http://mercola.fileburst.com/PDF/ExpertInterviewTranscripts/Interview-JoannaBlythman-SwallowThis.pdf
(nt.: artigos onde consta aspectos sobre Joanna – http://articles.mercola.com/sites/articles/archive/2015/05/03/processed-food-industry-shocking-secrets.aspx e http://articles.mercola.com/sites/articles/archive/2015/06/10/hazardous-food-additives.aspx = estes dois artigos já estão traduzidos e disponíveis no site)
Publicado em 10 de maio de 2015
https://www.youtube.com/watch?v=JcFTvC_zVbA
DM: Joseph Mercola
JB: Joanna Blythman
DM: Todos nós sabemos que evitar alimentos processados é uma das chaves mestra para permanecermos saudáveis. Mas será que realmente sabemos o quão terrível são os alimentos processados? Bom dia, aqui é Mercola auxiliando o leitor a tomar o controle de sua saúde. Hoje estamos em contato com a autora escocesa, Joanna Blythman, que escreveu o livro, “Swallow This: Serving Up the Food Industry’s Darkest Secrets” (nt.: tradução livre – ‘Engole essa: está na mesa os segredos obscuros da indústria alimentícia’). Se temos alguma preocupação sobre aquilo que comemos, este é um livro indispensável de ser lido por representar um grande desafio para cada um de nós, no sentido de evitarmos os alimentos processados. Eles são realmente parte da dieta de todos nós. E a grande questão é: quanto? Após lermos este livro, posso garantir que a motivação suficiente será impulsionada para evitarmos alimentos processados. Joanna é uma jornalista investigativa britânica premiada e escreveu este livro supra citado. É interessante porque ela é o tipo de pessoa que vai muito além. Encontra informações onde nenhum de nós jamais poderia imaginar. Demonstra que para isso teve que fazer parte de uma indústria. Contará como ela conseguiu se imiscuir, sorrateiramente, para obter informações privilegiadas sobre que diabos as indústrias estão fazendo com nosso alimento. Por isso, somos gratos por compartilhar tudo isso através deste delicioso livro. Seja bem vinda.
JB: É um grande prazer estar aqui neste encontro.
DM: Por que não nos fornece algo sobre sua história e descreve o que a motivou para escrever esta incrível reportagem sobre a indústria de alimentos bem como os profundos segredos de seus processamentos e produção durante os últimos anos?
JB: Certo. Venho escrevendo sobre a questão dos alimentos nas últimas duas décadas. Antes foram seis livros que tratam o lado da produção de alimentos. Ou seja, como e o que está acontecendo no campo, na fazenda e de como se identifica um frango ruim daquele que é bom. Eram sobre este tipo de coisa. Percebi que não estávamos nos apropriado de toda a história. Não era a produção como o ponto final, mas sim este ponto final estava no processamento. Sabemos alguma coisa sobre como os frangos são criados para nossa alimentação, mas não sabemos muito ou quase nada sobre como os ‘nuggets‘ de frango são produzidos nas indústrias para serem nossos alimentos finais. Sabia que tínhamos de chegar a esta informação sobre os alimentos processados. Mas é claro, a indústria de alimentos criou este muro de segurança intransponível, fabulosamente eficaz, em torno de suas atividades de fabricação. Ela se esconde por trás desse pressuposto de que: “estes são os nossos segredos industriais. Não podemos dizer muito, expondo nossos processos secretos”. Ou mesmo afirmando de que “todos os nossos concorrentes irão nos copiar”. E eles estão se mantendo afastados de tudo e de todos com estes argumentos, há anos. Isto significa que, basicamente, és um membro da indústria de alimentos ou simplesmente não vais saber o que está acontecendo nos bastidores. Percebi que precisava fazer algo – ficar na frente dos portões das indústrias, não me levaria a conseguir absolutamente nada. Então decidi que eu ia ter que conseguir algum tipo de abertura em meu caminho através deste sistema de ‘apartheid’ que a indústria de processamento de alimentos opera e teria que ser de uma forma muito eficaz. O que fiz foi assumir uma identidade falsa. E consegui … Sim, era a única maneira de fazê-lo. Eu consegui que um pequeno fabricante de alimentos, com algum tipo de ética, me desse cobertura. Ao usar essa cobertura, eu consegui ficar protegida por ela e assim ir para as arenas do mundo subterrâneo da indústria de fabricação de alimentos. O ponto de inflexão real para mim, em minha pesquisa, foi quando participei de uma feira de negócios para os fabricantes de alimentos, chamada Food Ingredients. Aconteceu na Alemanha. Pode-se imaginá-la como uma espécie equivalente ao que seria uma feira de armas para os fabricantes de alimentos, porque é onde estão todas as grandes indústrias químicas – e eles realmente são empresas químicas. Vão chegando e realmente tentando vender seus produtos às indústrias de alimentos. Como uma espécie de pessoa que habita um mundo da ficção, ouvia : “rótulo, rótulo diz-nos o que precisamos saber e nós podemos encontrar um monte deste desejo, no final do varejo”. Cai direto neste show. Fiquei de boca aberta. Não podia acreditar naquilo que estava vendo. Nada era reconhecível, instantaneamente, como alimento, mas uma imensa série de componentes, muito complexos, técnicas altamente sofisticadas, coisas com aspectos de ingredientes, compostos alimentares, que poderiam ser usados conjuntamente para processarem os alimentos. No momento em que estava ficando mais entrosada… Não conseguia tirar muito mais do que via. Mas no final percebi um estande que estava vendendo algo bem raro … não vendendo, mas promovendo uma salada de frutas. Eram pequenas embalagens de caixas de frutas cortadas, agradáveis e parecendo muito saudáveis com pedaços de abacaxi, melão e uvas. O tipo de coisa que se pega em um voo de avião ou quando se está num hotel e pensaríamos: “puxa. Isso parece uma opção bem saudável”. Foi ai que notei haver uma data ao lado da salada de frutas e a data de validade era de uma quinzena anterior ao dia em que estava ali exposto. Perguntei ao representante de vendas: “você poderia me explicar o que são estas datas?”. E ele disse: “Oh, sim. Esses frutos foram mergulhados em um produto milagroso que tem o efeito de ampliar a vida na prateleira. Por isso, mergulhamos nessa mistura secreta, que é essencialmente ácidos de frutas. Dessa forma, você pode adicionar uma quinzena de carência a mais para sua venda”. Enquanto ainda fingindo ser alguém que poderia realmente se interessar por este produto, disse: “será que eu não tenho que escrever isso no rótulo?” Ele disse: “Não, não, não. De jeito nenhum, porque este produto é um auxiliar do processamento”. Acho que foi um momento muito importante para mim, porque percebi que há muita coisa acontecendo por detrás dos panos na produção de alimentos. A maioria dos consumidores, não têm a menor ideia, e nem está autorizado a saber. Somos cuidadosamente mantidos fora de tudo o que diz respeito a este tema. Não podemos nem mesmo confiar em quaisquer coisas que possam parecer uma escolha saudável.
