Se a Amazônia fosse desmatada por completo, os problemas climáticos que a ausência da floresta causaria para a agricultura seriam sentidos nos Estados Unidos ou até mesmo a China, afirma um novo estudo.
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por Rafael Garcia
No trabalho, que integra as simulações digitais sobre o clima global realizadas na última década, a climatologista Deborah Lawrence, da Universidade da Virgínia (EUA), delineia pela primeira vez um cenários sobre como seria o planeta sem as grandes florestas tropicais.
Além de simular como seria a destruição da Amazônia, a cientista americana também considera o que aconteceria se as florestas da bacia do Congo e do Sudeste asiático fossem completamente desmatadas. Os resultados foram puplicados em artigo na revista “Nature Climate Change”.
“Para todas as grandes florestas devastadas, impactos seriam sentidos muito longe”, diz Lawrence. Esses efeitos, chamados pelos cientistas de “teleconexões”, fariam o desmatamento da Indonésia, por exemplo, afetar a Turquia, ou desmatamento do Congo afetar a França.
“Muitos estudos diferentes dizem que o Meio-Oeste dos EUA, onde nós americanos produzimos nossa comida, pode sofrer, com a destruição da Amazônia”, afirma.
Além de causar problemas como secas prolongadas ou tempestades, um planeta desmatado teria uma cota extra de aquecimento global, diz a cientista. Por causa do desequilíbrio no ciclo hidrológico global, o planeta ficaria 0,7°C mais quente em média –sem contar o aquecimento que seria causado por todo o CO2 emitido pelas áreas desmatadas. Isso equivaleria a todo o aquecimento verificado desde 1850.
“Evaporação nas florestas captura uma parte da radiação solar na forma de um calor latente, que é transportado acima até a troposfera, e então liberado a cerca de 5 km de altitude”, explica Anastassia Makarieva, do Instituto de Física Nuclear de São Petersburgo (Rússia).
“Se a floresta é destruída, há menos evaporação, e parte maior da energia solar se converte em radiação emitida para a superfície da Terra.”
Desmistificando a ideia de que a Amazônia seria o “pulmão do mundo”, Lawrence afirma que ela está mais para “glândula sudorípara” do mundo, porque refresca o planeta por evaporação.
BOMBA BIÓTICA
Makarieva descreveu, ao lado do físico Victor Gorshkov, alguns dos fenômenos simulados nos novos modelos de computador. Notadamente, a dupla consolidou o conceito de “bomba biótica”, o mecanismo pelo qual florestas puxam umidade do oceano para dentro dos continentes.
Alterações nesse fenômeno, diz Lawrence, acabam eventualmente perturbando também os padrões globais de circulação atmosférica, e daí começariam a aparecer as teleconexões climáticas.
Cientistas como Antonio Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, defendem que esse tipo de problema já está ocorrendo, e que a seca paulista está ligada ao desmate na Amazônia.
Modelos climáticos, porém, indicam que isso só começaria a surgir a partir de 40% de desmatamento da floresta (hoje está em cerca de 20%). “Acho que é possível, mas não apostaria minha vida nisso”, diz Lawrence.
Fonte: Folha de São Paulo