Testes mostram que bilhões de pessoas globalmente estão bebendo água contaminada por partículas plásticas, com 83% das amostras detectadas estarem poluídas.
(Nota da tradução: materiais anteriores publicados pelo website, dentre eles: Nossos corpos estão se impregnando com plásticos e Festas, Yoga e Outras Vestimentas)
O número médio de fibras detectadas em cada 500ml de amostra de água fica entre 4,8 nos EUA a 1,9 na Europa. Photograph: Michael Heim/Alamy
A contaminação com microplásticos detectada na água encanada das residências vem sendo observada em todo o mundo, levando a despertar nos cientistas a necessidade urgente de pesquisas de sua implicação sobre a saúde humana.
Os resultados das amostras de água encanada de mais de uma dezena de nações, foram analisadas por cientistas para uma investigação promovida pela organização midiática Orb Media (investigation by Orb Media), que compartilhou as descobertas com o The Guardian. No geral, 83% de todas as amostras estavam contaminadas com fibras plásticas.
Os EUA tem a contaminação com a taxa mais elevada: 94%. Fibras plásticas foram encontradas em água encanada, em locais amostrados como os prédios do Congresso Nacional, nos escritórios centrais da US Environmental Protection Agency/EPA (nt.: ou seja, na sede da agência que deveria ser a de proteção ambiental dos EUA!) e na Trump Tower em New York. Líbano e Índia vêm depois com as taxas mais altas.
As nações europeias incluindo o Reino Unido, Alemanha e França têm as taxas mais baixas de contaminação, mas elas estão ainda assim nos 72%. O número médio de fibras detectados em cada 500 ml de amostras fica entre 4,8 nos EUA e 1,9 na Europa (Europe).
Novas análises indicam a ubiquidade da extensão da contaminação com os microplásticos (microplastic contamination) no ambiente global. Trabalhos anteriores vêm focando especificamente sobre a poluição dos oceanos pelos plásticos, sugerindo de que as pessoas estariam literalmente comendo microplástico via contaminação dos frutos do mar.
“Temos dados suficiente pela observação da vida selvagem e os impactos que isso está trazendo a todos os seres do planeta, demonstrando ser preocupantes,” disse a Dra. Sherri Mason, especialista em microplásticos junto à State University of New York em Fredonia, e que supervisionou as análises para a entidade Orb. “Se isso está impactando [a vida selvagem], como não imaginar o quanto isso tudo não está impactando a todos nós?”
Uma pequena pesquisa separada feita na República da Irlanda, liberada em junho, também detectou contaminação de microplásticos em muitas amostras de água encanada e mesmo em poços. “Não sabemos que impacto tem sobre a saúde e por esta razão devemos perseguir o princípio da precaução e colocar muitos esforços nisso agora, imediatamente, assim poderemos ainda descobrir quais são os riscos reais, disse a Dra. Anne Marie Mahon do Galway-Mayo Institute of Technology, que conduziu a pesquisa.
A Dra. Mahon disse haver duas preocupações principais: o tamanho minúsculo das partículas plásticas e as substâncias químicas ou patógenos que os microplásticos possam albergar. “Se as fibras estão lá, é bem possível que as nanopartículas também estejam aderidas a elas, sendo difícil medi-las,” diz ela. “Uma vez que elas estão no padrão nanométrico, elas podem realmente penetrar em uma célula e isso significa que elas podem penetrar em órgãos e isso será preocupante.” As análises da Orb capturaram partículas com mais de 2,5 mícrons de tamanho, 2.500 vezes maiores que um nanômetro.
Microplásticos podem atrair bactérias encontradas nos esgotos, sobre o que a Dra. Mahon diz: “Alguns estudos têm mostrado haver mais patógenos prejudiciais sobre os microplásticos nos fluxos das águas tratadas nas estações de tratamento de esgotos.”
Os microplásticos também são conhecidos por conterem e absorverem moléculas de substâncias tóxicas e pesquisas sobre animais selvagens mostram que elas são liberadas no organismo. O Prof Richard Thompson, da Plymouth University, Reino Unido, conta à Orb: “Muito cedo já tinha ficado claro que o plástico liberaria esses produtos químicos e que, na verdade, as condições no intestino facilitariam uma liberação bastante rápida.” Sua pesquisa mostrou que os microplásticos são encontrados em um terço dos peixes capturados no Reino Unido.
A escala global da contaminação por microplástico somente começa a se tornar clara com as pesquisas alemãs quanto à presença de fibras e fragmentos em todas 24 marcas de cerveja que analisaram (fibres and fragments in all of the 24 beer brands), bem das que fizeram sobre mel e açúcar (honey and sugar). Em 2015, em Paris, pesquisadores descobriram microplástico caindo do ar (microplastic falling from the air). Foi estimado estar sendo depositado numa variação entre três a 10 toneladas (nt.: que ‘chove’) sobre a cidade a cada ano, estando também presente na atmosfera da casa das pessoas (also present in the air in people’s homes).
