Rio Grande do Sul enfrentou enchentes e alagamentos por chuvas intensas. Imagem: Anselmo Cunha / 26.MAI.2024-AFP
[NOTA DO WEBSITE: Percebe-se que nas informações que são mais clamores do que simples partilhas, que os cientistas climáticos têm lançado ao mundo, as situações extremas não são isoladas nem desconectadas. Não importa se são secas, cheias, tornados, furacões etc., os efeitos devastadores, por serem extremos são os gritos que a Terra tem nos trazido. Infelizmente, ‘distraída e infantilmente’, temos sido negligentes, inconsequentes e irresponsáveis quando nos negamos a acolher essa amorosa fala daqueles que olham e captam muito além dos seu tempo o que egoicamente temos desprezado. Chorar depois como temos visto as populações ao sofrerem os resultados objetivos dessa ‘burrice’ global, demonstra como somos despresíveis nas nossas relações com a alteridade, seja ela qual for. Paciência, estamos colhendo o que viemos plantando a partir de nossos cegos e individualistas umbigos doentios].
Heloísa Barrense – Pelo menos 70% do território brasileiro poderá enfrentar grandes secas nos próximos anos, enquanto o Sul e parte do Sudeste correm o risco de sofrer chuvas intensas, como a que ocorreu no Rio Grande do Sul, segundo o climatologista Carlos Nobre. O cenário é uma consequência da emergência climática que o mundo enfrenta, onde as emissões de gases de efeito estufa continuam e a temperatura média da Terra só aumenta.
É isso que o aquecimento global mostra. E, com esse cenário, vêm os eventos extremos. Mesmo nos lugares que na chuva anual é pequena, ainda assim haverá um recorde de chuvas, como o que ocorreu no Grande Recife em 2022. Podemos esperar recordes tanto de chuvas, quanto de tanto de chuvas, quanto de secas — e com mais frequência desses fenômenos.
Carlos Nobre, climatologista
O que pode acontecer com o Brasil?
Assim como o resto do planeta, o país já está vivendo eventos climáticos extremos — e a tendência é aumentar. “Esse é o maior desafio que a humanidade já enfrentou na questão ambiental: não deixar a temperatura passar de 1,5ºC. Se continuarmos com as emissões de gases de efeito estufa, nós podemos atingir permanentemente 1,5ºC graus até 2030, o que já é muito grave, então isso mostra os riscos todos que nós estamos correndo”, explica o climatologista Carlos Nobre.
Se a temperatura continuar aumentando, cidades podem ficar inabitáveis devido ao calor. “Se o aumento for de 4 graus, já teremos um monte de locais inabitáveis durante o verão. O corpo humano não vai resistir a essa temperatura e umidade que vai ter em lugares tropicais e os verões das latitudes médias [regiões situadas entre os trópicos]. Um exemplo: se a temperatura média do planeta aumentar 4 graus, isso será sentindo no Rio de Janeiro em 5 ou 6 graus, já que a cidade está ao lado do oceano, com bastante umidade. A essa mudança, o corpo humano não resiste. Então, essas regiões do planeta se tornam inabitáveis. A gente não pode, em hipótese nenhuma, deixar chegar nesse ponto.”
A Amazônia pode passar do ponto de não retorno com um aumento de 1,5ºC e regiões do Centro-Oeste e Nordeste sofrerão mais secas. “Se isso acontecer, a floresta vai se autodegradar e perder uma quantidade gigantesca da biodiversidade. Entre 30 e 50 anos é possível que se perca metade dela, em um ambiente totalmente a céu aberto. Isso pode ocorrer pela mudança da temperatura global associada com o desmatamento. No entanto, mesmo que milagrosamente se pare o desmatamento por completo, a autodegradação continuará. Isso pode acontecer também com outros biomas, como o Cerrado. Além disso, com os oceanos mais quentes, isso pode induzir ainda mais secas na região.”
No Sul e parte do Sudeste, as chuvas aumentam. “O que as mudanças climáticas vão induzir é que muitas frentes frias vão ficar mais estacionadas mais para o sul e ali aumentam as chuvas. Isso também se deve porque os oceanos vão evaporar muito mais água. Com as frentes frias e esse ar muito úmido, há esse aumento de chuva anual. Mas não apenas esse aumento das chuvas ao longo do ano, como também de chuvas extremas — essas, na verdade, podem ocorrer em todo o Brasil. Mas, apesar das chuvas, ainda o sul e sudeste sofrerão ondas de calor. Elas aumentaram em todo o mundo. Quando, por exemplo, há um sistema que bloqueia mais ao sul as frentes frias, certamente ali também vão ter ondas de calor”.
O problema das ondas de calor
As ondas de calor são os eventos extremos que mais estão ocorrendo no mundo inteiro. Mais de 61 mil pessoas morreram de calor na Europa durante o verão rigoroso de 2022. Segundo relatório publicado no The Lancet no ano passado, mortes de idosos com mais de 65 anos que estão relacionadas ao calor aumentaram 85% desde a década de 1990.
As ondas de calor estão levando, no Brasil, a mais de 4.000 mortes por ano. E as mortes são principalmente idosos e idosas, além de bebês. Isso porque as pessoas idosas ficam mais vulneráveis a uma série de doenças e quando há uma onda de calor, dispara um monte de problemas como desidratação, doenças cardíacas, pressão alta. Em muitas partes do mundo, populações pobres não têm recursos para ter um clima doméstico bom, com ar-condicionado, por exemplo. Então isso passa a ser uma grande questão que o país terá que enfrentar.
Carlos Nobre, climatologista.
Não se fala mais em mudanças climáticas, mas em emergência. Os recordes de temperatura e os eventos climáticos extremos acendem um alerta para a gravidade da situação climática ao redor do mundo.
Temos muita preocupação porque, se continuarem as emissões dos gases de efeito estufa, corremos um risco enorme de passarmos de um aumento de temperatura média de 2º C em 2050 e traz um enorme risco de uma ‘bomba climática’, porque isso trará um impacto muito grande para nós, humanos, mas também para a biodiversidade, com uma série de extinções. Essa é emergência que estamos vivendo.
Carlos Nobre, climatologista.
Excelente matéria! Diz tudo o que precisamos fazer.
Sem dúvida! Clema como Lutz já fazia há décadas. Grato pela mensagem, Luiz Jacques.