por Sam Bloch
12/02/2020
Outra tarefa para os primeiros 100 dias de Biden – controlar o controverso herbicida.
Mais de 93 por cento das espécies ameaçadas de extinção e 96 por cento de seus habitats podem ser prejudicados pelo glifosato, o herbicida onipresente e polêmico, informou a Agência de Proteção Ambiental (EPA/Environmental Protection Agency ) em uma avaliação preliminar divulgada na semana passada.
A avaliação foi conduzida como parte de uma revisão de registro – o processo de rotina da agência para renovar agrotóxicos, entre eles os herbicidas, e outros produtos químicos para uso nos Estados Unidos a cada 15 anos. Uma decisão provisória , divulgada em janeiro, abriu o caminho para a renovação do produto químico, que a EPA disse ser seguro para humanos se usado corretamente (nt.: novamente o grande equívoco de que o problema do uso de venenos está na mão dos agricultores e não o próprio produto em si. Este é o discurso típico das corporações e repetido por pessoas sem senso crítico ou comprometidas). Mas a agência agora deve avaliar o impacto do herbicida em cerca de 1.800 plantas e animais protegidos, de acordo com a Lei de Espécies Ameaçadas (ESA/Endangered Species Act). Esta lei proíbe as agências federais de se envolverem em ações que possam “colocar em risco a existência continuada” de espécies ameaçadas ou em perigo.
As descobertas iniciais estão agora abertas para 60 dias de revisão pública , após o qual a EPA decidirá como limitar o uso do agrotóxico, a fim de proteger essas plantas e animais. Por causa desse momento, a decisão de controlar o produto químico agrícola mais popular da história do mundo pode estar entre as primeiras ações ambientais do presidente eleito Biden. Depois de anos em que a administração Trump revogou as regulamentações sobre agrotóxicos e encolheu o número de animais protegidos pela ESA, isso pode sinalizar que um EPA castigado – supostamente em revolta – está voltando à vida.
“Isso é realmente interessante e fora da corrente. Talvez este seja um raro momento em que a ciência foi seguida. ”
“Isso é realmente interessante e fora da corrente”, disse Judith Enck, ex-administradora regional da EPA nomeada pelo presidente Obama, em um e-mail para o The Counter. “Talvez este seja um raro momento [em que] a ciência foi seguida.”
Os impactos sobre as espécies ameaçadas de extinção são as descobertas mais recentes na longa e controversa vida do glifosato. O produto químico é amplamente utilizado em campos agrícolas – cerca de 280 milhões de litros aplicados a cada ano em soja, milho, algodão e outras safras, de acordo com a EPA. Também é muito usado para controlar ervas daninhas em bacias hidrográficas, pastagens, florestas, margens de estradas – e com toda a probabilidade, no gramado da frente de seu vizinho.
Nos últimos dois anos, o glifosato esteve no centro de milhares de processos movidos contra a Bayer, a gigante farmacêutica que assumiu a Monsanto. A Bayer produz o Roundup, a marca mais popular do herbicida. Os júris concederam bilhões de dólares em danos aos demandantes em processos judiciais que alegaram que o glifosato causou o câncer. Em junho, a Bayer concordou em pagar US $ 10,5 bilhões para resolver os casos restantes .
Os agricultores continuam a usar o herbicida em níveis crescentes, apesar das evidências crescentes de que o uso excessivo está tornando-o ineficaz.
A questão de quão perigoso é para a saúde humana permanece incerta. Como parte de sua revisão provisória, a EPA descobriu que o glifosato provavelmente não é cancerígeno para humanos, mas a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer, parte da Organização Mundial de Saúde, concluiu que provavelmente é. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDCs) também pediram mais pesquisas sobre o efeito da substância química em humanos. No entanto, os agricultores continuam a usar o herbicida em níveis crescentes , apesar das evidências crescentes de que o uso excessivo está tornando-o ineficaz.
“Estamos revisando o rascunho da avaliação biológica do glifosato pela EPA. A segurança de nossos produtos é nossa principal prioridade e continuaremos a participar desse processo público ”, disse um porta-voz da Bayer ao The Counter em um comunicado. “Nesse ínterim, a determinação atual da EPA – de que os produtos de glifosato não apresentam riscos excessivos quando usados de acordo com os requisitos do rótulo – ainda se mantém e os produtores e outros podem continuar a usar os produtos de glifosato de acordo com as instruções do rótulo.”
Em seu relatório, a EPA descobriu que o glifosato, que afeta ambientes não agrícolas predominantemente através do escoamento do campo e deriva de pulverização, é “de moderado a altamente tóxico para peixes, altamente a muito altamente tóxico para invertebrados aquáticos, moderadamente tóxico para mamíferos e ligeiramente tóxico para aves em uma base de exposição aguda.” A exposição crônica causa “uma variedade de efeitos de crescimento e reprodução” (nt.: é importantíssimo ver e captar o que o material neste link, com seu documentário, nos traz, com relação a estes efeitos que são comprometidamente ignorado pelos órgãos públicos de todo o mundo, principalmente europeus e norte americanos como mostra o documentário) em animais terrestres e aquáticos, bem como em plantas.
“O objetivo e o propósito aqui não é a proibição do glifosato. É mudar os rótulos do glifosato para que não seja usado de uma forma que coloque em risco a existência de espécies ameaçadas de extinção.”
No geral, é “provável que tenha um impacto adverso”, 75 espécies ameaçadas de mamíferos, 88 espécies ameaçadas de pássaros, 36 espécies ameaçadas de anfíbios, 33 espécies de répteis ameaçadas, 179 espécies de peixes ameaçadas, 185 invertebrados aquáticos ameaçados, 140 invertebrados terrestres ameaçados e 940 espécies de plantas ameaçadas .
Depois que a EPA analisa os comentários, ela pode consultar duas agências federais – o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA e o Serviço Nacional de Pesca Marinha, conhecido como NOAA Fisheries – para preparar relatórios que informem as etapas para minimizar os impactos. Essas etapas provavelmente assumiriam a forma de restrições, visíveis nos rótulos, para limitar onde e quando o glifosato é usado. O glifosato poderia, teoricamente, ser banido durante ventos fortes, restrito a barreiras de trinta metros perto da água ou em alguns condados com habitats sensíveis.
Dependendo da gravidade das restrições, elas podem ser contestadas pela indústria, assim como as restrições ao dicamba e ao clorpirifós foram, disse Lori Ann Burd, advogada sênior e diretora do programa de saúde ambiental do Center for Biological Diversity, um grupo ambiental que processou a EPA para forçar a revisão do ESA .
“O objetivo e o propósito aqui não é a proibição do glifosato (nt.: mesmo com todas as evidência mostradas pelo link, já trazido acima, não entendemos porque este produto ainda continua sendo liberado no planeta!). É mudar os rótulos do glifosato para que não seja usado de uma forma que coloque em risco a existência de espécies ameaçadas de extinção ”, disse Burd. “Provavelmente levará a reduções reais no uso e levará a um uso mais cuidadoso, porque agora o glifosato é apenas pulverizado em grandes quantidades.”
Sam Bloch é redator do The Counter, onde cobre negócios, meio ambiente e cultura. Ele também escreveu para o The New York Times , LA Weekly , Places Journal , Art in America e outras publicações.
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, dezembro de 2020.