Fábrica da Rhodia, desativada, contamina funcionários.

Resultados de exames feitos em seis trabalhadores que atuavam no desmonte e na remediação de uma antiga fábrica da Rhodia em Cubatão revelam que eles estão contaminação com hexaclorobenzeno (HCB, BHC ou ‘Pó de Gafanhoto’). O pesticida é um dos poluentes responsáveis pela interdição da unidade em 1993, quando se percebeu que todos os seus funcionários estavam contaminados.

 

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A reportagem é de Giovana Girardi e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 11-09-2012.

Na ocasião, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre Ministério Público e a empresa estabeleceu que a área deveria ser remediada e desde 1995 vinham sendo feitas ações de recuperação ambiental com trabalhadores terceirizados. São algumas dessas pessoas que estão apresentando a contaminação.

Eles procuraram a ajuda da Associação de Combate aos Poluentes (ACPO), que fez a denúncia ao Ministério Público do Trabalho e do Meio Ambiente. Também acionada, a Câmara de Vereadores instaurou uma Comissão Especial de Inquérito para investigar o caso.

“É a terceira onda de contaminação da Rhodia na região. Claramente o TAC não foi cumprido”, diz Jeffer Castelo Branco, presidente da ACPO, ele mesmo um ex-funcionário que se contaminou nos anos 90. “Queremos tirar as pessoas de lá e saber qual é o contingente de contaminados. Pode ter muito mais gente.”

A substância, persistente, fica na circulação sanguínea mesmo depois de cessada a exposição. Causa desde febre, dor de cabeça e tontura, podendo chegar até a morte em casos mais graves.

“Eu ficava doente duas vezes por semana e isso continua até hoje”, conta João Mendes Quirino, de 38 anos, que trabalhou por mais de cinco na unidade.

Saiu há dois depois de perceber que não aguentava mais passar mal, mas sem saber bem o que causava aquilo. Só depois que um colega fez o exame e descobriu estar contaminado que ele e outros amigos resolveram procurar ajuda. Conseguiu em março fazer o exame no Instituto Adolfo Lutz. A dosagem considerada tolerável de HCB no sangue é de 0,02 microgramas por decilitro. A dele deu 1,14. Desde então está desempregado.

O promotor do meio ambiente de Cubatão, Eduardo Gonçalves Salles, disse que ainda está analisando a documentação fornecida pela ACPO. Hoje o promotor do trabalho Rodrigo Lestrade terá uma reunião com a associação e a perícia técnica. Enquanto isso, a comissão especial da câmara, aberta pela vereadora Maria Aparecida Pieruzi de Souza (PT) está convidando as partes a se pronunciarem. “A Rhodia ainda não apareceu, estamos convidando de novo, mas parece que houve displicência com os trabalhadores”, diz.

Segurança

Por meio de nota, a Rhodia disse que as operações de desmonte e remediação são realizadas de forma segura, que segue os padrões sobre equipamentos de segurança, fiscaliza o seu uso e cumpre o TAC.

Afirmou também que não tem informação oficial sobre casos de ex-funcionários terceirizados que estariam afastados por problemas de saúde relacionados a eventual exposição a substâncias químicas em Cubatão. “O hexaclorobenzeno (HCB) tem origem em diversas fontes possíveis, o que confere a essa substância um caráter ubíquo no meio, conforme reconhecido por diversos estudos internacionais”, afirmou.

Casos há mais de 30 anos

A história da Rhodia na Baixada Santista registra pelo menos dois grandes casos de contaminação. Em meados da década de 70, trabalhadores da unidade que produzia um composto conhecido como pentaclorofenato de sódio, ou “pó da China”, começaram a apresentar tumores no corpo.

A planta acabou sendo fechada. Já na década de 90, em outra unidade da empresa, que produzia o HCB, todos os funcionários apresentaram algum grau de contaminação.

Um TAC definiu a remediação da área, o monitoramento dessas pessoas a cada seis meses e o pagamento do tratamento pela Rhodia. A Associação de Combate aos Poluentes alega que esses termos não vêm sendo cumpridos.