Resumo da história
- Mais de 84.000 químicos são inseridos nos alimentos e nos produtos norte americanos a cada ano sem avaliações de sua segurança, gerando mais de $763 bilhões de dólares de lucros para a indústria química;
- Fortes evidências científicas existem de que a exposição a estas substâncias químicas vem contribuindo para o câncer, anormalidades reprodutivas, puberdade precoce e uma variedade de problemas endócrinos, neurológicos e metabólicos;
- Está sendo impossível evitar estas contaminações químicas, mas podemos minimizá-las; uma listagem de dicas está disponível.
http://articles.mercola.com/sites/articles/archive/2015/06/06/chemical-exposure.aspx
https://www.youtube.com/watch?t=474&v=16bcXOZmLqs
By Dr. Mercola
Um fato lamentável é que estamos imersos numa sopa química em nossos cotidianos. O documentário de 2015, da série “Calalyst” da rede de tevê australiana ABC, “Our Chemical Lives” (nt.: ‘Nosso Cotidiano Químico’) foca as miríades de substâncias químicas presentes no nosso ar, alimentos, água além de produtos de uso doméstico e que podem comprometer nossa saúde.
Oitenta e quatro mil substâncias químicas estão legalizadas para serem comercializadas nos EUA, todas basicamente sem regulamentação.
Em 2011, os químicos geraram mais do que $763 bilhões de dólares em retorno econômico. Como um exemplo, os três milhões de toneladas de BPA/bisphenol-A (nt.: Bisfenol A, ver o que é no próprio site) produzido a cada ano gera em torno de $8 bilhões de dólares em lucro para seus fabricantes.
Aproximadamente 13.000 químicos são utilizados somente em cosméticos, dos quais só 10% foram avaliados quanto à sua segurança e apesar disso, novos são adicionados a cada ano. Normalmente os produtos de uso doméstico podem estar sendo as maiores fontes de contaminação que amplia a carga tóxica anual em nosso organismo.
A exposição aos químicos industriais e poluentes está contribuindo para a ampliação da gama de problemas de saúde, incluindo asma, câncer de mama e anormalidades do sistema reprodutivo, para mencionar somente alguns.
Crianças estão entrando no puberdade (puberty) mais cedo e em idades muito precoces. Em 2010, a média de idade do início da puberdade era de 10,5 anos para meninas— seis anos mais jovem do que em 1860, quando era aos 16,6 anos.1 A disfunção hormonal gerada pelo disruptores endócrinos é provavelmente a causa.2,3
Muitos químicos industriais vêm sendo percebidos que se acumulam no ambiente e outros ainda em nossos organismos. Mas, mesmo químicos que são possivelmente menos bioacumuladores, como o BPA, podem produzir efeitos biológicos significativos devido à contaminação contínua quase diária.
Como os Disruptores Endócrinos Enganam Nosso Corpo
Uma série de produtos químicos de uso doméstico comum são disruptores endócrinos, significando que eles alteram o funcionamento normal de nossos hormônios. São referidos como “substâncias químicas disruptores endócrinos” (Endocrine-disrupting chemicals/EDC).
Nossas glândulas endócrinas regulam os processos fisiológicos vitais como nosso metabolismo, habilidade reprodutiva além de nossos crescimento e desenvolvimento.
Um trabalho hormonal é interagir com as células no organismo, enviando sinais que as instruem para o desempenho de certas tarefas, no entanto os EDCs interferem com este processo de comunicação.
Estes químicos disruptores são similares na estrutura aos nossos hormônios sexuais naturais, como o estrogênio. Assim, mesmo em pequeníssimas exposições a eles podem ter o potencial de interferir com a fisiologia normal, enganando nossos organismos através do aumento ou do decréscimo de sua produção hormonal.
São as pequenas, mas repetidas, exposições aos EDCs que podem levar a mimetização de nosso sistema endócrino natural—e isso é o que torna este assunto tão preocupante. Nossos hormônios operam em concentrações de partes por milhões e partes por bilhão. É por isso que muitos especialistas acreditam não existirem níveis seguros de exposição para muitos deles.
A Contaminação Química Aos EDCs Começa no Útero
Os químicos afetam nenês e crianças pequenas mais do que crianças mais velhas ou pessoas adultas porque os menores estão em desenvolvimento muito mais aceleradamente do que estes outros e seus organismos são muito mais sensíveis.
Tudo o que uma mãe grávida coloca dentro de seu corpo pode potencialmente atingir seu bebê em desenvolvimento. Numa pesquisa emblemática de 2005,4 o ONG EWG detectou uma média de 200 químicos industriais e poluentes presentes no sangue do cordão umbilical de nenês nascidos nos EUA.
