Ralph Alswang / Center for American Progress Action Fund Flickr
ClimaInfo, 29 de fevereiro de 2024.
[NOTA DO WEBSITE: Temos a impressão de que as corporações que dominam a poluição de toda a ordem no planeta, devem ter encontrado um rebanho extremamente cordato para poder se manter em suas ações industriais criminosas. E esse rebanho está respaldado, em muitos cantos do mundo, por um fanatismo obtuso ‘neo-evangélico’ que transformou toda a luta da sociedade para o controle do descalabro das corporações como algo que é destinado a dar sustentaçãos às ‘coisas do demônio’. Que tudo o que for proposto dentro dessa visão onde a pessoa humana, o ambiente e todos os seres vivos do globo deveriam ser o centro da convivência social e por isso protegidos da sanha exterminadora das transnacionais, como algo que vai contra os interesses existencais de cada um de nós].
Para o enviado especial dos EUA para o clima, a extrema-direita amedronta eleitores sobre efeitos da ação climática na economia e atrapalha a transição verde.
A reação populista contra medidas de combate à mudança do clima está atrapalhando os esforços de governos e empresas para acelerar a transição energética e pode condenar o mundo a um “colapso climático”. Essa é a avaliação de John Kerry, enviado especial dos EUA para o clima e veterano das negociações climáticas internacionais.
Em entrevista ao Guardian, o ex-secretário de estado da gestão de Barack Obama nos EUA criticou a desinformação e a demagogia de grupos de extrema-direita que pintam qualquer esforço para redução de emissões de gases de efeito estufa como uma ameaça à economia. Kerry também lamentou o fato de essa leitura negacionista ter ressonância crescente entre os eleitores em diversas partes do mundo.
“As pessoas não sabem a verdade sobre quais são os impactos de se fazer essa transição [para o net-zero]. Elas estão assustadas, amedrontadas propositadamente com a demagogia que ignora ou distorce os fatos. E, em alguns casos, mente descaradamente”, disse Kerry.
O enviado especial dos EUA para o clima alertou que o negacionismo climático travestido de preocupação econômica pode inviabilizar os esforços globais para evitar o pior da crise climática. “Essa turma da desinformação está disposta a colocar o mundo inteiro em risco por quaisquer motivações políticas que possam estar por trás de suas escolhas”, disse.
Um dos alvos da crítica de Kerry é a direita republicana nos EUA, que persiste em um discurso negacionista da crise climática. Além de dificultar a implementação do pacote climático aprovado pelo presidente Joe Biden, os republicanos também atrapalham os esforços da iniciativa privada para descarbonizar seus negócios.
Um exemplo disso é a ofensiva de estados governados pelo partido contra gestoras de investimentos com políticas de sustentabilidade, o que provocou um baque no mercado financeiro ESG. Empresas importantes do setor, como BlackRock e JP Morgan Asset Management, recuaram nos últimos meses de compromissos climáticos corporativos.
Para Kerry, a reação dessas empresas enfraquece a ação climática. “Qualquer pessoa que esteja se afastando hoje [dos compromissos climáticos] está se distanciando da ciência e respondendo a pressões políticas e ideológicas que não se baseiam em fatos, não se baseiam na ciência”, destacou ao Financial Times.
Essa preocupação é compartilhada por investidores, que ressaltam o problema que a politização da mudança do clima pode causar na análise de riscos das empresas e de seus negócios. A Climate Action 100+, coalizão de gestores de investimentos que vem assistindo a uma debandada de integrantes por conta da ofensiva anti-ESG, destacou que esse esvaziamento pode trazer problemas sérios para a economia global no longo prazo.
“A crise climática continua representando um risco financeiro cada vez maior para o valor dos acionistas a longo prazo e para a economia em geral, e não podemos nos dar ao luxo de dar um passo atrás agora. Com temperaturas recordes e eventos climáticos catastróficos acontecendo com maior frequência e intensidade, ações ambiciosas são mais cruciais do que nunca”, pontuou a coalizão em nota. A Bloomberg repercutiu essa reação.