Cresce em Honduras o debate sobre os impactos da expansão da palma africana.

Durante as últimas décadas, Honduras viveu um acelerado processo de expansão do cultivo da palma africana, que deixou profundos impactos socioambientais na população negra, indígena e camponesa, gravemente atingida em seu legítimo direito à terra, à alimentação, a uma vida digna, somado a uma profunda criminalização da sua luta de resistência.

 

 

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A reportagem é de Giorgio Trucchi e publicada no sítio uruguaio Rel-UITA, 10-09-2014. A tradução é de André Langer.

Fontehttp://bit.ly/1qQir7o

A necessidade de analisar, debater a fundo e buscar estratégias comuns para enfrentar um modelo de produção que concentra terras e desloca comunidades foi um dos principais objetivos do Fóum-Oficina “Agrocombustíveis, palma africana e seus efeitos sobre a soberania alimentar”, realizado no dia 09 de setembro na cidade de La Ceiba.

A atividade, que envolveu mais de 170 pessoas e dezenas de movimentos e organizações sociais, populares e sindicais, entre elas a Rel-UITA, foi convocada pela Organização Fraterna Negra Hondurenha (OFRANEH), pela Plataforma de Movimentos Sociais e Populares de Honduras, assim como pelas redes internacionais Aliança BiodiversidadeAmigos da Terra América Latina e Caribe (ATALC), pela Rede Latino-Americana contra a Monocultura de Árvores (RECOMA) e pelo Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais (WRM).

“Com esta expansão descontrolada querem substituir os alimentos pela palma. Querem dar-nos de comer óleo e nos obrigar a importar alimentos. Estão nos condenando a uma fome sem precedentes. Por isso, era urgente nos reunirmos para analisar, debater e programar ações concretas”, disse Miriam Miranda, coordenadora da OFRANEH.

Winfridus Overbeek, coordenador do WRM, alertou sobre as falsas soluções que o grande capital agroexportador apresenta à opinião pública para justificar o injustificável, promovendo, ao mesmo tempo, a produção deagrocombustíveis.

“Nunca na minha vida escutei uma comunidade dizer que ela foi consultada antes de invadirem suas terras para plantar palma africana ou outro tipo de monocultivo. É uma imposição que arrasta consigo a destruição da biodiversidade, o desmatamento, a perda de fontes de água e a contaminação por agrotóxicos”.

A expansão ilimitada da palma – continuou Overbeek – também “aprofunda as mudanças climáticas e traz consigo a militarização dos territórios e a criminalização da luta. A única solução possível é uma mudança de modelo”.

Palma neocolonialista. Um exemplo de racismo ambiental

Marcela Gómez, da Amigos da Terra Colômbia, prosseguiu na análise e assegurou que a expansão da palma africana e a consolidação do modelo dos agronegócios atentam contra a própria vida das pessoas.

Neste sentido, os dramáticos casos das famílias camponesas do Bajo Aguán, das comunidades garífunas do litoral caribenho e do povo indígena Lenca, são exemplos dos abusos e das vexações perpetradas pelo grande capital nacional e transnacional, com o beneplácito das autoridades.

“A palma africana não representa nenhum bem-estar para os povos, nem muito menos produz desenvolvimento econômico para as maiorias. Pelo contrário, é uma forma nova de escravidão e de racismo ambiental, onde os principais atingidos são sempre os povos negros, indígenas e os camponeses”, disse Gómez.

Atualmente, a monocultura da palma africana em Honduras abrange uma área de cerca de 160 mil hectares, e há novos projetos para duplicar esta área, ameaçando os territórios da região de Mosquitia.

Enquanto isso, estima-se que pelo menos 300 mil famílias camponesas hondurenhas não têm acesso a terra, que a metade da população rural sobrevive com menos de um dólar por dia e que o país continua sofrendo um forte déficit de produção de alimentos.

Estratégias comuns de luta. Fortalecer alianças

Fontehttp://bit.ly/1qQir7o

Ao término das diferentes exposições foram organizadas mesas de trabalho nas quais os participantes se envolveram num profundo e enriquecedor debate, sentando posições em vista de dar seguimento à temática da expansão da palma africana.

“Devemos nos unir e criar alianças, tanto nacional como internacionalmente, construindo estratégias que vinculem mais e com maior força os tantos exemplos de resistência a este modelo que existem no continente”, enfatizouAlfredo López, sobcoordenador daOFRANEH.

Finalizando a atividade, os representantes das redes internacionais, que durante dois dias analisaram em profundidade a temática da expansão do modelo agroexportador na América Latina, fizeram a leitura de um pronunciamento de solidariedade ao povo hondurenho em luta, ao mesmo tempo que exigiram o fim da repressão e da inércia das instituições.

“Tanto na atividade de hoje como na reunião interna das redes internacionais, da qual participou a Rel-UITA, ficou claro que temos necessidade de prosseguir na articulação entre movimentos”, disse Lizzie Díaz, integrante do Secretariado Internacional do WRM.

A chave do sucesso destas lutas “está com os povos, que enfrentam diariamente os grandes grupos econômicos nacionais e as corporações internacionais, que concentram terras, deslocam e destroem comunidades”.

“Hoje, mais do que nunca, devemos fortalecer estas lutas, fazendo-os sentir que não estão sozinhos, que há milhares de olhos fitados no que está acontecendo”, concluiu.

2 Comentários

    1. Bom dia, perguntamos se gostarias de receber as atualizações sistemáticas do site em teu email? No aguardo e grato pela mensagem, Luiz.