Na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, pesquisa do biólogo Renato Bacchi avaliou as atividades de educação ambiental que acontecem durante as práticas de ecoturismo no Parque Estadual da Serra do Mar, Núcleo Santa Virgínia, que tem sua sede localizada em São Luiz do Paraitinga, no Vale do Paraíba (interior de São Paulo).
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por Caio Albuquerque, da Agência USP
O estudo mostra que os visitantes do parque não apenas esperam saber mais sobre o ambiente local, mas recebem bem as informações dos monitores. O biólogo recomenda o aprimoramento do trabalho educativo de modo a sensibilizar os visitantes e trazer discussões sobre o ambiente global e questões sociais.
“O Núcleo Santa Virgínia se mostra propício para este estudo, já que abriga diversas cachoeiras, rios, paisagens, inclusive protegendo o Rio Paraibuna, o qual forma o Rio Paraíba do Sul”, relata o biólogo. Segundo Bacchi, no interior do Núcleo existem 6 trilhas interpretativas abertas para a visitação e o rafting (descida em corredeiras em equipe utilizando botes infláveis e equipamentos de segurança), que ocorre no Rio Paraibuna. “Todas as visitas são agendadas e acompanhadas de um monitor ambiental ou do guia do rafting”.
Na prática, o biólogo aplicou questionários com os visitantes que realizaram ou alguma das trilhas ou o rafting. O questionário analisou a aceitação dos participantes em relação à educação ambiental no ecoturismo, o que as pessoas buscam em um passeio ecoturístico e sua percepção em relação às atividades. Os dados qualitativos foram coletados a partir de entrevistas com os monitores do núcleo, com o gestor da área e com um responsável pela operadora de rafting. “Ainda foram realizadas observações em campo, quando acompanhamos diversos grupos nas trilhas do parque e durante a descida de rafting”.
Após a coleta de dados, o estudo comparou os resultados com os princípios e diretrizes de documentos que regem a educação ambiental no Brasil, como o Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA) e a Estratégia Nacional de Comunicação e Educação Ambiental no Âmbito do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (ENCEA). “Posteriormente, discutimos a educação ambiental realizada no Núcleo baseando-se nas diversas vertentes da educação ambiental, a fim de entender as potencialidades e benefícios que estas atividades podem trazer”.
Aceitação
Segundo o pesquisador, os principais resultados mostram a grande aceitação dos visitantes pela educação ambiental no ecoturismo. “Praticamente 99% dos participantes do rafting e 98% das trilhas disseram que deve existir educação ambiental durante atividades de ecoturismo. Ainda estes disseram que a motivação para realizar ecoturismo é o contato com a natureza em primeiro lugar e a vontade de aprender algo novo em segundo lugar, mostrando assim um grande interesse na prática educativa em contato com a natureza”.
Bacchi lembra ainda que foi possível perceber um esforço extremamente positivo por parte do Núcleo em incorporar a educação ambiental durante as visitas, abordando desde informações sobre o ambiente local, sensibilização dos visitantes e ampliando as discussões para temas sobre o ambiente global e até questões sociais. “Durante as observações, tanto nas trilhas quanto no rafting, foi possível notar diversos comentários dos ecoturistas sobre a beleza do local, sobre os sons que escutavam, comentários positivos sobre as informações que o guia passava e uma grande satisfação por estar realizando o passeio. Nos questionários encontramos também relatos sobre emoções e sentimentos relacionados a esta sensação de relaxamento, bem-estar e de pertencimento ao ambiente visitado, sendo que não houve nenhuma reclamação em relação aos monitores ou ligadas à educação ambiental”.
Entretanto foi possível notar que, apesar de atividades e conceitos aplicados mostrarem-se positivos, a educação ambiental não tem sido discutida na teoria, nem durante os cursos de capacitação, nem no dia-a-dia dos monitores. “Essa falta de discussão e de entendimento da educação ambiental pode fazer com que os monitores do núcleo estejam apenas repetindo valores, não se beneficiando das ações realizadas e não aproveitando todo o potencial que a educação ambiental do núcleo pode oferecer, tanto para os monitores quanto para os visitantes”, observa.
O estudo teve apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e conclui que, para que se possa dar uma configuração à educação ambiental no ecoturismo se faz necessário entender como essa educação tem sido trabalhada pelos monitores e guias locais. “Somente após uma avaliação da situação atual, logicamente respeitando-se as realidades ambientais, culturais e socioeconômicas de cada local, é que se pode propor melhorias para efetivamente colocá-las em prática. O passeio à natureza faz o visitante se sentir responsável por aquele ambiente e mudar suas atitudes, adotando um comportamento ético em relação ao meio natural, principalmente se esta permanência for direcionada para a sensibilização da pessoa a partir da educação ambiental”, finaliza Bacchi.
A proliferação de atividades ligadas ao ecoturismo propiciou, nas últimas décadas, o aumento de pessoas que visitam ambientes naturais como ação de contemplação, busca de bem estar e relaxamento. No entanto, a percepção de que, em raras oportunidades verifica-se o desenvolvimento de ações de educação ambiental nesse setor, levou Bacchi a buscar entender como essa prática tem sido trabalhada durante essas ações. A pesquisa foi realizada no Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aplicada da Esalq, sob orientação de Odaléia Telles Marcondes Machado Queiroz, professora do Departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES) e coorientação de Zysman Neiman, do Departamento de Ciências Humanas e Educação, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em Sorocaba.
* Publicado originalmente no site Agência USP.
(Agência USP),