Bisfenol A (BPA) e ftalatos são substâncias que são conhecidas como “disruptores endócrinos”—ou seja, em pequeníssimas doses interferem com os nossos sistemas hormonais, dando origem a todos os tipos de problemas de saúde. Numa pesquisa de revisão paritária, o BPA foi relacionado à asma, ansiedade, obesidade, doenças dos rins e do coração além de outras mais (asthma, anxiety, obesity, kidney and heart disease, and more). A folha corrida dos ftalatos, no entanto, inclui diminuição hormonal masculina, problemas de desenvolvimento do cérebro, diabetes, asma, obesidade e possivelmente câncer de mama (lower hormones in men, brain development problems, diabetes, asthma, obesity, breast cancer).
http://www.motherjones.com/tom-philpott/2013/03/study-eating-fresh-local-and-organic-wont-protect-you-nasty-chemicals
—By Tom Philpott
Assim, ingerir-se estes químicos industriais é uma péssima idéia, especialmente se fores uma criança ou uma mulher grávida. Mas evitá-los é muito difícil, a partir do ponto de que eles estão visceralmente presentes em plásticos e são ubíquos nos suplementos alimentares. O governo de Washington não considerou oportuno, de maneira geral, baní-los—apesar do FDA ter proscrito das mamadeiras o BPA (did outlaw BPA from baby bottles ) no ano passado (nt.: 2012) [somente depois da indústria voluntariamente removê-los (industry had voluntarily removed them)] e o Congresso excluiu os ftalados dos brinquedos infantis (pushed phthalates out of kids’ toys) em 2008. Por outro lado, os consumidores estão por conta própria descobrindo como evitar ingerí-los.
Infelizmente, isso parece ser uma tarefa bem difícil—e comer produto local, fresco e orgânico pode não ser suficiente como mostra uma nova pesquisa [new research (abstract)], publicada no periódico de revisão paritária, Journal of Exposure Science and Environmental Epidemiology.
A equipe liderada por Sheela Sathyanarayana do Instituto de Pesquisa Infantil da Universidade de Washington, em Seattle, fez uma “intervenção na dieta” de dois grupos de cinco famílias da região. Depois de coletar exames de urina para ter uma referência quanto aos níveis de BPA e ftalato para cada grupo, definiu-se que um grupo de famílias comeria, por cinco dias, alimentos de uma empresa de fornecimento alimentar que evitasse plásticos e usasse ingredientes frescos e, quando possível, também locais e orgânicos. Ao outro grupo foi fornecido “folhetos descrevendo as melhores práticas com recomendações para reduzirem as exposições a ftalatos e BPA”, solicitando que as seguissem tanto quanto possível ao preparem suas refeições ao longo de cinco dias. Os níveis dos químicos foram novamente medidos depois do período de cinco dias.
“Eu sou pediatra e as pessoas sempre me perguntam, ‘o que podemos fazer em nossos lares para reduzirmos a exposição a estes químicos?'”, contou-me Sathyanarayana. A ideia era descobrir se só dando às pessoas dicas do senso comum—reduzir o consumo de alimentos enlatados, evitar contado entre os alimentos e o plástico aquecido, etc.—seria suficiente para alcançar uma significativa queda das exposições. Supunha-se que uma dieta dirigida com alimentos frescos e livres de contato com plásticos, poderia se assistir o declínio dos níveis dos químicos e que as famílias seguindo simplesmente uma guiança de boas práticas puderiam nem enxergar as mudanças. A vantagem poderia ser: os guias não são suficientes e nós precisamos fazer mais para proteger as pessoas destes químicos, porque mudar completamente para refeições feitas em casa não é a opção da maioria das famílias.
Mas o que eles descobriram, diz Sathyanarayana, foi “completamente inusitado”: O grupo que recebeu o folheto na verdade não mostrou alterações, já o grupo com dieta local e orgânica, os níveis de BPA dobraram e os do fatalato mais altamente tóxico, o DEHP, saltou a um estonteando 2.377%. Em outras palavras, os pesquisadores estavam certos de que seguindo os guias não se poderia fazer muito para baixar a contaminação, mas foram surpreendidos ao detectarem que aqueles que se alimentaram com comida preferencialmente local, fresca e orgância, cozida e guardada sem plásticos, seus níveis de disruptores endócrinos pareceram dramaticamente aumentados.