DM: Puxa, isso é surpreendente. Há uma grande percentagem, talvez a maioria, e espero que sim, de nossos leitores são críticos diligentes quanto ao que colocam em suas bocas. Se os alimentos não forem integrais e não processados eles próprios, mas precisarem comprar alimentos processados, vão verificar os rótulos e lerão cuidadosamente quais são seus ingredientes. Mas o que se percebe rapidamente depois de ler seu livro, é que isso não tem a importância que se pensa. Nunca vai se encontrar na composição e nos ingredientes algo, porque eles habilmente disfarçam os ingredientes e a composição e o rótulo não diz efetivamente quase nada. Não diz tudo o que tem ali. E não há nenhuma maneira de se compreender tudo isto a menos que se possa efetivamente mergulhar neste mar de segredos que a indústria criou e que agora foram desvelados. Suspeito que não há nenhum outro livro no mercado que realmente faça isso.
JB: Não.
DM: É um desvendar a totalidade da indústria, inexistindo outro igual como feito em seu livro.
JB: Exato, ele tem este caráter de desnudar este tema. Não há nada como este material. Não havia nada como ele para conhecimento público ou noutro espaço no mundo e foi por isso o ‘Engole essa‘ fui publicado. Estou feliz com isso porque penso que esta é uma completa e nova dimensão para entender e passar a ter, como eu desejo, a partir daí, um controle pessoal sobre o alimento que se ingere. Devemos entender o que está acontecendo por detrás dos panos no processamento dos alimentos. Desconfio, embora tenha descoberto… Podemos falar sobre algumas das coisas que eu desvelei.
DM: Devemos sim, sem dúvida.
JB: Exato. Mas descobri… Ainda suspeito que isso provavelmente é somente uma fração de…
DM: Será?
JB: Sim, provavelmente é muito pior. Mas, pelo menos, temos a impressão de que raspamos a superfície deste assunto. E acho que já é útil. Fizemos o diálogo se instalar. E acho que este desvelar chocou, de qualquer maneira, a indústria de alimentos na Europa. Porque eles estão sempre muito ligados ao que os consumidores sabem. E do jeito que está, criou-se uma realidade de que devemos apenas confiar neles. Não temos nenhum direito de saber nada sobre o que estão fazendo, devendo simplesmente deixá-los ir em frente. Eles realmente não gostam deste tipo de desnudar público de suas receitas secretas e de seu comércio sujo.
DM: Como mencionei antes, não há outra resposta mais racional, depois de ler o seu livro do que passar a estar agora definitivamente comprometido a comer somente alimentos não transformados e integrais. Após ter se apropriado deste material, não há como voltar atrás. Não temos mais outra escolha a não ser olhar para os alimentos processados de forma diferente a partir de agora. Há muito conteúdo no livro, mas por que não nos dá agora alguns dos destaques daquilo que descobriu e que são realmente espantosos? Principalmente por existirem tantos deles lá no livro.
JB: Ok. Vamos lá. É interessante porque todos os que leem o livro, detectam diferentes coisas terríveis. É sempre assim “faça a sua escolha”. Há muitas. Dividi-os do mais chocante e do mais repugnante. Vou começar com o mais repugnante. Fiquei, por exemplo, bastante chocada ao saber que nos processos de carnes, tendo as carcaças de corte (nt.: também se emprega e expressão talho, para este processo de retalhar a carne), mergulhando-as em água quente com enzimas adicionadas, que têm o efeito de liberarem mais de cinco por cento de uma substância com tipo de carne retirada a partir da carcaça. E após esta substância vem sendo adicionada a hambúrgueres mais baratos, salsichas e outros produtos como estes. Também fiquei muito repugnada ao constatar que, mais uma vez com enzimas, produtos derivados de sangue tratados com elas são habitualmente adicionados aos produtos finais inferiores de carne processada. Mas de certa forma, eu meio que esperava essas coisas. Quer dizer que todo mundo sabe que ao se relacionar com produtos cárneos esta qualidade menor não é tão grande assim. Mas o que realmente me tocou, foram as coisas que pareciam ser muito natural e que eu não esperava. Por exemplo, fiquei surpresa ao descobrir de que há um tipo de corante que é conhecido como ‘cloudifier‘ (nt.: para se ter uma ideia deste mundo, ver, em inglês, este link – http://www.aditiva-concepts.ch/download/Application%20guide%20new.pdf). O que este ‘cloudifier‘ faz é que o suco parece ter mais suco de frutas real já que cria uma espécie de aparência natural como se tivesse sido feito a mão. Achei isso extremamente surpreendente. Também descobri esta outra coisa chamada de ‘Clean Label‘. Este é um interessante conceito. A indústria alimentícia está convencida, em ambos os lados do Atlântico, que os consumidores não gostam de nomes extensos dos ingredientes químicos constantes nas composições dos produtos. Quando pessoas comuns como nós veem palavras como carboximetilcelulose ou mono- e diglicerídeos dos ácidos graxos, não queremos mais comprar isso. Eles sabem e chamam isso de rótulos poluidores. O que eles decidiram que iriam simplesmente tirar isso dos rótulos. Inventaram então a campanha chamada de ‘Clean Label‘ que é essencialmente remover todos os velhos aditivos e longos nomes químicos e trocá-los por ingredientes que soassem terrivelmente melhor. Mas o problema é que, do meu ponto de vista, são realmente novos aditivos com outros nomes. Eles soam muitíssimo melhor, mas na verdade se eles estão na sua formulação – claro, são formulações muito secretas – ou seja, temos que esperar para ver.
