Emergência climática: Dados mostram que Brasil perdeu 55% da região do agreste e está se tornando sertão

“Torna-se urgentemente necessário zerar os desmatamentos da Caatinga e restaurar um grande porcentual dessas áreas desmatadas” – Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil – Sobradinho, seca de 2015.

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[NOTA DO WEBSITE: Passarão alguns meses ou anos e todos diremos: “Puxa! Por que não acolhemos e agradecemos a cientistas como os irmãos Nobre que vêm, há anos, nos mostrando a loucura desses tempos em que não ‘ouvimos’ nem honramos os alertas que a Natureza tem nos dado?”. Talvez possa ser tarde demais como todas as famílias arrasadas pelas cheias de maio de 24, no Rio Grande do Sul, estão plasmadas. Mas não foi o fizemos com os clamores, no verdadeiro sentido da expressão, que, furiosamente muitas vezes, José Lutenberger, o ‘velho Lutz’, ‘berrava’ nos nossos ouvidos? E nós, impassíveis, fazíamos ouvidos moucos. Pois bem… aí está o que amorosamente, com veemência, o Lutz nos instigava. Mas agora, não adianta ‘chorar sobre o lenho seco’, nem ‘o leite (sic!) derramado’. A tristeza e a solidão é a herança que nós, os supremacistas brancos e os invasores, legamos para os conterrâneos gaúchos deserdados de hoje. Quem serão os de amanhã?].

Elas são rápidas, costumam durar de uma semana a um mês, mas são mortais. Estamos falando das secas-relâmpago, um fenômeno que está atingindo a única área verde do Nordeste conhecida como agreste. Essa região equivale a 725 mil  km2 , que corresponde a 55% do agreste.

Essa “devastação” não é recente, vem ocorrendo desde o início dos anos 1990 e está encurtando a distância entre a zona da mata (faixa de litoral) e as terras mais áridas (Caatinga ou sertão) dessa parte do Brasil. 

O governo brasileiro vem monitorando  essa região semiárida desde 1993 com pelo menos dois documentos importantes, assim como cientistas e ambientalistas. Um dos maiores especialistas em clima do mundo, o climatologista Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP e copresidente do Painel Científico para a Amazônia, explica que a chuva nessa região ocorre entre janeiro e agosto. 

Perda do agreste

Dados do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais)  e Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostram que o Brasil perdeu 55% da região de agreste em 2023, o que está tornando a área uma região de sertão. 

Segundo a Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), é a região árida mais populosa do mundo, com 31 milhões de habitantes. O semiárido hoje inclui 215 municípios em 11 Estados brasileiros. O aquecimento global e o desmatamento são as principais razões dessa expansão de área desértica, mas o reflorestamento poderia ser uma alternativa para reverter a situação. 

“Torna-se urgentemente necessário zerar os desmatamentos da caatinga e restaurar um grande porcentual dessas áreas desmatadas, evitar as pastagens degradadas que têm levado à desertificação de áreas do semiárido, combater a devido ao aquecimento global e não permitir que a temperatura global ultrapasse 1,5 graus Celsius, um grande desafio se não reduzirmos muito rapidamente as emissões globais dos gases de efeito estufa e, por fim, o potencial econômico e social para a Caatinga é desenvolver uma economia baseada na grande biodiversidade da Caatinga e mantendo essa vegetação”, afirma Nobre.