Os pesquisadores foram surpreendidos por uma boa razão. Sathyanarayana disse-me que a equipe do trabalho fez um grande esforço para garantir que o alimento preparado para o grupo da dieta dirigida não tivesse contato com plásticos nem na preparação, na cocção ou na estocagem dos ingredientes utilizados, a tal ponto que as pessoas que arranjaram a dieta final solicitaram aos agricultores que entregassem seus produtos agrícolas em caixas e não em sacolas plásticas. E num estudo de 2011 (2011 study) publicado no periódico Environmental Health Perspectives, uma equipe diferente de pesquisadores tinha orientado cinco famílias a uma dieta dirigida similar e teve o resultado esperado: os níveis de BPA cairam em torno de 66% e os níveis de DEHP despencaram de 53% a 56%.
Estonteados com este resultados que se desviou do esperado, Sathyanarayana e sua equipe retornaram ao fornecedor e testaram todos os ingredientes quanto aos ftalatos (eles não testaram os alimentos quanto ao BPA). Os pesquisadores detectaram altos níveis de DEHP em dois tipos de alimentos: laticínios que vêm em garrafas de vidro da fazenda local e as especiarias que foram certificadas como orgânicas, mas importadas. O restante dos ingredientes mostrou níveis muito baixos. Sathyanarayana disse que, no estudo, os níveis de ftalatos para as crianças estavam aumentados vertiginosamente ainda maiores do que dos adultos — provavelmente em razão deles estarem consumindo mais produtos lácteos do que os adultos e também por causa de seus menores pesos.
Sathyanarayana relatou-me que as especiarias e os lácteros estão bem reconhecidos como impregnados de ftalatos. Ela mostrou-me o estudo europeu de 2006 (this 2006 European study/PDF) sobre uma variedade de alimentos que também foram detectado altos níveis nestes gêneros alimentícios. Ela acrescentou de que os níveis detectados no leite e nas especiarias empregadas pelo fornecedor foram muito mais altos do que aqueles encontrados em estudos anteriores.
- Perguntei à Sathyanarayana como os ftalatos poderiam contaminar o leite engarrafado em garrafas de vidro de um laticínio do estado de Washington que era vendido no mercado da cidade de Seattle. Enfatizou que o grupo não tinha informação específica sobre o laticínio em si, mas tinha testado o leite, o creme e a manteiga presentes no varejo. Ela observou que mesmo em estabelecimentos comerciais pequenos de produção de leite, ele é coletado dos úberes das vacas através de tubulação plástica macia e flexível—um tipo muito comum que muitas vezes contém ftalatos, que são usados para tornar a resina plástica flexível. “É o leite quente circulando pela tubulação macia e sabemos que quando o ftalato são aquecidos nos plásticos, acabam se despreendendo da resina”, disse Sathyanarayana. Salienta que suas análises dos possíveis percursos para a exposição foram puramente conjunturais.
Quanto às especiarias orgânicas, ela observa que os padrões orgânicos não dizem nada a respeito dos químicos que podem lixiviar para os alimentos através do processamento. E praticamente todas as especiarias comsumidas nos EUA são importadas e é extremamente difícil obter informações sobre as práticas de processamento que pode ser onde os disruptores endócrinos acabam se escondendo.
Mas estas descobertas ilustram um ponto mais amplo: independente das escolhas que nós façamos como consumidores—se nós compramos leite em garrafas de vidro e levamos ao microondas alimentos em embalagens plásticas—o processamento é feito bem antes de chegarmos no alimento e que pode contaminar nossa comida com químicos disruptores endócrinos. Eu discuti o estudo com Kim Harley, diretora associada para efeitos de saúde da Universidade da Califórnia/Berkeley no Centro de Saúde Infantil e Investigação Ambiental, e vem fazendo estudos epidemiológicos sobre o BPA e outros disruptores endócrinos. “A lição é que se pode tentar reduzir a exposição, mas há fontes desconhecidas de ftalatos que poderiam ser muito grandes e estão à espreita na cadeia alimentar”, disse ela. Acrescentou que se os melhores esforços dos cientistas que têm recursos não podem acessar os alimentos que não são dependentes desses produtos químicos, imagina-se então os consumidores agindo por conta própria que enrascada não estão.
Na minha visão, quando os consumidores individuais não podem se proteger por conta própria através de meios razoáveis, uma ação coletiva—i.e., pela regulamentação—será o único remédio. Estes resultados acrescentam uma carga de evidência que pode acabar levando o Ministério da Saúde (nt.: FDA-Food and Drug Administration) a tomar uma atitude quanto ao papel dos plastificantes nas resinas plásticas tanto no processamento dos alimentos como em seu embalamento.
Perguntei à Sathyanarayana como ela está advertindo às famílias no sentido de minimizar a exposição ao BPA e aos ftalatos. “Aconselho de que elas não usem plásticos nem para guardar os alimentos na cozinha como para sua preparação além de buscar alimentos frescos e de baixos teores de gorduras”, informa ela. Como se só isso bastasse.
Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, março de 2013.