Disruptores Endócrinos, Saúde Pública e a Segurança Nacional e Internacional.

De uma perspectiva da segurança nacional e internacional, a disfunção endócrina pode estar no topo de todas as nossas preocupações. Espere um momento, perguntam-me, mas o que vem a ser disfunção endócrina? Bem, a disfunção endócrina é uma insidiosa transgressão de substâncias químicas artificiais, criadas pela mão humana, nos sistemas orgânicos vitais nos corpos vivos que abrangem ou são controladas pelo sistema endócrino, como a tireoide e a paratireoide, o pâncreas, as adrenais, o timo, os órgãos reprodutores masculinos ou femininos, o coração, o sistema digestivo e o sistema esquelético  — todos participam tanto na construção do feto no útero como na forma que estamos funcionando nos dias de hoje.

 

 

http://www.psr.org/environment-and-health/environmental-health-policy-institute/responses/endocrine-disruption-public-health-and-national-and-international-security.html

 

 

 

Physicians for Social Responsibility

(MÉDICOS POR UMA RESPONSABILIDADE SOCIAL)

By Theo Colborn, PhD

Este ensaio responde à questão: qual perigo ambiental emergente deve ser a próxima pauta da agenda política (What emerging environmental hazard should be next on the policy agenda?) ?

Animais, incluindo os seres humanos, evoluíram juntamente com muitas substâncias químicas naturais, Elas podem interferir com o sistema endócrino, mas isso aconteceu somente até a metade dos anos 50, do século XX. Neste momento histórico, vastos volumes de incontáveis novas substâncias químicas, sintetizadas artificialmente pelo ser humano e derivadas do petróleo, foram introduzidas no ambiente através do mundo comercial. Geraram então, amplas disfunções do sistema endócrino e que emergem globalmente como um fato de internacional.

A moderna toxicologia que remonta o século 18 (nt.: vale a ressalva de que foi no final do século 18, início do século 19, que surgem, pela primeira vez como curiosidade de laboratório,as primeiras moléculas artificiais), que permanece até os anos 50 que brota o “período pós moderno da toxicologia”, concomitantemente à liberação de muitas moléculas artificiais geradas pela mão humana, depois da IIª Guerra Mundial. Como resultado, esta nova toxicologia cresceu sob a determinação daqueles que fabricavam estas moléculas artificiais e daqueles que as usavam em seus produtos de consumo geral. O objetivo declarado era determinar a que concentração um químico destes poderia ser liberado no ambiente antes que causasse danos. Mas no final dos anos 70 e início dos anos 80 (nt.: lembrar que a bióloga norte americana, Rache Carlson, ícone do movimento ecológico mundial, publica seu livro, ‘Primavera Silenciosa’, em 1962), foi tornando-se óbvio que alguma coisa estava vindo perturbadoramente errado. A vida selvagem, os animais de laboratório e estudos epidemiológicos humanos foram se conectando a uma série de efeitos adversos sobre suas saúdes que apareciam com substâncias específicas ou mesmo classe delas (nt.: exemplo típico desta percepção foram os agrotóxicos organo-clorados, família onde estão os famigerados DDT e dioxinas). Efeitos sobre o sistema endócrino foram negligenciados pelos procedimentos toxicológicos tradicionais que haviam sido desenvolvidos para determinarem a segurança de produtos químicos. Desordens do sistema endócrino, agora em proporções epidêmicas, incluindo desfunções de aprendizagem, problemas de comportamento e de humor, infertilidade, desenvolvimento gonadal anormal, cânceres dos órgãos reprodutivos, início incomum da puberdade, diabetes, obesidade, reações asmáticas e alérgicas, e muito mais.

Nas últimas décadas, os cientistas com credenciais impecáveis têm atuado ao largo da disciplina de toxicologia usando procedimentos inteiramente novos para testarem os produtos químicos quanto sua segurança. Com base em princípios da endocrinologia do desenvolvimento, começam com exposições no útero e tomando uma abordagem (não sob base química) fundada na doença, conectaram produtos químicos amplamente dispersos no ambiente com muitos distúrbios que estão atualmente pesando sobre a sociedade e os governos com custos incalculáveis para o diagnóstico, tratamento, alívio e cuidados de longo prazo. Uma infinidade de estudos de revisão aos pares, rastreiam a exposição a substâncias químicas antes da concepção e ao longo da vida, utilizando ensaios projetados para detectar os efeitos moleculares e celulares sutis, confirmando a complexidade e a sensibilidade do sistema endócrino.

Infelizmente, a legislação sempre fica para trás da ciência e atualmente os efeitos brutos tanto reprodutivos como de desenvolvimento, detectados nos ensaios toxicológicos tradicionais, são do conhecimento dos governos. A presente abordagem quanto à regulamentação dos produtos químicos, sob o pretexto míope de utilizar só os defeitos da reprodução e de nascimento grosseiramente observáveis como um substituto para desfunção endócrina não está protegendo nem a saúde humana nem a ecológica. É chegado o tempo dos governos protegerem a atividade global de todos os subsistemas endócrinos como um só. Assim como o termo “câncer” tornou-se o termo abrangente para todos os diferentes tipos de câncer, que envolve vários órgãos e tecidos, e que diferem em sua intensidade e capacidade de metástase, o termo “disruptor endócrino” deve ser aceito para o seu derradeiro dano para a estrutura como para a função de todo o sistema endócrino. Nenhuma norma e nenhum regulamento novos, destinados a proteger a saúde humana, devem deixar de fora a disfunção endócrina, incluindo todas as alterações subsequentes nos vários subsistemas do sistema endócrino.

A riqueza da literatura de revisão aos pares do século 21, combinado com as últimas estatísticas de saúde pública, demonstra que uma estratégia míope levará apenas à maior disfunção a nível da população. Menos e menos pessoas vão ser saudáveis e inteligentes o suficiente para fornecerem à sociedade  a liderança que precisa trabalhar na direção da paz mundial. Produtos químicos derivados do petróleo estão privando a humanidade de sua integridade e o destino da raça humana já não deve ser posto em risco por causa dos atuais testes toxicológicos que falharam em detectar os danos causados pela exposição a substâncias químicas que não se enquadram no âmbito da antiquada rubrica regulamentar . De uma perspectiva de segurança econômica e nacional, os custos são muito altos para adiar mais a quaisquer outros tempos.

*The Environmental Health Policy Institute, uma iniciativa do Physicians for Social Responsibility, é um fórum online  de médicos, profissionais da saúde e outros especialistas ambientais centrados nos perigos mais prementes de nosso tempo. Para maiores informações sobre o trabalho desta grande organização liderada por médicos no país, trabalhando para a proteção pública da proliferação nuclear, mudanças climáticas e tóxicos ambientais, favor visitar o link: www.psr.org.

Theo Colborn é a fundadoras e presidente da entidade TEDX/The Endocrine Disruption Exchangewww.endocrinedisruption.org. 

Colborn T., 04 de novembro de 2010. Endocrine disruption, public health, and national and international security [Uma resposta à questão do Environmental Health Policy Institute, “What emerging environmental hazard should be next on the policy agenda?”] Website: www.psr.org/environment-and-health/environmental-health-policyinstitute/responses/endocrine-disruption-public-health-and-national-and-international-security.html.

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, novembro de 2014.