A pequisa liderada por Frank Kelly, professor de saúde ambiental do King’s College London, responde ao inquérito proposto no parlamento do Reino Unido (tell a UK parliamentary inquiry) em 2016: “Se os inspirarmos, poderão liberar potencialmente, substâncias químicas nas partes inferiores de nossos pulmões e talvez penetrem em nosso organismos via o sistema circulatório.” Analisando os dados geradas pelo trabalho da Orb, Kelly diz ao ‘The Guardian” que pesquisas precisam urgentemente ser feitas para determinarem se a ingestão de partículas plásticas são um risco sobre a saúde de todos.
Uma nova pesquisa testou 159 amostras usando uma técnica padrão para eliminar contaminações de outras fontes e foi feita pela Universidade de Minnesota, na Escola de Saúde Pública (Health). As amostra vieram de todo o mundo, incluindo Uganda, Equador e Indonésia.
Como os microplásticos terminam na água potável é, por enquanto, um mistério. No entanto, a atmosfera é uma fonte óbvia, com as fibras se desprendendo pelo desgaste de cada roupa e dos carpetes. Secadores de roupas são outra fonte potencial, com quase 80% das residência tendo este equipamento nos EUA, e que usualmente têm sua ventoinha voltada para o ar exterior.
“Pensamos que os lagos [e outros mananciais hídricos] possam estar contaminados pelas contribuições cumulativas oriundas da atmosfera,” diz Johnny Gasperi, da Universidade Paris-Est Créteil, que fez as pesquisas em Paris. “O que observamos nesta cidade tende a demonstrar quão imensa é a quantidade de fibras que estão presentes nas precipitações atmosféricas.”
As fibras plásticas podem também ser carreadas para os sistemas hídricos, depois das constatações feitas em recente estudo, onde se viu que cada ciclo da máquina de lavar roupa pode liberar 70.000 fibras (cycle of a washing machine could release 700,000 fibres) para o ambiente. As chuvas podem carrear também a poluição dos microplásticos, que pode ser percebida porque nas fontes e poços caseiros, na Indonésia, constatou-se estarem contaminados.
Em Beirute, Líbano, os suprimentos de água são oriundos de fontes naturais, no entanto 94% das amostras estavam contaminadas. “Esta pesquisa somente toca na superfície desta realidade, mas parece já fazer muita comichão,” diz Hussam Hawwa, da organização de consultoria ambiental Difaf, que coletou as amostras para a Orb.
O atual sistema padrão dos sistemas de tratamento de água não filtram todos os microplásticos, diz a Dra. Mahon: “Não há nenhum lugar onde se possa dizer que foram 100% retidos. Em termos de fibras, o diâmetro é de 10 microns e seria muito raro encontrar este nível de detecção de filtragem em nossos sistemas de tratamento de água potável.”
Água engarrafada pode não resolver esta alternativa de ser livre de microplásticos ao ser comparada com a água encanada já que nela também foram encontrados pela Orb em poucas amostras de águas comerciais nos EUA.
Quase 300 milhões de toneladas de plástico são produzidas a cada ano. Com exatos 20% reciclado ou incinerado, muito dele acaba indo para o ar, terra e água. Um relatório de julho deste ano, 2017, (report in July) detectou que 8,3 bilhões de toneladas de plástico foram produzidas desde os anos 50, com o que os pesquisadores ficam receosos de que os lixo plástico se torne ubíquo em todo o ambiente global.
“Estamos cada vez mais sufocando os ecossistemas com o plástico e estou realmente muito preocupado que poderá haver todo o tipo de consequências não intencionadas e adversas que somente descobriremos quando já for tarde demais,” diz o Prof. Roland Geyer, da Universidade da Califórnia e Santa Bárbara, e quem conduziu a pesquisa.
A Dra. Mahon disse que as novas análises da água potável levantou a bandeira vermelha, mas que é necessário mais pesquisas para se replicar os resultados, encontrar as fontes de contaminação e avaliar os possíveis impactos sobre a saúde (nt.: o nosso website propõe aos leitores que cada um e todos façam o se deve fazer: IMEDIATA INTERRUPÇÃO DE QUAISQUER USOS DE PLÁSTICO QUANDO PUDERMOS OPTAR!! É a visão da ação de precaução e não de remediação. Este é o nosso convite!).
Ela diz que os plásticos são muito úteis, mas o manejo dos resíduos (nt.: no que se tornam por esta visão de uso único e descartável desta sociedade) deve ser dramaticamente melhorado: “Precisamos do plástico em nossa vida, mas somos nós que estamos gerando o dano por descartá-lo de maneiras muito descuidadas.” (nt.: colocamos em cheque este posicionamento técnico porque não esta posta a questão dos plastificantes e dos aditivos que tornam todos os plásticos extremamente perigosos e prejudiciais. Como tirar estas substâncias que dão a ‘qualidade’ a estas resinas??).
Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, dezembro de 2017.