Em um dos maiores estudos desta área, Travison et al. relatam a constatação de um amplo declínio, durante os últimos 20 anos, nos níveis de testosterona na população de homens de Massachusetts. E não está relacionado ao avanço da idade, questões de saúde nem mesmo a fatores ligados ao estilo de vida, conhecidos por influenciarem nos níveis de testosterona dos homens.
http://www.ourstolenfuture.org/NewScience/reproduction/2006/2006-1210travisonetal.html
Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism 92:196–202.- 2007
Travison, TG, AB Araujo, AB O’Donnell, V Kupelian, JB McKinlay.
Address correspondence to Andre B. Araujo, MA, Associate Research Scientist, New England Research Institutes, 9 Galen Street, Watertown, MA 02472. E-mail: [email protected]
O pesquisador e sua equipe detectaram que, entre 1984 e 2004, as concentrações de testosterona caíram em torno de 1,2% ao ano ou em torno de 17% no total. A tendência de queda foi observada em ambas as situações, tanto na população como com indivíduos, no passar dos tempos.
O declínio é consistente ao ser relacionado com outras tendências quanto à:
- saúde da reprodução masculina (male reproductive health);
- decréscimo na qualidade do esperma (sperm quality);
- aumento em câncer testicular (testicular cancer);
- hipospádia (hypospadias); e
- criptorquidismo (cryptorchidism).
A associação maior foi observada em homens de mesma idade de amostras de diferentes anos. Por exemplo, um homem com idade de 65 anos em 2002 tinha menores níveis de testosterona do que um homem de 65 anos numa amostragem de 1987.
Menores concentrações de testosterona podem aumentar os riscos em homens a doenças relacionadas com idades mais avançadas, como depressões e infertilidade.
Da mesma forma, tanto homens mais moços como mais velhos experimentaram, no estudo, declínio hormonal similar com queda mais rápida do se poderia prever em razão do envelhecimento normal.
Contexto.
Em homens, o hormônio testosterona dirige o comportamento e a reprodução. Controla o crescimento e o desenvolvimento dos órgãos sexuais e outras características tipicamente masculinas, como a barba e a voz grave.
Normalmente, os níveis flutuam da concepção através da puberdade, estabilizando durante a adultez, declinando depois com o avanço da idade. Alguns problemas crônicos de saúde normalmente observados em adultos mais velhos, como diabetes, depressão e obesidade, estão associados com menores níveis de testosterona.
Estudos recentes têm detectado relação entre impactos ambientais e os níveis de testosterona. Por exemplo, os níveis de testosterona são mais baixos nos veteranos da Força Aérea dos EUA expostos à dioxinas (exposed to dioxins: http://ehp03.niehs.nih.gov/article/fetchArticle.action?articleURI=info%3Adoi%2F10.1289%2Fehp.8957) enquanto aspergiram o Agente Laranja durante a Guerra do Vietnam, assim como em homens expostos aos ftalatos (exposed to phthalates: http://ehp03.niehs.nih.gov/article/info:doi/10.1289/ehp.9016 ) no trabalho.
O quê e como foi pesquisado?
Travison et al. utilizaram dados hormonais no sangue e informações pessoais coletadas de homens que vivem em Boston, MA/EUA, como parte do Massachusetts Male Aging Study/MMAS (nt.: Estudo de Envelhecimento Masculino de Massachusetts). O MMAS examinou a saúde dos homens e a função endócrina. Os dados foram coletados durante visitas domésticas de 1987 a 89 (T1), 1995 a 97 (T2) e 2002 a 2004 (T3). A testosterona total (TT) e a globulina do soro sangüíneo, ligada ao hormônio sexual, foram medidas no próprio sangue e a testosterona disponível (BT) foi calculada. Os homens faziam seus auto-relatos de sua situação demográfica básica, de sua saúde e do uso ou não de fumo e álcool.
Neste estudo, Travison et al. analisaram dados de 1.532 homens (1.383, 955 e 568, respectivamente, do T1, T2 e T3) que tinham condições de associar idade e data de nascimento. A extensão dos participantes foi entre 45 e 79 anos e que nasceram entre 1916 e 1945. Os pesquisadores excluíram altos e baixos níveis de testosterona, dados perdidos e tratamento de câncer de próstata não identificado. Dentro da amostra eles calcularam e compararam três associações separadas, mas relacionadas, entre concentração, idade e tempo. Eles prestaram a atenção a mudanças nas concentrações de testosterona no grupo de homens em diferentes anos e idades associadas com T1, T2, and T3; declínios de testosterona em homens individualmente e com o seu envelhecimento durante o estudo; bem como as concentrações de testosterona de homens de mesma idade, mas em diferentes anos (compatível com a idade).
O quê eles encontraram?
Travison et al. detectaram uma forte evidência de um declínio de mais de 1% por ano nos níveis de testosterona no sangue de homens durante as duas últimas décadas. O gráfico abaixo mostra as médias dos níveis para cada um dos homens de diferentes idades em cada um dos três períodos de medição (T1 a T3).