DM: Bem, isso não é tão ruim em si mesmo já que os antioxidantes são saudáveis. Mas o que é parte desta equação que não está listado é que estes antioxidantes são extraídos de plantas, usualmente com solventes orgânicos tóxicos como o hexano que após não podem ser removidos. Este produto ainda está presente e eles não estão obrigados a divulgar. A impressão que eu tenho é que é tudo uma questão de percepção. No momento, e há uma grande quantidade de dinheiro envolvido. Se a indústria alimentícia descobre que há uma percepção pública de que um desses ingredientes que são exigidos que rotulem tenha um impacto negativo, colocarão grandes volumes de recursos para encontrarem alguma alternativa que poderá até ser muito ruim e geralmente pior, mas que não tenha esse tipo de impacto.
JB: Exatamente isso. Colocaste o dedo na ferida. Percepção é realmente a melhor palavra para entender até onde a indústria de fabricação de alimentos vai. Eles têm algo chamado percepção do que é natural. Todo o seu esforço é tentar dar aos ingredientes algo que soe como se fosse natural, mas que, na verdade não é a mesma coisa que o natural. Outro aspecto é ter uma tal qualidade como se fosse fresco. Ele não falam sobre ser fresco em si mesmo. Eles falam é sobre uma qualidade como se fosse fresco. Existem x inúmeras tecnologias disponíveis que podem ser utilizadas por detrás dos panos e, principalmente, nos rótulos dos produtos que lhe dão essa qualidade de fresco. Tudo o que se relaciona a este ‘natural’ e a este ‘fresco’ (nt.: para melhor compreensão a tradução grifou estas duas ‘qualidades’ no texto) está sendo manipulado constantemente. Sobre a minha escrivaninha, neste exato momento, tenho alguns ‘muffins‘ (nt.: bolinhos) de chocolate que eu comprei há seis semanas. Estão aqui e não mudaram absolutamente nada. Parecem idêntico ao dia em que os comprei. Estou deixando aqui como um espécie de pesquisa científica para ver como eles finalmente, se acontecer é claro, irão se transformar. Podes chegar num balcão de uma cafeteria e pensar: “maravilha! vou comer um destes gostosos ‘muffins‘ ai expostos”. Nós, os consumidores, sempre pensamos o melhor, não é?
DM: Claro.
JB: Queremos acreditar que alguém atrás daquele balcão poderia tê-los feito há pouco e tirado do forno, gostosos e fresquinhos para nós. Acabamos sendo enganados a todo momento. Além de tudo isso que já está aí, vemos a cada instante surgirem coisas chamadas de concentrados e extratos.
DM: Antes de tratarmos deste tema, vamos voltar para a padaria, porque você fez uma espécie de raspagem sobre tudo isso. E há uma seção inteira no livro sobre as padarias.
JB: Está bem.
DM: Quando se vai a um supermercado do bairro, a maioria deles têm padaria e sentimos o cheirinho de pãozinho recém feito bem fresquinho além de todos os outros produtos que estão expostos nos seus balcões. Eles, na verdade, foram feitos ali mesmo, mas o que a gente não entende é que eles não foram feitos desde o seu começo. Por que não desvelar tudo isso já que é tudo tão intrigante?
JB: Está bem. Estamos ali fazendo nossas compras e de repente sentimos aquele cheirinho tão gostoso. Ele vem normalmente de algo como canela ou baunilha. E ai a gente pensa: “puxa, eu realmente quero alguma coisa que tem isso ai”. Mas estas padarias, nada mais são do que salões de bronzeamento para a preparação de produtos congelados que foram cozidos em fábricas, a milhares de quilômetros dali. O que acontece é que estes produtos são transportados para este local, todos congelados. O trabalho do padeiro, pelo menos da pessoa chamada como tal (em função de onde está) é tirar os produtos da caixa, ler o manual de instruções que diz: “coloque no forno neste programa por tantos minutos, tire-os após e venda-os como frescos”. Uma das coisas aqui é que se for vendido alimentos solto, coisas como ‘donuts‘ ou rosquinhas soltas, não se precisa ter qualquer ingrediente rotulado neles. Não se empacotará. Só se faria se estivesse embrulhado, mas como eles estão tão solto e parecem ultra-fresco, então se pode entregar às pessoas sem informar quais são seus ingredientes.
DM: Este é um outro segredo industrial que acabou de desnudar.
JB: É verdade.
DM: Quem poderia supor? Acho que os restaurantes usam a mesma estratégia também.
JB: Tem muita gente que faz isso. Quando se percebe estas coisas, muitas vezes pensamos: “é engraçado. Notei que nesse supermercado, seus ‘donuts‘ são muito semelhantes ao tipo daqueles que eu tinha visto na cafeteria daquela estação, só que com um nome diferente ou até mesmo no hotel que fiquei noutro dia.” Porque é uma indústria muito global e que fica mais e mais globalizada, como a economia e tudo o mais, que acabamos esquecendo o que é local. O processo é de ser uma grande empresa cada vez mais especializada nesse tipo de produtos. Eles vão ser despachados a milhares de quilômetros de distância (nt.: relatamos uma experiência com o supermercado Angeloni de Florianópolis que tem pães rústicos que foram feitos em Montevidéu, no Uruguai, e o supermercado não esconde nada sobre isso). Mas sempre apresentando ter esta qualidade de ser como frescos. Uma das razões do porquê comecei a escrever este livro é que sabia disso porque só como comida natural e cozinho muito. Assim, caso fizesse um ‘muffin‘ em casa, ele não teria o mesmo gosto de um que fosse comprado. E eu queria descobrir o porquê. É realmente interessante descobrir isso, porque tanto os ingredientes como os processos são completamente diferentes. E estas são as grandes mentiras dos fabricantes de alimentos de que o que se faz nas indústrias é só uma escala maior da fração do que se faz em casa. Mas isso é realmente uma mentira. São atividades bastante diferentes.
DM: Certamente. Por que não continua e expõe algumas outras coisas, já que eu interrompi quando estava no tema das padarias porque achei que era muito intrigante? Você está nos trazendo alguma das outras coisas que desvelou.