Análises detectaram um total de 287 químicos advindos de agrotóxicos, produtos de consumo, embalagens de alimentos e resíduos ambientais, incluindo o Bisfenol A (BPA), retardadores de chamas (nt.: ver este assunto no site e no link de 2015 – https://nossofuturoroubado.com.br/coca-cola-e-pepsico-aceitam-remover-retardador-de-chamas-de-seus-produtos/?fb_ref=Default), PCBs (nt.: nome comercial Ascarel, óleo que vazou em 2013, no sul da ilha de Sta. Cartarina) e mesmo o DDT (nt.: agrotóxico banido do 1° mundo, incluindo os EUA, em 1972!!). Escreveu a ONG EWG:
“Dos 287 químicos que nós detectamos no sangue do cordão umbilical, sabemos que 180 causam câncer em humanos ou animais, 217 são tóxicos para o cérebro e o sistema nervoso e 208 causam defeitos de nascimento ou desenvolvimento anormal em aminais de laboratório.
Os perigos da exposição pré- ou pós-natal a esta complexa mistura de carcinogênicos, tóxicos tanto ao desenvolvimento como neurotoxinas, nunca foram estudados”.
Há uma ciência convincente de que a contaminação pré-natal a certos químicos industriais está associado com o desenvolvimento anormal fetal, à diminuição da inteligência, problemas comportamentais, infertilidade, maturidade sexual anormal, disfunções metabólicas e câncer mais tarde no decorrer da vida.
Alguns destes químicos podem ultrapassar a placenta e produz efeitos em doses muito pequenas. Em um relatório revolucionário de 2012, da World Health Organization/WHO (nt.: Organização Mundial da Saúde/OMS) sobre os disruptores endócrinos, o autor escreveu:5,6
“Os diversos sistemas afetados por produtos químicos disruptores endócrinos, provavelmente incluindo todos os sistemas hormonais, variam desde aqueles que controlam o desenvolvimento, às funções dos órgãos reprodutivos bem como tecidos e órgãos que regulam o metabolismo e a saciedade.
Efeitos sobre aqueles sistemas que podem levar à obesidade, à infertilidade ou sua redução, às dificuldades de aprendizado e de memória, diabetes de origem adulta ou doença cardiovascular, como também graande variedade de outras enfermidades“.
As advertências do relatório da Endocrine Society7 são tão ameaçadoras como aquelas do relatório da OMS:
“A evidência quanto aos resultados adversos sobre a reprodução (infertilidade, cânceres, malformações) pela exposição aos químicos disruptores endócrinos é forte e existe grande volume de evidências quanto a seus efeitos em outros sistemas endócrinos, incluindo tireoide, neuroendócrino, obesidade e metabolismo, além das homeostases da insulina e da glicose…
Os efeitos dos disruptores endócrinos podem ser transmitidos às futuras gerações através de modificações epigenéticas germinativas ou pela exposição continuada da prole às agressões ambientais”.
Os 12 Piores Químicos Disruptores Hormonais
Um relatório da ONG EWG/Environmental Working Group8 identifica muitos dos mais bem reconhecidos demolidores hormonais como também lista alguns que podem gerar surpresa, como o chumbo, o mercúrio e o arsênico. Enquanto estes são químicos notórios por outros efeitos danosos, é inédito serem tidos como disruptores endócrinos o que normalmente não está relacionados a eles.
A listagem dos “doze sujos” da EWG quanto a estes 12 piores disruptores endócrinos, está descriminada na tabela abaixo. Já venho escrevendo sobre muitos deles em artigos anteriores (nt.: e que muitos temos traduzido e colocado neste site). Assim para mais informações acesse os links da tabela abaixo.
Bisfenol A (Bisphenol-A/BPA) Dioxina Atrazina Ftalatos Perclorado Retardadores de chama Chumbo Mercúrio Arsênico Perfluorados chemicals (PFCs) Agrotóxicos organofosforados Éteres glicol
Nosso Sistema de Regulamentação Química (nt.: nos EUA) Está Severamente Comprometido
Dezenas de milhares de químicos industriais estão sendo usados diariamente em produtos de consumo com testes grosseiramente inadequados quanto à sua segurança—isso se ALGUMA avaliação sobre segurança tiver sido realmente feita. De acordo com o GAO (nt.: Government Accountability Office – Gabinete de Responsabilidade Governamental – agência que assessora o Congresso quanto a análises e testes), 85% das aplicações de novos produtos químicos não incluem quaisquer tipos de análises. Mesmo sob as melhores circunstâncias, o sistema corrente norte americano não se atém de como pequenas doses cronicamente nos afetam ou de como exposições agregadas nos afetam ao longo do tempo—e estes efeitos combinados são os que geram as maiores preocupações.
