Disruptores endócrinos: Cátedra de pesquisa de Quebec lidera pesquisa de US$ 1,4 milhão em distúrbios endócrinos

(Cortesia: INRS) IMPRENSA CANADENSE/AP/Jean-Benoit Legault

https://montreal.citynews.ca/2025/02/22/quebec-research-chair-in-endocrine-disruptions/

Jean-Benoit Legault, The Canadian Press

22 de fevereiro de 2025

[NOTA DO WEBSITE: Importantíssima notícia que vem do Canadá. Mas não é inédito e nem pioneiro. Sempre temos que reverenciar a honorável e memorável cientista norte americana, Theo Colborn, bem como a honrada cientista argentina que trabalha nos EUA, Ana Soto, bem como muitos e muitos outros pesquisadores que no início dos anos 90, do século XX, desvelam os disruptores endócrinos. Imagine-se que isso fazem mais de 30 anos! Mesmo assim honramos a proposta da professora canadense que também vem desmascarar esse crime corporativo e civilizatório, já que há não mais discussão e muito menos dúvida, sobre o malefício da presença desses venenos nos produtos que somos constrangidos, por ignorância, a consumirmos todos os dias e todas as horas de nossas existências!].

Uma pesquisadora do Institut National de Recherche Scientifique (INRS) liderará a Cátedra de Pesquisa do Canadá de US$ 1,4 milhão em Ecotoxicogenômica e Distúrbios Endócrinos nos próximos sete anos.

A professora Valérie Langlois se interessa há mais de 20 anos pelos efeitos nocivos que os disruptores endócrinos e outros contaminantes químicos presentes em nosso ambiente têm sobre animais e humanos. 

Os disruptores endócrinos são substâncias que imitam os efeitos dos hormônios no corpo. Eles podem, portanto, impactar a fertilidade e o sistema reprodutivo (nt.: o mais insidioso nesse aspecto é que afeta a passagem das características femininas no feto, para as masculinas porque interfere na formação da testosterona do feto XY para ser um macho adulto normal. Isso ocorre com todos os animais incluindo os humanos. Daí os machos nascerem feminizados, fisiologicamente), bem como ter efeitos sobre o diabetes, o metabolismo, a obesidade e o sistema neurológico. Alguns estudos recentes os associaram a certos tipos de câncer, incluindo câncer de mama e de próstata.

Seus efeitos adversos podem ser observados em doses muito baixas, e a exposição prolongada pode causar efeitos nocivos a longo prazo não apenas naqueles expostos a eles, mas até mesmo em seus descendentes.

E embora alguns disruptores endócrinos sejam inofensivos individualmente (nt.: lastimamos não sabermos aqui quais são, porque sempre são colocados pela ciência como nocivos por serem exatamente disruptores endócrinos. Não fica clara aqui, a posição da pesquisadora, em nosso ponto de vista), a situação muda quando eles são combinados com outras moléculas.

“Eles são difíceis de regular porque são frequentemente ativos em doses baixas”, lembrou a Professora Langlois. “E porque são ativos em doses baixas, não podemos estabelecer um resíduo máximo em ecossistemas” (nt.: nesse ponto é que torna esses produtos maléficos. Não mais podemos examiná-los na ótica da toxicologia clássica da Idade Média de Paracelsus, de que a dose é que determina se a molécula é remédio ou veneno. Aqui temos que criar o conceito não mais de dose toxicológica, mas sim de dose fisiológica já que agem fisiologicamente como hormônios, em doses infinitesimais).

Langlois está preocupada ao notar que, nos últimos dez anos (nt.: como esse tema foi desvelado como tal na década de 80, pela cientista norte americana Theo Colborn, autora do livro ‘Our stolen Future‘, em português temos como ‘O futuro roubado‘, não são dez anos, mas mais de 30 anos), houve um aumento de disruptores endócrinos no meio ambiente, apesar dos inúmeros sinais de alerta emitidos pela comunidade científica sobre eles.

“Precisamos continuar a investir recursos para reconhecê-los e caracterizá-los”, disse ela. “Precisamos de ferramentas para reduzi-los em nossos ecossistemas. Por exemplo, em nossas águas residuais, podemos verificar se eles estão presentes antes de retornar essa água ao meio ambiente.”

Ela enfatiza que seu laboratório desenvolveu linhas celulares “ultrassensíveis” que, quando expostas a águas residuais, podem determinar se os disruptores endócrinos que elas contêm foram realmente neutralizados.

Ocupar uma cadeira de pesquisa, explica a professora Langlois, permite que se saia do laboratório e trabalhe em todas as frentes, seja na educação pública, na regulamentação ou na conscientização.

“Este será meu cavalo de batalha pelos próximos sete anos”, ela disse. “Uma cadeira é uma oportunidade de destacar uma questão ambiental, mas também uma questão de e saúde ambiental.”

Por isso, é urgente agir para controlar melhor os riscos que os disruptores endócrinos representam para os seres vivos, para o meio ambiente e para o futuro das populações, afirmou.

Ela acredita que é essencial conscientizar ainda mais a população sobre esse assunto para criar um melhor equilíbrio entre o comportamento social e os perigos dos disruptores endócrinos, e que essa conscientização deve ser despertada desde muito cedo.

“Não é porque é muito complicado que devemos varrer para debaixo do tapete, muito pelo contrário”, disse a professora Langlois. “É porque é complicado que precisamos nos concentrar em tentarmos entender como podemos melhorar a situação.”

Mas mudanças não são fáceis de serem alcançadas, acrescentou a pesquisadora, que cita o bisfenol A/BPA como exemplo.

“O BPA foi projetado como um estrogênio sintético para tratar mulheres”, ela lembrou. “Décadas depois, ele foi adicionado para tornar o plástico mais flexível. E agora estamos surpresos que o plástico que contenha BPA, ou todos os outros substitutos (que foram inventados), causem efeitos danosos? Acho isso um pouco absurdo.”

E embora saibamos há 40 ou 50 anos que o BPA tem efeitos estrogênicos, ela lamentou, “nada muda” (nt.: trazendo um pouco da sua história. Foi o doutor Edward Charles Dodds, da Universidade de Londres, que considerando o BPA um estrogênio ‘fraco’, sintetiza outro estrogênio sintético que considerou ‘maravilhoso’, o DES/dietilestilbestrol. Sua ação foi devastadora, de 39 a 70, em milhares de mulheres e seus descendentes sendo então proibido. Mas a molécula BPA não foi abandonada pela indústria e ao reagirem com o gás de guerra, fosgênio, ‘descobrem’ a resina plástica Policarbonato/PC, bem como reagindo com a epicloridrina, surge a resina Epóxi. Assim, estamos absolutamente contaminados pelas embalagens de alimentos feitas com policarbonato e com todas tintas e outros usos do epóxi! A dimensão é dantesca!).

Ela espera que sua cátedra de pesquisa a ajude a “quebrar os silos” nos quais os cientistas muitas vezes estão presos, a fim de promover um diálogo que possa levar ao surgimento de novas soluções.

“O público está mais educado, sabemos que o plástico fica nos ecossistemas, que se torna microplástico ou nanoplástico e que libera contaminantes”, diz a professora Langlois. “Não estou em uma abordagem baseada em culpa. Precisamos desses produtos e a inteligência humana é incrível. Não poderíamos melhorá-los para que haja menos riscos para os ecossistemas?” (nt.: não sendo nem parecendo pessimistas, consideramos que disruptores endócrinos possam deixar de ser e agir como tal, impossível: por isso, no nosso ponto de vista, deveriam ser completa e totalmente banidos da face da Terra).

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, março de 2025