Especialistas estudam mordidas de baratas em comunidades indígenas.

Dois pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu criaram uma estratégia para combater uma infestação de baratas em duas aldeias indígenas localizadas em uma reserva protegida no Mato Grosso. Os professores Wilson Uieda, do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da Unesp, e Vidal Haddad, da Faculdade de Medicina da Unesp, tiveram o estudo publicado em um jornal internacional de dermatologia.

 

 

http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2013/10/03/98706-especialistas-estudam-mordidas-de-baratas-em-comunidades-indigenas.html

 

 

“Fui para as aldeias depois de um convite para estudar como os índios se defendiam dos ataques de morcegos, mas, ao chegar à reserva, vi pessoas sendo roídas por baratas. Foi quando decidi assumir mais coisas e tentar controlar a infestação. As baratas germânicas se reproduzem muito rápido. Cada ovo, por exemplo, pode conter até 32 filhotes e, em um ambiente favorável, é possível ter, em um ano, pelo menos 100 mil baratas no local”, explica Wilson.

Segundo o professor, as baratas são artrópodes muito comuns altamente adaptadas a viver perto e dentro de habitações humanas e em ambientes escuros. Elas comem fezes, sangue, couro, colas, papel e material orgânico, como a queratina das unhas humanas e da pele. Segundo o estudo, a espécie de maior importância médica é barata alemã e a barata americana. No entanto, a germânica é considerada a principal praga no mundo devido à sua alta taxa de reprodução.

Ferimentos na pele – Na pesquisa, os autores observaram que as baratas são insetos presentes em todos os ambientes, incluindo habitações humanas. Eles são responsáveis por efeitos adversos, tais como fenômenos alérgicos, transmissão de infecções e penetração no canal auditivo de seres humanos. Além disso, as baratas podem provocar reações asmáticas e irritação nos brônquios.

“Lembra quando as avós falavam ‘Lave a boca que senão entra barata’? Então, é verdade. Elas são atraídas por coisas doces e roem queratina, que está presente na pele. A lesão causada pela roída da barata é um machucado raso que, no máximo, pode apresentar um quadro de infecção leve. A questão do trabalho não era nem mostrar as mordidas e sim, apresentar observações do que a barata pode fazer na pele humana”, ressalta Vidal.

Segundo o especialista, o tratamento deve ser feito com a lavagem do ferimento com água e sabão. Em casos mais intensos, uma pomada com antibiótico pode ser receitada. Além de morder, as baratas são capazes de penetrar nos canais do nariz e das orelhas dos seres humanos. A ação da mordida pode causar feridas dolorosas e comprometer a saúde da pele.

Estratégia caseira – No artigo publicado pelos professores, são descritas duas aldeias indígenas com grandes populações da espécie Blattella germanica que mostra uma alta taxa de mordidas em indivíduos adormecidos. O problema parece ser comum na região, embora seja raro nos ambientes urbanos. De acordo com Wilson, o fato da área ser de proteção ambiental também dificulta a introdução de medidas para controlar baratas. No entanto, o Governo Federal tem discutido recentemente uma intervenção especializada que busca controlar as baratas nestas e outras aldeias.

“Tínhamos que pensar em uma estratégia que não prejudicasse a rotina dos índios. Para isso, criamos uma receita que envolve farinha de trigo, açúcar, queijo ralado, cebola e ácido bórico. A massa é parecida com um pão. Colocávamos as bolinhas nas ocas e nas palhas. Nunca no chão para que as crianças não mexessem. Com as iscas, percebemos que as baratas morriam dentro de dois a três dias”, frisa Wilson, que ainda espera o retorno da estratégia de controle da infestação na aldeia.

Ainda segundo o estudo, a ocorrência destas manifestações é facilitada pela indiferença dos nativos à presença de insetos e à falta de consciência dos danos causada pela transmissão de infecções ou à destruição de seus alimentos. Para Wilson, além da estratégia de controle, é necessário também um debate na área de antropologia e até costumes da população indígena.

“Quando cheguei na aldeia fiquei muito assustado porque nunca tinha visto nada parecido. No entanto, ver que a estratégia que criamos era segura e eficaz fez ver que o trabalho valeu a pena. Na minha opinião, além do controle da epidemia, é necessário também um trabalho em conjunto na área de antropologia e debates para mudar hábitos que os índios cultivam, já que os insetos podem causar problemas de saúde e é impossível evitar o contato deles com o homem”, completa.

(Fonte: G1)