Em 1976, a lei sobre o controle de substâncias tóxicas nos EUA (nt.: Toxic Substances Control Act/TSCA) isentou em torno de 62.000 substâncias químicas, considerando-as como “seguras” em razão de já estarem em pleno uso. Desnecessário dizer que alguns deles estão se transformando em bastante problemáticos para nossa saúde.
De acordo com a lei TSCA, a responsabilidade sobre todos os químicos está sob a tutela da EPA/Environmental Protection Agency (nt.: agência do meio ambiente dos EUA) de mostrar que a substância química é ou não segura. As corporações deverão providenciar os dados ou as análises para a EPA, somente se ela comprovar risco substancial, no entanto isso é bastante difícil de se fazer sem os dados da indústria. O ônus da prova necessita mudar da financeiramente falida EPA para a indústria que está lucrando consideravelmente com estes produtos químicos e deve arcar com a responsabilidade quanto à sua segurança.
Não surpreendentemente, os esforços para reformular as leis federais estão sendo veementemente frustados pela indústria química, sendo por isso que o estado deve tomar a dianteira. Em 2013, 29 dos estados da federação introduziram legislações para reduzir a exposição química. O poder do consumidor será a força que finalmente levará a mudanças a longo prazo. Por exemplo, como um resultado da eficácia desta pressão do consumidor foi sobre a corporação, a Johnson&Johnson, , em 2012, quando concorda em remover algumas das substâncias químicas de seus produtos para torná-los mais seguros.9
Ter Cuidado com Aquilo que se Come e Veste
Contrariamente ao que se poderia esperar, já que o governo ao permitir que uma substância química possa ser colocada em nosso alimento, NÃO significa que tenham sido feitas quaisquer análises de segurança. Muitos aditivos alimentícios têm perfis de segurança questionáveis e somente uma pequena percentagem foi, na verdade, testada apropriadamente.
Por que? A brecha veio pela Emenda dos Aditivos Alimentícios de 1958 quando permitiu que as companhias poderem agregar substâncias químicas a seus produtos sem compartilharem as informações de segurança com a US Food and Drug Administration/FDA (nt.: Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA). Itens que caem sob a designação “generally recognized as safe”/GRAS (nt.: tradução livre: ‘geralmente reconhecido como seguro’) estão isentos de um processo de aprovação e os empresários das corporações de alimentos usam esta brecha para contornar a supervisão da FDA.
Os produtos de cuidado pessoal são também caminhos comuns para exposição aos químicos tóxicos como o formaldeído e o arsênico. Lembrar sempre que nossa pele é uma membrana semi-permeáveis, assim a maioria de tudo o que aplicamos topicamente sobre ela, será absorvido por todo nosso corpo.
Os cosméticos são a maior fonte de exposição, particularmente para mulheres. Testes sugerem que mulheres podem absorver 2,5 quilos de químicos, sozinhos, a cada ano por sua rotina de maquiagem diária! Em média, as mulheres aplicam 126 diferentes ingredientes à sua pele diariamente e 90% deles nunca foram avaliados quanto à sua segurança.
Esmalte de unhas que está agora sob investigação em função da presença de retardadores de chamas (flame retardants), normalmente contêm formaldeído juntamente com o ftalato tóxico – dibutil ftalato (DBP) – e o hidrocarboneto tolueno. Muitos destes químicos têm sido diretamente conectados ao câncer ou são conhecidos por causarem danos aos nossos cérebro, sistema reprodutivo além de outros órgãos. Mas não devemos desesperar—podemos controlar algumas das contaminações destes compostos químicos potencialmente tóxicos.
Dicas para Nos Auxiliar a Evitarmos Químicos Tóxicos
Dentro de um sistema tão disfuncional, nós somos os únicos que podemos colocar nossa família em segurança. Embora ninguém possa orientar claramente com sucesso TODOS os produtos químicos e poluentes, podemos minimizar sua exposição, mantendo uma série de princípios chave em mente.
- Comer uma dieta focada sobre produção local, fresca e de forma ideal orgânica e integral. Alimentos processados e embalados são uma fonte comum de químicos tais como Bisfenol A/BPA e os ftalatos. Lavar a produção fresca muito bem, especialmente se não tiver sido cultivada organicamente.
- Escolher carne e produtos lácteos originários de animais que sejam criados soltos em pastagens naturais, de forma sustentável para reduzir a exposição a hormônios, agrotóxicos e fertilizantes. Evitar leite e outros produtos lácteos que contenham o hormônio transgênico recombinante de crescimento (nt.: também chamado de somatotropina) – (nt.: em inglês – genetically engineered recombinant bovine growth hormone/rBGH or rBST).