JB: Muitas vezes compramos um produto, e se somos clientes cautelosos, iremos ler os rótulos com os ingredientes. Como já falei antes, quando vemos um nome químico longo, provavelmente não estamos indo para comprar isso. Agora, se depararmos com algo assim como “concentrado de cenoura” ou “extrato de limão”, logo pensamos: “Ah, isso aqui não soa muito ruim, não.” Concentrado de cenoura, isso pode ser algo que possamos obter em uma fazenda saudável ou algo assim. Ele tem esse tipo de aura de saúde sobre ele. Mas, novamente, concentrado de cenoura é usado instantaneamente como um corante. Já o extrato de limão é um condimento. Existem muitas habilidades reais na manipulação da nossa percepção e levar-nos a comprar essa ideia de que os alimentos processados são realmente muito mais natural nos dias de hoje. Eles assumiram tudo sobre os ingredientes, não precisamos mais nos preocupar com eles, assim podemos apenas confiar neles. Na verdade, o que precisamos saber é, deepois de ter pesquisado tudo isso, que eles colocaram vendas em nossos olhos. Devemos ter este conhecimento e entendermos o que está se passando nesta área.
DM: Bem, há toda esta outra questão da confiança que você acabou de mencionar. A implicação é esta de que existem agências reguladoras federais ou agências governamentais que monitoram cuidadosamente esta área da sociedade e assim nos protegem. Em sua pesquisa, o que desvelou quanto a isso – eu não consigo pensar em algo mais correto de que – você nega essa afirmação?
JB: Sim, também tenho essa ideia. Este tipo de ideia reconfortante de que em algum lugar deveria haver algumas comissões governamentais ou organismos norte americanos ou europeus que tenham um tipo de olhar dirigido àquilo que seria o melhor para o consumidor. Mas não é como desejamos. O que se tem são, geralmente, comitês governamentais. Os participantes que estão nesses comitês são muitas vezes originários das indústrias que têm interesses corporativos em comercializarem estes ingredientes químicos, quando não são pessoas das áreas acadêmicas que parecem, à primeira vista, ser independente, mas, na verdade, em seu trabalho do dia a dia, são patrocinados com grande quantidades de recursos como financiamento destas mesmas empresas. Eu entendo, perfeitamente, ser o mesmo ou pior, nos EUA. Agora na Europa, em Bruxelas por exemplo, estamos assistindo o caso da existência de 20.000 a 30.000 lobistas profissionais, cujo único trabalho é bater na porta das pessoas que tomam decisões e levá-las a relaxar as normas quanto a seus produtos. Muitas vezes, são as empresas que estão fazendo os materiais que formatam os dossiers que irão aos reguladores e nos quais basearão seus julgamentos. Uma boa parte da pesquisa está sendo dirigida para estabelecer a segurança de tudo o que se relaciona com eles. Estes tipos de questões são baseados em pesquisas das próprias indústrias. E, obviamente, elas vão estruturar as pesquisas de maneira a comprovarem que seus produtos são seguros. Outra coisa que realmente me chocou e que eu não tinha a mínima ideia, é que mesmo sendo conhecidos, continua-se com o uso de uma grande quantidade de toxinas que são rotineiramente usados na fabricação de alimentos. E continuamos a dizer que está tudo bem. Você deu o exemplo de hexano, que é um exemplo muito bom. É um solvente utilizado na fabricação de muitos aromatizantes, corantes e assim por diante. Mas o aspecto importante sobre isso … é que todas as suposições estão baseadas nas reflexões de Paracelsus. Era um médico e alquimista do século 16. Ele cunhou esta frase que estou parafraseando: “a dose é que faz o veneno”. Em outras palavras, se algo pode ser um veneno em uma dose, quando pode ser tóxico, se não tiver mais do que aquela dose, então não é mais um problema. Essa tem sido a hipótese em que se baseia toda a toxicologia moderna e do chamado arcabouço de regulamentação destes produtos. Mas o que realmente é um problema objetivo é que Paracelsus, obviamente, viveu no século 16, e não hoje. Não fazia tudo com automóveis como agora, seja uma viagem ou um passeio. Não estávamos pulverizando agrotóxicos por todas as culturas. E naquele tempo, todo o ambiente em que se vivia era muito mais limpo e mais puro do que o nosso na atualidade (nt.: destacamos também a diferença de que Paracelsus estava lidando com substâncias naturais e não as artificiais como abundam nos dias de hoje). E ninguém está realmente cuidando desta exposição a substâncias tóxicas. O que os cidadãos modernos dispõem hoje, é completamente diferente do que tinham durante o Renascimento. Então nós temos que dizer: “O que acontece com as pessoas que comem grandes quantidades de alimentos processados, aquelas que realmente baseiam suas dietas com este tipo de alimento?” Ninguém está fazendo nenhuma pesquisa sobre este aspecto. Portanto, tudo sendo fundamentado nestas hipóteses de que está tudo bem quando são pequenas as quantidades, faz com que não se olhe realmente para o efeito coquetel sobre as pessoas. Destacam-se especialmente as crianças que estão, obviamente, com seus corpos ainda em desenvolvimento. Estão por isso mais propensas a serem afetadas por uma sobrecarga química. Ninguém está dando nenhuma atenção, no momento, a isso. Essa é a ideia: “sim, algo é tóxico, mas tudo bem, não precisamos nos preocupar com isso. Isso é legal porque é apenas mais uma baixa dose… ”
DM: E alguns destes tóxicos, mesmo em baixas doses, são mais tóxicos em razão de terem efeitos hormonais (nt.: os conhecidos disruptores endócrinos). Agem como um hormônio e em concentrações muito específicas. Sendo que em altas concentrações não tem a ação hormonal como em baixas quando eles agem.
JB: Isso é realmente correto. Particularmente, há muitas evidências inquestionáveis nos dias de hoje sobre estas substâncias químicas. Elas estão presentes em embalagens em geral, e naquelas que se usa para os alimentos especificamente, tais como os diruptores endócrinos: ftalato e Bisfenol A (BPA).
DM: Sim, os ftalatos e o BPA.
