário no Senado que proibiria o uso de produtos químicos em maquiagem. A lei “No PFAS In Cosmetics Act”, de autoria da republicana do Maine Susan Collins no Senado e da congressista democrata Debbie Dingell na Câmara, exigiria que a Food And Drug Administration banisse o uso desses produtos químicos em 270 dias.

“Os americanos devem ser capazes de confiarem de que os produtos que aplicam em seus cabelos ou pele sejam seguros”, disse Collins em um comunicado. “Para ajudar a proteger as pessoas de uma maior exposição ao PFAS, nosso projeto exigiria que o FDA proibisse a adição de PFAS aos produtos cosméticos.”

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, junho de 2021.