As linhas pontilhadas são 95% das faixas de segurança. Adaptado de Travison et al.
A primeira comparação a fazer é dentro do próprio grupo, homens mais velhos tendem a ter níveis de testosterona mais baixos. Compare, por exemplo, homens de 80 no T3 com homens de 60.
A comparação crucial a fazer é de um grupo com o seguinte, confrontando homens da mesma idade. Por exemplo, homens de 60 durante o primeiro período de medição (linha vermelha, 1987-1989) tinham níveis de testosterona total acima de 500 ng/dL. Homens com 60 anos no terceiro grupo (linha azul, medidos entre 2002-2004) têm TT abaixo de 450 ng/dL. Não há sobreposição entre as faixas de segurança de T1 vs T3: T3 (medidos entre 200 e 2004) são sempre mais baixas do que em T1.
A tendência mantida não leva em consideração a idade dos homens. Declínios similares além destes 17 anos foram observados em todas as idades dos homens neste estudo.
Travison et al. notaram que o declínio dentro dos grupos relacionados à idade é menor do que o decréscimo observado através deles. Por exemplo, homens com idade de 70 anos no T1 tinham a TT somente 6% menos do que homens com idade de 45 no mesmo grupo. Mas com 60 anos no T3 tinham a concentração de TT aproximadamente 13% menores do que os homens da mesma idade no T1.
Para ilustrar este ponto por outro caminho, Travison et al. comparam o declínio dos níveis de testosterona no T1 vs T2 em função da idade e assim constatam as diferenças na testosterona entre homens de mesma idade nos grupos T1 vs T2. Observaram que T1 e T2 estavam somente separados em 9 anos. A média declina nos T1 e T2 por décadas de vida de 17 e 20 ng/mL, respectivamente. Mas homens com 65 anos de idade na T2 tinham níveis de testosterona total de 50 ng/mL menores do que aqueles na T1, mesmo que as amostras fossem separadas por menos que uma década.
Travison et al. então estimaram o declínio no passar do tempo, do primeiro grupo para o terceiro, para homens da mesma idade (o que eles chamaram de declínio adaptado à idade). Eles detectaram que a testosterona declinou em 1.2% por ano (95% IC 1.0% a 1.4%).
Testosterona bioavaliável (TB) também mostra declínio similar no decorrer dos tempos. As mais fortes associações novamente se mantinham em tendências adaptadas à idade com declínio de 1.3% por anos (95% CI 1.7% – 1.1%).
Nenhum dos fatores de saúde e estilo de vida examinados foi associado tanto com o declínio adaptado à idade como com a TT ou a TB: este declínio permaneceu essencialmente o mesmo depois da constatação das doenças crônicas, da saúde em geral, medicação, fumo, índice de massa corpórea, trabalho, estado marital e outros indicadores.
Finalmente, as tendências se mantinham quando analisas em um número de diferentes caminhos, incluindo os dados das entrevistas, grupo de estudo, restringindo a homens de determinadas idades ou grupos de nascimento, considerando os dados incompletos versus completos.
O quê isto significa?
Travison et al. descobriram que os níveis de testosterona declinaram nos homens de Massachusetts em aproximadamente 1.2% por ano do final dos anos oitenta ininterruptamente até 2004, controlando por idade dos homens e outras possíveis variáveis que podiam confundir.
Este estudo é importante em razão do tamanho de sua amostra e por ser de longa duração. Poucos estudos observaram diretamente os níveis de testosterona ao longo do tempo.
Os resultados são surpreendemente consistentes em conjunto com outros estudos epidemiológicos humanos de longo prazo. Estes estudos também mostram declínios de longo prazo nas funções reprodutivas masculinas, tais como decréscimo na saúde dos espermatozóides (decreased sperm health: http://www.ourstolenfuture.org/NewScience/reproduction/sperm/2000swanetal.htm) e na fertilidade (increased infertility: http://www.ourstolenfuture.org/NewScience/reproduction/sperm/2000swanetal.htm), que são altamente associadas com ou controladas pela testosterona e outros hormônios androgênicos. A percentagem de declínio relatada neste estudo é aproximadamente comparável à percentagem de declínio da contagem de espermatozóides reportada por Carlsen et al. em 1992 (nt.: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/1393072?dopt=AbstractPlus) e reanalisada por Swan et al. em 2000 (nt.: http://www.ourstolenfuture.org/NewScience/reproduction/sperm/2000swanetal.htm).
Nos comentários que acompanham o estudo de Travison et al. no Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism, o Dr. Shalender Bhasin (Boston Medical Center) escreve: os dados neste estudo são “importantes porque eles trazem suportes independentes para as preocupações já levantados há mais tempo quanto à saúde reprodutiva dos homens.” … “seria pouco sábio rejeitá-los (these reports – http://www.ourstolenfuture.org/NewScience/reproduction/repro.htm) como meras aberrações estatísticas em razão das ameaças potenciais que estas tendências – se confirmadas – apresentam com relação à sobrevivência da raça humana e de outros seres vivos deste planeta.”