Carne: produto agrícola brasileiro mais distante das regras antidesmate da UE

Pecuária E Desmatamento

https://climainfo.org.br/2024/02/18/carne-e-produto-agricola-brasileiro-mais-distante-das-regras-antidesmate-da-ue

ClimaInfo, 19 de fevereiro de 2024.

[NOTA DO WEBSITE: O mais cínico do chamado ‘‘, ou melhor, ‘agronecrócio’, é que tudo o que é produzido não tem como prioridade o povo brasileiro, o verdadeiro dono de todo o solo nacional, mas sim aqueles que, no boteco dos capitalistas, pagará mais alguns vinténs pelas riquezas da Nação. E assim, os que se apossaram, até com ‘documentação legal’, das terras do País, estão a serviço de seus bolsos e da satisfação dos domadores globais. E os capachos daqui, de quatro, ficam abanando o rabinho para os opressores de sempre].

Estudo mapeou rede de produção de seis commodities agropecuárias brasileiras e avaliou quais estão em melhores condições de conformidade com nova legislação do bloco europeu.

Não é novidade que o desmatamento é o principal contribuinte do Brasil para as mudanças climáticas. Assim como também já se sabe que é o agronegócio, ou melhor, sua parcela predadora, o principal agente de devastação florestal no país. Mas, diante da conscientização de parte desse setor econômico, ainda que a fórceps e por razões estritamente comerciais, e com o país sendo considerado um dos “celeiros” do mundo, fica a pergunta: quais das atividades do agronegócio causa mais estrago?

Para tentar responder a essa pergunta, o Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS) realizou um mapeamento da rede de produção de seis commodities agropecuárias do país – cacau, café, carne, dendê, madeira e soja. O mapeamento, publicado no Ecological Economics, buscou avaliar quais dessas culturas estão em melhores condições de entrar em conformidade com a nova legislação da União Europeia que proíbe a importação de bens oriundos de áreas desmatadas.

Para surpresa de zero pessoas, a cadeia da carne bovina se mostrou a mais problemática e a mais distante do cumprimento das novas exigências do bloco europeu, destacam Um só planeta e O Globo. Na outra ponta, o café se mostrou o produto mais propenso a cumprir a nova legislação antidesmatamento da UE, que baseou medida similar adotada pelo Reino Unido.

Os pesquisadores utilizaram um “índice de probabilidade de conformidade”, que teve como um dos fatores as taxas de desmatamento nas regiões onde essas commodities são produzidas. Assim, o índice foi de 89% para o café. A soja ficou em 64%; a madeira, em 46%; o dendê, 44%; o cacau, 33%, e a carne bovina, 30%.

O índice também considerou a capacidade técnica e o interesse pela certificação dos produtos por parte de seus produtores, a fim de avaliar o grau de sustentabilidade das lavouras. Esse quesito prejudicou a posição do cacau e do dendê, cujas produções escoam a partir de uma miríade de pequenos produtores. Essa fragmentação, dizem os pesquisadores, dificulta a criação de um sistema de rastreamento confiável que atenda às normas da UE.

O alto percentual da soja surpreende, já que o grão tem lavouras ocupando áreas de desmatamento relativamente recente, sobretudo no Cerrado. Mas, como 68% da produção nacional são exportados – e 15% têm como destino a UE –, há um grande incentivo econômico para investir em rastreamento e certificação, aponta a pesquisa. Além disso, como o mercado brasileiro está ancorado em grandes traders, a cadeia produtiva está numa posição mais favorável para criar um sistema robusto de rastreamento.

No caso da carne bovina, apesar das novas exigências europeias tornarem evidentes o baixo padrão de sustentabilidade da carne brasileira, elas podem precisar de ajustes para não punir outros setores por tabela, explicou a especialista em comércio internacional e principal autora do estudo, Susan de Oliveira.

“As commodities que têm participação maior de agricultores familiares podem ter mais dificuldade para comprovar a cadeia livre de desmatamento, também porque esses pequenos produtores muitas vezes têm dificuldade de comprovar a posse legal da terra, e a legislação da União Europeia e do Reino Unido não olha somente a questão de desmatamento zero, mas também se a produção é feita de acordo com a legislação dos países produtores”, disse Susan.

Em tempo: As mudanças climáticas, somadas ao El Niño, devem reduzir a safra brasileira 2023/2024 em até 8% em relação à safra passada, avaliam governo e consultorias especializadas. Flávio Roberto de França Junior, economista da Datagro Grãos, explica que soja e milho devem ser mais afetados neste ano, quando a instabilidade climática se soma à queda do preço dos grãos no mercado mundial, o que agrava a redução dos ganhos no campo, informa O Globo.