Confrontando os produtos químicos que estão piorando COVID-19

Palestra no IIº Simpósio Anual One Health One Planet ™ do Conservatório Phipps, “Impactos na Saúde: Produtos Químicos Preocupantes no Meio Ambiente”, com sua apresentação em 07 de março de 2018. Tema do Simpósio: “Para proteger nossa saúde e prevenir as epidemias atuais de doenças e deficiências crônicas”.

https://www.ehn.org/chemical-exposure-worsening-covid-19-2645804428.html

Para enfrentar futuras pandemias, as agências americanas precisam começar a usar a ciência moderna para estabelecer o que é seguro e o que não é.

Pete Myers (nt.: coautor do livro “Our Stolen Future”, inspirador deste website. Há edição em português com o título “O futuro roubado”, LPM, 1987).

27 Abr 2020

O que afeta a probabilidade de se morrer do novo coronavírus?

A resposta é clara: quanto mais velho se é, e mais problemas de saúde o afetam, maior a probabilidade de não se conseguir.

Não podemos fazer nada quanto ao envelhecer, exceto ser com graça e tolerar os excessos da juventude (desde que respeitem o distanciamento social). Problemas de saúde, no entanto, são outra coisa, porque eles podem ter causas que podem ser prevenidas e/ou tratadas.

Quais problemas de saúde se destacam com maior probabilidade de tornar sua experiência ser fatal com o COVID-19?

Diabetes, obesidade, doenças cardíacas, pressão alta e imunidade reduzida, entre outros. São doenças que se desenvolvem ao longo da vida e, portanto, não será possível alterá-las no curso da atual pandemia. Se você tiver uma ou mais dessas doenças, proteja-se tomando seus remédios conforme as instruções e siga todas as recomendações de distanciamento social emitidas por autoridades de saúde pública.

Mas se há uma certeza sobre isso, é que essa não será a última pandemia. Isso é garantido por uma crescente população humana, pela integração global da sociedade (especialmente por aviões) e pelas características da civilização atual que tornam mais provável que doenças animais infectem os seres humanos. Entre eles estão a destruição de habitat, que aproxima os animais selvagens dos seres humanos, os mercados de alimentos para animais selvagens, como os de Wuhan, e o confinamento industrial de animais em locais próximos, como ocorre nos Estados Unidos e em outras partes do mundo (nt.: aqui é importante se destacar que este aspecto se relaciona a criatórios de animais em confinamento com alta concentração de gado de engorda, pocilgas para porcos, galinheiros para postura ou corte. Ou seja, todas formas que utilizamos de alimentação no nosso dia a dia).

O que podemos fazer, antecipadamente, quanto à próxima pandemia para diminuir a taxa de mortalidade assim que ela começar? Precisamos reduzir a frequência e a gravidade dos problemas de saúde que nos tornam mais propensos a morrer.

São doenças multifatoriais complexas que vêm surgindo em suas próprias epidemias ao longo do último meio século. Mais pessoas sofrem com elas e atingem pessoas, cada vez mais jovens. Elas estão provando que são difíceis de serem enfrentadas com abordagens tradicionais de saúde pública.

Dito isto, nas últimas duas décadas, vimos um tremendo aumento nos tipos de doenças que nos tornam mais vulneráveis ​​a patógenos.

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Uma ameaça global à saúde pública 

Um enorme corpo de pesquisa em uma família de produtos químicos que alteram a ação hormonal, chamados disruptores endócrinos, demonstram, cada vez mais, como contribuintes significativos para o risco destas mesmas doenças: diabetes, obesidade, doenças cardíacas, pressão alta, imunidade reduzida, e mais.

Sempre há incertezas na ciência, mas as evidências se tornaram fortes o suficiente para que a Endocrine Society (nt.: Sociedade de Endocrinologia), a maior associação profissional de endocrinologistas médicos e de pesquisa do mundo, considere reduzir o impacto de produtos químicos que causam disfunções endócrinas como um de seus maiores objetivos de saúde pública. Os endocrinologistas são os profissionais de saúde responsáveis ​​por essas doenças, tanto para descobrirem formas de tratá-las quanto entendê-las como causam efeitos.

Em 2012, a Organização Mundial da Saúde/OMS e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente/PNUMA divulgaram um relatório concluindo que produtos químicos disruptores endócrinos são uma ameaça global à saúde pública.

A ciência só se fortaleceu desde então.

Milhares de artigos científicos foram publicados nos últimos 20 anos, vinculando a exposição química desfuncionadora do sistema endócrino às mesmas comorbidades que aumentam o risco de morte por COVID-19.

Alguns dos produtos químicos destacados nesta pesquisa são bisfenóis como BPA, ftalatos (plastificantes), produtos químicos perfluorados (nt.: chamados em inglês de ‘forever chemicals), usados como retardadores de chama, PCBs e uma variedade de agrotóxicos novos e antigos.

Um dos estudos mais perturbadores constatou que as vacinas não funcionam tão bem em crianças que apresentavam altos níveis de produtos químicos perfluorados, PFOS e PFOA, quando bebês.

Em 2020, cada um de nós carrega uma coleção desses produtos químicos em nossos corpos, incluindo sangue, tecidos e órgãos.

Há muito mais em nós agora do que há 30 anos atrás (nt.: IMPORTANTÍSSIMO ressaltar que este tema já é de conhecimento de toda a humanidade desde 1989, sendo que o livro ‘Our Stolen Future’, foi lançado nos EUA, em 1995, e no Brasil, em 1997). Ninguém escapa desta contaminação, incluindo bebês que ainda nem nasceram.

Dado o que a pesquisa nos diz, não é de surpreender que, com níveis mais altos de exposição a substâncias químicas que interrompam o sistema endócrino, os efeitos adversos à saúde relacionados a este sistema endócrino, observados acima, tenham surgido como ameaças à saúde pública.

Também não é de surpreender que os efeitos sejam observados em adultos cada vez mais jovens, e agora mesmo em adolescentes.

Atingir os “trifecta” de saúde, dinheiro e menos mortes

O que será necessário para enfrentar a próxima pandemia e mais a outra e a outra…?

Primeiro, agências reguladoras como a Food and Drug Administration/FDA e a Environmental Protection Agency/EPA, ambas dos EUA, precisam usar a ciência moderna para estabelecerem o que é seguro e o que não é. Hoje, suas abordagens não refletem a ciência endocrinológica moderna. Eles estão atolados na ciência de um século atrás.

Segundo, precisamos que a próxima geração de materiais empregados para produtos de consumo seja inerentemente mais segura do que a que temos hoje, porque muitos destes produtos contêm e emitem produtos químicos que são disruptores endócrinos.

A boa notícia é que a ciência química de que trata destes produtos avançou tão substancialmente nas últimas duas décadas que os técnicos em química podem usá-la para projetarem materiais mais seguros.

E eles podem ganhar dinheiro no processo, porque, cada vez mais, os consumidores querem ter certeza de que o que estão trazendo para suas casas e seus corpos seja seguro.

Este é um caminho claro a seguir. Inventores químicos e empresas químicas ganhariam dinheiro. E as pessoas serão mais saudáveis. Menos pessoas, possivelmente, morrerão pela próxima pandemia. Parece que poderemos, então, acertar o trio.

Pete Myers é o fundador e cientista chefe de Ciências da Saúde Ambiental, editor do https://www.ehn.org/ e https://www.dailyclimate.org/

Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, maio de 2020.