JB: Perfeitamente. Estes geram uma confusão e uma indefinição nos gêneros. Eles afetam o sistema endócrino. Estes efeitos estão agora muito bem conhecidos e estabelecidos. Mesmo fazendo isso e os responsáveis governamentais ainda não disseram: “iremos exigir, estamos permitindo que haja um sistema de alimentos que os embale e não só…”
DM: E retornando ao tema governo, você mencionou [que há] de 25.000 a 30.000 lobistas na Europa. Suspeito que o mesmo esteja acontecendo nos Estados Unidos. Pode-se fazer um debate sobre este aspecto e isso é bom. Eles devem ter capacidade para fazer isso. Mas eu mencionei que uma percentagem significativa destes lobistas deve ser de antigos médicos pagos em suas agências reguladoras. Em outras palavras, eles eram íntimos destas estruturas por terem trabalhado por lá. Sabem como o sistema funciona, retornam então a seguir para a indústria normalmente recebendo salários muitas vezes maiores do que eles recebiam, porque eles podem alavancar, por essa experiência governamental, esta influência enorme vinda das indústrias. Então, a um preço relativamente pequeno, as indústrias podem manipular os controles regulamentares.
JB: Sim, correto. Aqui no Reino Unido chamamos esta situação de ‘porta giratória’. Há uma proximidade e intimidade insalubres entre os reguladores, os fabricantes e as indústrias de alimentos e, é claro, que um fabricante de alimentos é basicamente uma indústria química só que com outro nome.
DM: E também uma indústria de drogas sob outra denominação.
JB: Sim, é também uma indústria de drogas.
DM: Que surge da indústria química.
JB: Sim. Para mim, a lição de casa é que, na Europa, temos esta ideia de que os alimentos processados estão ficando cada vez melhor. Tudo estaria ficando um pouco mais natural o que, na verdade, é um erro. Não podemos, realmente, confiar em nossos reguladores para se obter o correto. O que isto significa é que temos que adotar a nossa própria precaução que chamo de ‘PPP: Princípio de Precaução Pessoal’. Somos a única pessoa que vai realmente se preocupar em pensar sobre esses problemas para lidar com a sua comida. Não podemos confiar em ninguém fazendo isso por nós.
DM: Não tem dúvida de que, antes de ler o seu livro, comia melhor do que mais do que 99% da população, provavelmente até 99,9%. Mas afirmo agora que minha motivação para comer ainda melhor aumentou radicalmente por causa da consciência e da compreensão que adquiri depois de me aperceber de todos estes segredos da indústria que você expôs. Para mim, é relativamente fácil fazer isso. Mas para muitas pessoas não é, em razão de sua renda e suas vidas pressionadas pela falta de tempo. No meu entendimento, trata-se de motivar e capacitar as pessoas a seguirem o caminho de evitar alimentos processados. O primeiro passo é ter consciência. O atalho mais simples para isso é beneficiar-se de seus anos de pesquisa. Dai, ler o livro. Rapidamente já se terá o conhecimento. Sairemos então inspirados para nos motivar e a sermos persistentes neste caminho. E após termos o conhecimento, o que você recomendaria como uma estratégia para se certificar de que se está evitando esses produtos químicos que a indústria coloca nos alimentos e nos engana?
JB: Certo, tenho na verdade compartilhado uma série de ideia. Mas tem um pessoal que conheço que me dizem: “certíssimo, mas tu sabes o quê? Eu vou morrer mais cedo ou mais tarde. Então…”.
DM: Pois é, esta é um posicionamento bem comum.
JB: Na verdade, simpatizo com estas pessoas. Porque é muito mais fácil de dizer: “Sabes o quê? Eu vou só filosofar sobre isso. Eu não vou me preocupar muito, não.” E eu acho que isso é bom se esta atitude for tomada, porque realmente se entendeu o que está acontecendo. É como se alguém me dissesse: “certo, me disseste isso e eu ouvi. Mas não quero, não vou mudar o que faço”. E acho que é razoável. No entanto, parece-me que, no momento, uma série de pessoas estão comprando o que consideram como se fosse uma comida tradicional que milhões de outras pessoas também estão comendo.
DM: Deixe-me apenas parar aqui por um momento, se puder suspender um pouco seu pensamento, porque me ocorre a percepção de que eu recém completei 60 anos no ano passado. A minha rede de amigos e de parentes também está envelhecendo. Ficou mais comum para mim ter experiências pessoais com aqueles que estão morrendo de câncer, que geralmente são aqueles indivíduos que pensaram: “eu vou morrer de qualquer jeito algum dia”. Estes são aqueles que ainda estão em idades bem mais jovens. Mas estão morrendo. Meu palpite é que o leitor poderia usar esta realidade, se este tipo de pessoa é um amigo, um parente ou alguém que conhece, para inspirá-lo para não passar por esse tipo de dor ou sofrimento e ter morte prematura.
JB: Acho que é isso ai mesmo. É interessante porque não é só o câncer, obviamente. Outras doenças como o aumento no número de tipos de inflamações intestinais e enfermidades que agora parecem estar afetando tantas pessoas. Temos síndrome do intestino irritável (nt.: irritable bowel syndrome/IBS), a doença de Crohn, a doença celíaca e todo este espectro. Isso tudo está parecendo ser muito comum. Crianças e adultos que estão relatando algum tipo de reação adversa aos alimentos. Tive uma experiência interessante. Estava conversando com minha mãe que tem 89 anos e ela me disse: “eu só não lembro de tantas pessoas com alergias e estas coisas todas quando eu era jovem. Isto é realmente algo muito recente.” E eu acho que ela está certa. Estamos vivendo basicamente o que tem sido o grande experimento dos alimentos processados. Eu diria que, provavelmente, podemos prever como vai terminar sem precisar ir ao fim do caminho. Acho que estamos saltando fora deste mundo muito cedo. Mas o que eu faço é entender as pessoas como elas são. Eu simplesmente não consigo lidar com isso que está me dizendo. É muita coisa. Eu acho que para as pessoas que estão ouvindo, estão dizendo: “ok, estou preocupado; mas o que posso fazer?” Para mim, é muito, muito simples. Tenho três palavrinhas para em seguida virarem uma só. As três palavras são: “evitar comidas processadas” e a palavrinha única é: “cozinhar”. Basicamente se cozinharmos e pudermos escolher os ingredientes que sejam integrais… pronto. Não quero dizer que não haja alguns fatos com os ingredientes integrais. Parece-me que eles ainda…
DM: Penso que se poderia modificar a palavra “cozinhar” para “preparar sua própria alimentação”. Porque em alguns casos, como fazer uma salada, não estaríamos cozinhando.
