Davi Kopenawa
Conselho Universitário da Universidade Federal de São Paulo (Consu/Unifesp)
11 Mai 2022
Título honorífico reconhece personalidades eminentes nacionais ou internacionais
O Conselho Universitário da Universidade Federal de São Paulo (Consu/Unifesp) aprovou hoje (11/5), por aclamação, a concessão do título de doutor honoris causa ao pensador e xamã Yanomami Davi Kopenawa. A Unifesp é a primeira universidade a outorgar este título a Davi Kopenawa, além de ser o primeiro concedido pela instituição (leia mais abaixo). O título é concedido a personalidades eminentes, nacionais ou internacionais, que tenham se destacado nas ciências, nas artes, na cultura, na educação, e na defesa dos direitos humanos.
Davi Kopenawa é um líder político e xamã do povo Yanomami, presidente da Hutukara Associação Yanomami, ativista na defesa dos povos indígenas e da floresta amazônica, autor, roteirista, produtor cultural, palestrante, ganhador de grande número de prêmios nacionais e internacionais e membro da Academia Brasileira de Ciências. É uma das lideranças intelectuais, políticas e espirituais mais importantes no panorama contemporâneo de defesa dos povos originários, do meio ambiente, da diversidade cultural e dos direitos humanos.
É autor da obra A Queda do Céu: palavras de um xamã yanomami, em coautoria com o antropólogo Bruce Albert. A obra, publicada originalmente em francês em 2011 e traduzida ao inglês, português e italiano, foi amplamente celebrada pela comunidade antropológica internacional. Foi descrita como monumental por Leslie Sponsel, como tesouro literário por Daniel Everett, como um magnum opus filosófico por José Antonio Kelly Luciani e como um acontecimento científico incontestável por Eduardo Viveiros de Castro. O livro deve ganhar versões em alemão, espanhol e coreano.
Kopenawa participou ainda do filme A Última Floresta, de Luis Bolognesi, como roteirista e ator. O filme foi premiado dez vezes desde o seu lançamento, em março de 2021. No início de maio, o filme ganhou o prêmio Platino 2022 de melhor documentário, considerado o “Oscar Latino”.
A outorga do título coroa um processo de busca por diálogos e descolonização de saberes em andamento na Unifesp. É parte deste esforço a criação da Cátedra Kaapora de Conhecimentos Tradicionais e Não Hegemônicos, em 2016, e, posteriormente, em 2020, da Cátedra Sustentabilidade e Visões de Futuro, com foco na área socioambiental. Ambas as cátedras foram proponentes do pedido de concessão do título, juntamente com o Projeto Xingu, que atua no campo da extensão universitária junto aos povos indígenas desde a década de 1960. A proposta de concessão do título foi entregue à Reitoria em 19 de abril de 2021, juntamente com 472 assinaturas de apoio de docentes, técnicos(as) e estudantes da universidade.
De acordo com Renzo Taddei, docente integrante do grupo que iniciou o processo da concessão do título, “Davi Kopenawa é uma das vozes mais lúcidas e importantes a respeito dos problemas contemporâneos, no nosso contexto brasileiro e no que tange aos desafios planetários, como a emergência climática. É de fundamental importância que as suas ideias sejam disseminadas e discutidas. Espero que o título ajude, ainda, na mobilização da sociedade contra os ataques brutais que o povo Yanomami tem sofrido em seu próprio território”.
A data para a cerimônia de entrega do título a Kopenawa será agendada após consulta ao agraciado.
Primeiro título doutor honoris causa concedido pela Unifesp
Esse é o primeiro título doutor honoris causa concedido pela Unifesp, estabelecido pela resolução n.º 214 do Conselho Universitário (Consu), que determinou as diretrizes, critérios e procedimentos acadêmico-administrativos para a concessão de títulos honoríficos no âmbito da universidade.
O grupo de trabalho, instituído em maio de 2021, elaborou a proposta de composição da Comissão de Concessão de Títulos Honoríficos da Unifesp (Conti), assim como o detalhamento das diretrizes e critérios para a concessão.
A Conti é um órgão assessor da Unifesp vinculado ao Consu e será constituída por até cinco membros do conselho, sendo pelo menos um(a) servidor(a) TAE e um(a) estudante, eleitos(as) pelos(as) seus(suas) pares/conselheiros(as) para um mandato de dois anos. Cabe à comissão receber, analisar, instruir e coordenar o fluxo das propostas de outorga de títulos honoríficos a serem submetidas à deliberação pelo conselho.