Fisiologia Reprodutiva, Comportamento e Disruptores Endócrinos

Fisiologia Reprodutiva, Comportamento e Disruptores Endócrinos. Os efeitos a longo prazo sobre a saúde dos seres, gerados pelos estrogênios ambientais.

 

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2706654/

 

 

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Heather B. Patisaul and Heather B. Adewale . 2009

 

Resumo

Já está bem estabelecido que, durante o curso do desenvolvimento dos seres, os hormônios moldam o cérebro dos vertebrados bem como a fisiologia específica do sexo como a  emergência dos comportamentos. Muito disso ocorre em janelas discretas do desenvolvimento que se estendem através gestação, durante o período pré-natal, e agora torna-se claro de que, pelo menos, algo deste processo continua através da puberdade. Perturbações desta progressão do desenvolvimento podem alterar permanentemente a capacidade para o sucesso reprodutivo. Estudos de animais selvagens revelaram que a exposição aos disruptores endócrinos (nt.: sigla em inglês – EDC), quer de origem natural como os originário da mão humana, podem alterar profundamente a fisiologia reprodutiva e, finalmente, afetar populações inteiras. Estudos laboratoriais com roedores e outras espécies, elucidaram alguns dos mecanismos pelos quais isto ocorre, indicando fortemente que os seres humanos também são vulneráveis ​​à esta ação dos disruptores endócrinos. O uso de compostos hormonais ativos na medicina humana tem também, infelizmente, revelado que os fetos em desenvolvimento podem ser expostos e influenciados por estes disruptores endócrinos e que isso pode levar décadas para que os efeitos adversos se manifestem. Investigação no âmbito da desfunção endócrina gerada nos ambientes também tem contribuído para a compreensão geral de como o início das experiências da vida podem alterar a fisiologia reprodutiva e comportamento através dos mecanismos epigenéticos não-genômicas, como a metilação do DNA e acetilação das histonas. Estes tipos de efeitos têm o potencial de impactar as gerações futuras se a linha germinal é afetada. Esta análise apresenta uma visão geral de como a exposição aos disruptores endócrinos, particularmente aqueles que interferem com a ação do estrógeno, impactam a fisiologia reprodutiva e comportamentos em animais vertebrados.

(NOTA DA TRADUÇÃO: entre estes dois momentos do texto publicado originalmente em inglês, estão todas as constatações dos efeitos destas substâncias sobre a masculinização dos machos de todas as espécies. Deixamos de colocá-las nesta tradução pela extensão do texto. Para maiores conhecimentos, acessar o material original publicado nos EUA. No entanto, para sua informação, faremos, oportunamente, a tradução integral noutro link do nosso website).

Conclusões

Embora pareça claro, tanto em animais como em seres humanos, de que a exposição aos disruptores endócrinos podem ter efeitos adversos tano na fisiologia como no comportamento reprodutivo, controvérsias que cercam este tópico, permanecem. É importante ressaltar que o reconhecimento da prevalência desses compostos no meio ambiente e seu potencial para afetar negativamente a vida selvagem e as populações humanas está aumentando entre cientistas, responsáveis pelas decisões políticas e ao público em geral. Mais esforços para compreender os mecanismos dos efeitos subjacentes dos disruptores endócrinos, particularmente aqueles observados em doses ambientalmente relevantes de compostos com baixa potência hormonal, são necessários para desenvolver adequadamente uma estratégia de para prevenir ou combater seus efeitos. A capacidade destes compostos para afetar permanentemente o epigenoma poderá ser potencialmente catastrófica quanto ao bem-estar das gerações futuras, exigindo então mais atenção tanto dos toxicologistas como dos endocrinologistas. Embora a investigação em torno deste tema não seja conclusiva, particularmente em seres humanos, há certamente suficientes evidências para justificar preocupação quanto aos efeitos potenciais a longo prazo, tanto em animais selvagens como em seres humanos. A obtenção de prova absoluta de desfunção endócrina produzida pelo BPA, pelos ftalatos e outros compostos com atividade hormonal fraca em humanos é provavelmente impossível, porque obviamente, seria anti-ético se realizar um estudo duplo-cego, onde um dos grupos seria exposto a uma substância tóxica suspeita. Investigação em animais, no entanto, é potente e indica que a perturbação do comportamento sexual específico, circuitos neuroendócrino e fisiologia, mostra-se possível e, em alguns casos, é até transgeneracional.

Infelizmente, é extraordinariamente difícil para os indivíduos fazerem escolhas conscientes sobre a forma como reduzir sua exposição potencial porque os produtos químicos, nos EUA, não são rotineiramente avaliados ou testados quanto suas propriedades de desfunção endócrina. O Endocrine Disruptor Screening and Testing Advisory Committee/EDSTAC (Comitê Consultivo para Avaliação e Análise de Disruptores Endócrinos) foi constituído pelo Congresso em 1996 para fazer recomendações específicas à EPA sobre como testar e avaliar compostos com propriedades de gerar desfunção endócrina, no entanto o avanço tem sido frustrantemente lento. Uma lista de compostos a serem rastreados não foi implementada até abril de 2009 e apenas 67 produtos químicos foram incluídos. Fração muito pequena dos milhares de compostos agora suspeitos de terem propriedades de disruptores endócrinos. Além disso, tem sido impossível, na maioria das vezes, determinar qual produto plástico, cosméticos, brinquedo ou outros itens domésticos que contenha quaisquer destes compostos para que os consumidores possam ter alguma maneira adequada a evitá-los, caso deseje. O pensamento de que a mistura de produtos químicos que uma mulher grávida está exposta durante toda sua gravidez, e que poderia afetar não só a fecundidade de sua filha, mas também a de sua neta, é alarmante. Esta é uma das principais razões por que este tema dos  disruptores endócrinos continua a chamar a atenção global tanto dos cientistas como do público em geral.

Declaração quanto ao Conflito de Interesses

Os autores declaram que esta pesquisa foi conduzida na total ausência de quaisquer relações comerciais ou financeiras que pudessem constituir um possível conflito de interesses.

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, dezembro de 2015.