Êxodo Rural.
https://outraspalavras.net/outrasmidias/como-o-agronegocio-despovoa-o-campo/
Vinicius Konchinski, Brasil de Fato
1/02/2024
[NOTA DO WEBSITE: Os equívocos do agronegócio, em nosso ponto de vista, em sua arrogância ‘tecnológica’ e de aprimoramento da violência que levou à produção de alimentos no mundo, reflete-se não só na agressão aos ambientes, tanto em sua flora como fauna, como na criação de animais, além do criminoso envenenamento de tudo e de todos com seus agrotóxicos e adubos solúveis. Pior ainda, também gera a fome, a criminalidade e a miséria urbana. Como a exígua população abstada tanto do campo como da cidade, não consegue captar o erro do ‘agronecrócio’ em nosso País?].
Nos últimos 22 anos, população rural brasileira diminuiu 33% – quase o dobro da média mundial. Período corresponde à hegemonia do atual modelo agrícola. Mais de um milhão de pessoas em idade ativa deixaram o campo. Resultado é desigualdade e pobreza nas cidades.
A população rural no Brasil diminuiu num ritmo acima da média mundial nos últimos 22 anos. De acordo com dados do Banco Mundial, o percentual de habitantes do país que vivem no campo caiu 33,8% de 2000 a 2022. No mundo, a redução foi de 19,2%.
Os dados foram tabulados por Gerson Teixeira, engenheiro agrônomo e diretor da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra). Para ele, o êxodo cria desafios para a sustentabilidade do campo e das cidades.
“A forte migração sem um acolhimento necessário em políticas públicas de moradia, saúde e educação criou catástrofes urbanas no país”, disse ele, ao Brasil de Fato. “Ao mesmo tempo, desorganiza um sistema de produção essencial, que é o da comida.”
Teixeira ressaltou que o êxodo rural, por si só, é um fenômeno social que aconteceu em praticamente todos os países do mundo e está ligado, basicamente, ao desenvolvimento da economia. A princípio, portanto, não é ruim. “As pessoas saíram do campo em busca de empregos na indústria no mundo todo”, acrescentou.
No caso do Brasil, a migração massiva aconteceu principalmente entre os anos de 1950 e 1980, quando a população do campo baixou de cerca de 65% do total para perto de 25%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A partir de então, houve uma desaceleração do êxodo, o que não significa que ele acabou. Ele persiste no Brasil e no mundo. Acontece que aqui ele ainda é mais intenso que em outros países.
Em 2000, cerca de 18,8% da população brasileira vivia no campo. Em 2022, o percentual caiu para 12,4%. “Já temos uma porcentagem de população rural menor do que Alemanha, França e Estados Unidos”, disse Teixeira.
Entre os países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE), que reúne as nações mais desenvolvidas do planeta, a população rural era de 18,5% em 2022. No ano 2000, 24,4%. Isso significa que houve redução de 24%, quase 10 pontos percentuais a menos do a registrada no Brasil.
Em 2000, mais da metade da população mundial ainda era rural: 53,3%. Em 2022, isso baixou para 43,3%.
A Índia – país mais populoso do mundo, com mais de 1,4 bilhão de habitantes – tinha 64,1% da sua população vivendo no meio rural em 2022, segundo o Banco Mundial.
Mudança etária
A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), lança todo ano estatísticas sobre a agricultura familiar no Brasil. Em 2023, o anuário já tinha destacado a redução da população rural no país.
O fenômeno afeta principalmente os mais jovens e está ligado à falta de perspectivas de trabalho e estudo no campo.
O número de estabelecimentos rurais de educação básica caiu de 79,3 mil para 52,7 mil de 2010 para 2022. Já o número de matrículas caiu de 4,6 milhões para 3,3 milhões no período.
A população com idade entre 18 e 59 anos – ou seja, apta para o trabalho – diminuiu em quase 1 milhão também de 2012 a 2022. A população geral não diminuiu menos porque o número de idosos cresceu em cerca de 200 mil pessoas.
“O crescimento rápido e desordenado levou às cidades graves problemas de infraestrutura urbana, saneamento, habitação, transporte, etc. A manutenção da população no campo deveria ser uma estratégia do país para evitar o colapso das cidades, principalmente também quando levamos em conta a questão da segurança alimentar e nutricional”, reforçou a Contag, em informações enviadas ao Brasil de Fato. “A agricultura familiar produz mais de 70% dos produtos hortifrutigranjeiros do país, e é responsável pela maior parte da comida saudável que abastece a mesa dos brasileiros.”
Para a Contag, é preciso pensar políticas que tornem a vida nas zonas rurais mais atrativas, com conectividade, modernização, saneamento e habitação rurais. Políticas que favoreçam a agricultura familiar e a reprodução de seu modo de vida.
Um das mais importantes dessas políticas voltadas a manter a população no campo é o Plano Safra para Agricultura Familiar de 2023, apresentado pelo governo federal, contém linhas de crédito voltadas exclusivamente para os mais jovens. O programa destinará R$ 71,6 bilhões em crédito rural com juros baixos a pequenos produtores. Isso é 34% superior ao anunciado na safra passada e o maior valor histórico.