JB: Perfeito. De fato, preparar seu próprio alimento. Isto é exatamente o que eu quero dizer. Em outras palavras, estaremos na mudança do processamento do nosso alimento ser por nossa conta. Sabemos o que iremos colocar nele. Pensei muito sobre isso e com muito cuidado levei ao livro porque… na verdade, meu passado pode ser resumido com este sentimento: adoro comidas. Acabei entrando neste processo porque eu quero defender o que vejo como um alimento real. Não quero vê-lo sendo comprometido e corrompido. Entrei nesse processo como alguém que ama comer. Não sou daquelas pessoas que pensam: “meu corpo é um templo e não quero que nada que não seja bom para mim, passe pelos meus lábios”. Mas acho que se pudermos preparar e ter o controle sobre os ingredientes de nossa dieta diária… Aqui estão os antigos alimentos processados que ainda poderemos comprar. Quero dizer que se pode comprar mostarda. Podemos comprar… Existem vários tipos de produtos.
DM: Como condimentos.
JB: Exato, os condimentos. Fico feliz ao comprar massa e macarrão. Existem coisas que eu compro. Por exemplo, não cultivo trigo. Eu nunca assei um pão com fermento na minha vida. Sempre serei alguém que ira comprar pão mais do que o assar, embora eu realmente respeite as pessoas que fazem isso. Mas, obviamente, todos nós temos de encontrar uma espécie de meio termo. Mas eu só sei que, para mim, faz sentido basear a minha dieta e da minha família, em torno de alimentos integrais como cortes inteiros de carne. Os alimentos que não estejam embrulhados em qualquer espécie de empacotamento além de se apresentarem com sua própria integridade. Acho que é assim que deve ser. Acho que a questão prende-se ao aspecto de quando não se cozinha ou se preparar a própria comida, parecendo então que a coisa é muito mais complexa do que é. Mas quando nós nos acostumamos com este processo e fazemos isso regularmente, ele se torna então uma rotina. Percebemos quanto prazer se tem quando se começa todo esse negócio de comer. Quero dizer, deve ser uma das coisas que mais enriquece o que fazemos de nossa vida. Além disso, estamos fazendo algo só para nos sentirmos melhor. E acredito – bem, eu posso dizer que sei – que vamos economizar neste processo muito dinheiro, simplesmente porque não estaremos pagando embalagens, caixas, plásticos e todas estas alternativas, como se frescos fossem, bem como com a ilusão de uma percepção como se fosse um fruto natural. Estaremos recebendo em nós mesmo algo totalmente genuíno.
DM: Bem, ficamos agradecidos. E deixa eu lhe dar uma pequena percepção, porque espero que eu possa lhe motivar a assar o seu próprio pão. Minha atual experiência pessoal é que eu estou andando em torno de três e meio km por dia. Assim, realmente tenho uma necessidade de calorias relativamente significativa que tenho que substituir por outras além da minha dieta normal. Eu preciso de uma fonte de calorias. E pensei: “tenho um pouco de farinha de coco extra, como faço para usar isso?” Descobri que o pão de banana foi uma solução fácil. É uma coisa simples de fazer. Vou lhe dar a receita. São quatro bananas, quatro ovos, 350 gramas de manteiga (a manteiga com a mais alta qualidade que se possa obter), um pouco de canela, fermento em pó e bicarbonato de sódio. Mistura tudo. E adiciona um pouco de estévia, se quiser. E então, está pronto. Pode fazer isso e ai se tem o pão, que leva apenas, literalmente, uns 10 minutos para se preparar. Podemos congelá-lo se for preciso. É realmente saboroso.
JB: Parece realmente bom, fora a estévia, que eu…
DM: A estévia é um extrato, mas podemos ter toda a planta ou mesmo em pó.
JB: Ah.
DM: E então podemos usá-la.
JB: Sim. Tomei conhecimento de alguma coisa a respeito dela porque não temos visto isso no Reino Unido. O que temos visto é este tipo de extrato de estévia.
DM: Sim, este é mais comum, mas se pode ir em lojas especializadas e encontrar as várias alternativas de estévia.
JB: Certo. Muito interessante e vou ver o que encontro.
DM: Ou cultiva você mesma. Cresce muito bem em interiores.
JB: Sim. Não só agora vou me tornar uma padeira, mas também uma agricultora.
DM: Está bem. Mas ouça. Este é o último estágio, Joanna, de alguém que está seriamente interessada em seu própria alimentação. Pelo menos em minhas últimas décadas estudando saúde, o último estágio é perceber que a qualidade do alimento está diretamente relacionada ao solo e que idealmente podemos otimizá-lo em torno de nossa casa e cultivar a nossas próprias plantas, inclusive dentro de casa mesmo. Quero dizer que pode ser simples brotos de girassol que se pode ter dentro de casa. É bastante fácil. Mas, finalmente podemos ser inspirados a termos um belo jardim.
JB: Sim.
DM: Cultivo de jardins.
JB: Sinto como tu, neste aspecto. Estou absolutamente convencida disso. Este é um movimento que cresce, não é?, de pessoas que cultivam cada vez mais coisas, mesmo que sejam poucas plantas ou grandes floreiras nos peitoris da janelas.
DM: É incrível.
JB: É muito lindo mesmo. Mas o que me parece é que meu livro é sobre como levar as pessoas a perceberem que elas não vão encontrar a comida que elas sonham, que vão receber de fontes tradicionais de elaboração de alimentos e voltarem a considerar a preparação dos alimentos em casa e mesmo cultivar o que for possível. Ela na verdade demonstra a óbvia extensão lógica de tudo isso.
DM: Estou querendo… depois desta sua habilidade de ter se imiscuído no seio da indústria e se tornado uma dentre eles… qual tem sido a resposta que você tem recebido da indústria desde que o livro foi publicado?