- Em vez de comer peixe convencional ou criado em fazendas, que são muitas vezes fortemente contaminados com PCBs e mercúrio, suplementar com óleo de krill de alta qualidade, ou comer peixe que seja pescado de forma artesanal e testar quanto à sua pureza, como é o caso do salmão selvagem do Alasca.
- Comprar produtos que venham em garrafas de vidro em vez de plástico ou lata, já que químicos podem lixiviar dos plásticos (e das lâminas internas das latas) para seus conteúdos; estar consciente de que mesmo os plásticos identificados como “BPA-free” normalmente lixiviam outros químicos disruptores endócrinos que são tão prejudiciais como o próprio BPA.
- Armazenar os alimentos e bebidas em vidro em vez de plástico e evitar os filmes plásticos (nt.: normalmente são de PVC e daí terem dioxinas e ftalatos. Além de buscar informações no site sobre este produto ver o link – https://nossofuturoroubado.com.br/o-veneno-esta-muito-alem-do-agrotoxico-esta-na-embalagem/).
- Usar mamadeiras de vidro.
- Trocar as embalagens e utensílios com anti-aderente, tipo Teflon, bem como panelas por cerâmica ou vidro.
- Filtrar a água potável encanada tanto para beber COMO para o banho. Se só pode se dar ao luxo de ter um só, filtrar a água do banho pode ser mais importante, já que a pele absorve os contaminantes. Para remover o herbicida disruptor endócrino Atrazina, verificar se o filtro é certificado para removê-lo. De acordo com a ONG EWG, o poluente perclorato pode ser filtrado usando um filtro de osmose inversa.
- Procurar por produtos feitos por companhias que sejam ecologicamente corretas, amigas dos animais, sustentáveis, com certificação orgânica e livres de transgênicos (GMO-free). Isso se aplica a tudo, desde alimentos a produtos de cuidado pessoal a produtos de construção civil, carpetes, tintas, artigos infantis, móveis, colchões e todos os outros itens.
- Usar o aspirador de pó com o filtro HEPA para remover o pó e a poeira contaminados da casa. Estas são uma das maiores vias de exposição aos retardadores de chama.
- Quando comprar produtos novos como mobiliário, colchões (mattresses) ou carpetes e forrações, considerar a compra de itens que sejam livres de retardadores de chama, contendo materiais naturalmente menos inflamáveis, como couro, lã, algodão, seda e Kevlar.
- Evitar roupas que sejam resistentes a manchas e água, mobiliário e carpetes como saída para evitar os químicos perfluorados (nt.: em inglês – perfluorinated chemicals/PFCs).
- Ter certeza de que os brinquedos dos bebês são “BPA-free“, como os bicos/chupetas, mordedores e quaisquer coisas que a criança possa mastigar ou chupar—mesmo que sejam livros que são muitas vezes plastificados. Isso é aconselhável para evitar todos os plásticos, especialmente os tipos flexíveis.
- Usar produtos de limpeza naturais ou feitos por conta própria. Evitar aqueles que contenham 2-butoxietanol (EGBE) e metoxidiglicol (DEGME)—dois éteres glicol que podem comprometer a nossa fertilidade e causar lesões aos fetos.
- Alterar para produtos de toilete orgânicos, incluindo xampu, pasta de dente, antiperspirantes e cosméticos. Os dados do relatório ‘Skin Deep‘ da ONG EWG10 podem nos auxiliar a encontrar produtos de cuidado pessoal que sejam livres de ftalatos e outros químicos potencialmente perigosos.
- Trocar as cortinas de banheiro feitos de PVC/vinil por as feitas de tecido.
- Trocar produtos de higiene feminina (tampões e absorventes) por alternativas seguras.
- Procurar por produtos livres de fragrância (nt.: em inglês fragrance). Uma fragrância artificial pode conter centenas—mesmo milhares—de químicos potencialmente tóxicos. Evitar amaciantes de roupas e ‘dryer sheets‘ (nt.: produto usado nos EUA e muito mais raro aqui … é o amaciante de roupas na forma de ‘folhas secas’ e não líquida como aqui) que contêm uma mixórdia de químicos sintéticos e a fragrâncias.
Fontes e Referências
- 1 The Guardian November 4, 2013
- 2 JCRPE March 2013
- 3 The New York Times March 30, 2012
- 4 EWG July 14, 2005
- 5 WHO 2012
- 6 Telegraph February 19, 2013
- 7 The Endocrine Society Scientific Statement 2009
- 8 EWG October 28, 2013
- 9 USA Today August 15, 2012
- 10 EWG Skin Deep Database
Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, junho de 2015.