JB: Bem, isso tem sido muito interessante. Não ocorreu nada vindo da indústria de alimentos. Nada, nenhuma palavra. Eu acho que eles querem que o livro desapareça. Tem aqui uma revista muito importante neste ramo comercial, chamada ‘The Grocer‘. É lido por varejistas e fabricantes de alimentos. Quando eles fizeram a cobertura do meu livro, imediatamente foram à indústria. O melhor que conseguiram foi a fala de uma espécie de associação comercial que falou em nome da indústria. E veio sua posição numa espécie de fala vaga e nebulosa. Eles não foram realmente desafiados pelo livro. Penso que eles esperam que seja só um processo passageiro, vão apenas passar por cima e que podem continuar como tudo era antes. Mas eu acho que, agora eles percebem, pelo menos, que essa coisa toda do ‘Clean Label‘ (nt.: Rótulo Limpo) foi golpe à parte, e que as pessoas entendam que esta expressão é apenas semântica.
DM: Pode explicar isso melhor já que não ficou em esclarecido o que o livro discorre tão bem sobre esta expressão?
JB: Claro.
DM: Peço que discuta exatamente o que é este ‘Clean Label‘.
JB: Ok. Bem, o ‘Clean Label‘ é o que a indústria de alimentos percebeu, há uns 10 ou 15 anos, e tem sido óbvio que o consumidor consciente e articulado, vem mostrando que o ato de consumir, dos dois lados do Atlântico, está ligado a um alimento natural. Mas se formos comprar algo processado e verificar o que tem um rótulo, veremos que ele está cheio de ingredientes que não entendemos ou com expressão tão longas e complexas, com números anexados a elas, que nós acabamos desistindo de consumir este produto. O que a indústria fez, foi tentar remover estes aditivos e ingredientes que poderiam estar causando em nós, os consumidores, algum tipo de alarme, fazendo-nos [dizer] “o que é isso que está neste alimento?” e assim trocando-os por outros que nos soassem melhor. Estas são as coisas que discutimos anteriormente. Coisas como ‘concentrado de cenoura’ podendo aparecer agora em lugar de um colorante que poderia simplesmente informar ‘colorante’ e ter um novo número como eram os com os aditivos anteriores, em nosso caso atrelado a ele. Esta é a ‘malandragem’ do ‘Clean Label‘. A indústria alimentícia realmente está se organizando para tentar nos acalmar e convencer-nos de que o alimento processado é verdadeiramente melhor hoje em dia. Esta é a conceituação que envolve o ‘Clean Label’. Constato que meu livro foi um tipo de desmonte porque o que posso ver, é que este tipo de substituto, mostra ser na verdade o mesmo tipo de aditivos sob outro nome. Não há nada verdadeiramente natural. É só porque isso ai soa melhor. Não se consegue conectar nada de ruim nele. Isso é essencialmente o que a indústria de alimentos vem mostrando ser como o que tem de mais avançado.
DM: Bem, grato por suas explicações. Um dos princípios no meu programa saudável de nutrição ou meu Plano Nutricional, como eu o denomino, (está disponível graciosamente no meu website, ou na homepage), é que algo deve ser pago… Alguém deve despender um tempo na cozinha, como você aludiu anteriormente. Seja você mesma, seu marido ou alguém que foi paga para fazer isso. Não há dúvida sobre isso. Penso que o leitor será inspirado a seguir este princípio se ler o livro. Assim, primeiro, efetivamente devemos adquirir um exemplar do livro para ficarmos convencidos desta alteração de hábitos. Você teria alguma outra fonte que se possa acessar para se obter estas informações?
JB: Sim, tenho. Meu website é ‘ www.JoannaBlythmanWriting.com ‘, tudo junto.
DM: Soletramos como: J-O-A-N-N-A-B-L-Y-T-H-M-A-N.com?
JB: ‘É ‘ www.JoannaBlythmanWriting.com ‘.
DM: Obrigado.
JB: Mas mesmo se acessar no google Joanna Blythman, se encontrará isso tudo.
…..
JB: E tem todo o meu trabalho jornalístico. Faço cobertura de tudo. Também inclui aspectos do livro. E online, existem vários links que se pode acessar pelo nosso website, e da mesma forma os artigos que foram escritos por causa do livro e que vêm tendo um forte impacto no Reino Unido. Assim ai, se o leitor quiser ter um sabor do livro sem precisar comprá-lo, pode dar uma olhada nestes materiais que poderão, espero, lhe levar a querer ler o livro.
DM: Ótimo. E quais os planos futuros?
JB: Bem, tenho algumas ideias na minha cabeça, na verdade. Na verdade, penso que de toda esta área só…, vamos dizer, ter arranhado sua superfície. Estão acontecendo tantas coisas novas sendo desenvolvidas em alimentos. Estamos observando a biologia sintética que também é chamada de ‘SynBio‘ (nt.: ver https://nossofuturoroubado.com.br/do-transgenico-ao-sintetico-como-a-biologia-sintetica-escapa-da-lei/). Esta tecnologia lida com biologia totalmente sintética. Temos visto coisas como com o aromatizante baunilha (nt.: ver caso do perfume vetiver: https://nossofuturoroubado.com.br/a-biologia-sintetica-poderia-abrir-outra-caixa-de-pandora/) sendo produzido pelos métodos da SynBio. Vê-se que eles são basicamente uma engenharia genética em uma forma extrema. É transgênica, ou seja, a modificação genética (genetic modification/GM). E obviamente com todo o peso de numerosos riscos.
DM: Está vindo com tudo. Craig Venter é provável quem lidera esta área da ‘SynBiology’, nos EUA.
JB: Sim.
DM: Existem outros atuando neste campo. A Universidade de Harvard também está chegando sem dúvida. A tecnologia se amplia exponencialmente e para permitir que isso ocorra mais facilmente e de maneira mais barata. Podes ter certeza que veremos mais e mais disso tudo no futuro. Não existem questionamento sobre isso.
JB: Acho que é por ai. Existem então muitas tecnologias. Eu acho, por exemplo, que não aprofundamos a discussão sobre as enzimas. Elas estão fortemente presentes por detrás dos panos, no processamento de alimentos. Para fazer coisas como quando os ovos são pasteurizados que perdem sua coloração natural. Neste estágio, eles introduzem uma enzima que então dá aos ovos uma melhor cor. Existe toda uma sorte de usos de enzimas no processamento alimentar. Sabemos que existem neste país, de qualquer jeito, 150 enzimas sendo utilizadas para processar os alimentos. Normalmente nem se cogita colocar nos rótulos. Tem, pelo menos um ingrediente de enzima modificada em cada um dos processamentos. Determinados alimentos têm… como no caso do pão, cinco se formos comprar o pão convencional que está ai no mercado.
DM: Bem, elas não são por si só intrinsecamente tóxicas. São na verdade somente proteínas e amino ácidos que são metabolizados. Mas o que elas fazem é mascarar e enganar o processo subsequente, induzindo-nos a acreditar que estamos comprando algo que realmente não é.
JB: Exato, é isso o que acontece. O exemplo clássico é o sabor de queijo maturado. Se maturamos o queijo da maneira apropriada, fazemos como a tradição faz e teremos um queijo. Fazemos isso por três ou seis meses, às vezes por mais tempo, para que se desenvolva aquele delicioso sabor de queijo maturado. No entanto, podemos fazer isso com poucos dias com uma enzima. Podemos então criar este falso sabor. É como antes mencionei, o tecnólogo de alimentos tem o objetivo de reduzir os ingredientes reais e encontrar substitutos.
DM: Exato. No livro tem uma seção somente sobre o caso da manteiga.
JB: E eles têm o mesmo efeito.
DM: A manteiga é cara por isso elas não pretendem colocá-la nos alimentos. Querem colocar algo que dê o mesmo impacto no sabor e no paladar, mas que não pese no custo. Tudo gira em torno do custo.
JB: É verdade. Querem realmente tirar a manteiga e acrescentar algo como água, colorante ou determinada coisa bem barata e muito óleo quimicamente processado. Então eles conectam isso a…
DM: Os óleos vegetais são geneticamente modificados, são transgênicos.
JB: Sim.
DM: E agora tem uma nova pesquisa que traz o ômega-6 como tóxico.
JB: Exatamente. Isso vai entrar. Mas eles ainda vão colocar o produto manteiga suficiente para que possam rotulá-lo como “feito com manteiga”. Exatamente isso. É muito interessante. Uma coisa que eu não disse que iria adorar compartilhar é que uma das coisas que eu descobri é que os alimentos mais processados não iriam ser atrativos, nem para olhar, se não tivessem os corantes adicionados. Seriam cinza e bege. O caso clássico aqui é a margarina. Se alguém visse o que ela é na realidade, assim sem a coloração, não quereria de jeito nenhum.
DM: Tem alguém que ainda compra margarina nos dias de hoje?
JB: Aqui aparecem as prateleiras que crescem com coisas chamadas de guloseimas que são realmente consumidas por muitos.
DM: Puxa … isso é bem triste.
JB: Só que agora elas estão sendo renomeadas. É claro que os aromas estão substituindo os naturais… Eles tentam substituir os sabores que tenham sido removidos pelo processamento. Assim estes aromatizantes fazerem dois serviços nos alimentos processados. Um é encobrir o gosto desagradável que vem como resultado do processamento. Este mascaramento destas substâncias é um dos principais motivos pelos quais as indústrias de alimentos usam estes produtos. Mas eles também são usados numa tentativa de dar sabor dos alimentos quando eles passaram por um processo de fabricação quando foram totalmente retirados pelo processamento. Eles têm que tentar fazer isso, adicionando de volta algo que se assemelhe a uma espécie de sabor que se perdeu. Como o processamento é feito em alta temperatura e alta pressão, geram grandes estresses nos ingredientes. Eles estão como se fosse um tipo de morto jogado num canto, depois disso. Algo então deve ser feito para que este morto volte a ter um gosto agradável e palatável novamente. Esta é a lógica da presença de aromatizantes e corantes.
DM: Formidável. Acho que você nos deu uma boa amostra do que está no livro, descrevendo alguns destaques. Mais uma vez, fica claro que precisamos evitar os alimentos processados. Tenho certeza de que provavelmente todos que leram estas informações ou ouviram sua entrevista no vídeo já entenderam este ponto. Mas não há nenhuma dúvida, pelo menos da minha parte, do reconhecimento da magnífica pesquisa que se transformou neste livro. Realmente este esclarecimento não está disponível em qualquer outro lugar. Como uma infiltrada, você foi descobrir os detalhes específicos do porquê tudo isso é assim. Isso é muito empoderador, mobilizador e inspirador como resultado deste trabalho. Encorajo vivamente a todos que adquiram este livro e o leiam. E depois passá-lo de mão em mão. Criar a consciência de que finalmente se pode esperar inspiração de mais e mais pessoas a elegerem com seu dinheiro alimento e não esta comida processada que é um lixo. Só assim a indústria vai responder à esta nossa opção. Se não comprarmos mais esse lixo, elas não irão mais produzi-lo. Em última análise, eles são homens de negócios. Eles não irão fornecer este tipo de produto se não houver mercado. Eles não são estúpidos, vão perder dinheiro se insistirem. Não vão quer isso. Podemos colocar nosso dinheiro em coisas melhores. Gratidão plena por se colocar nesta empreitada de forma dura e diligente como foi. Da mesma forma, compilar estas informações principalmente porque ninguém havia feito isso antes. É um verdadeiro tesouro encontrar todos estes dados em um lugar só, como está no seu livro.
JB: Grato. Fico realmente feliz por considerá-lo útil. O livro tem este real sentido de levar às pessoas um tipo de informação que possam levá-las a dar um passo a frente no seu entendimento quanto aos alimentos processados. Sinto que todos nós estamos presos a livros de leitura sem grandes consequências. Mas penso que precisamos agora avançar rapidamente na qualificação de nossas leituras.
DM: Sim, nós temos que recuperar o atraso em relação ao que a indústria vem fazendo sem nosso conhecimento. Elas realmente atropelam nossa compreensão sobre que diabos elas estão fazendo com nossa comida.
JB: Sim, isso é incrivelmente real. Estou muito feliz por termos falado. Tem sido um grande prazer, verdadeiramente, já estarmos discutindo estes fatos e sentirmos que esta informação está lá no mundo, na arena pública. É uma fonte dirigida a pessoas que estão sensibilizadas. E fico muito feliz por ter sido capaz de fazer isso.
[Fim]
Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, junho de 2015.