Bioplástico: nome é diferente, mas o plástico é o mesmo

Será que o plástico feito com material vegetal é melhor? As garrafas de Coca-Cola e de Pepsi, mesmo feitas a base de plantas, ainda prejudicam o meio ambiente. As empresas simplesmente substituíram combustíveis fósseis (como o petróleo e o gás natural) pelo etanol.

 

http://www.slate.com/articles/health_and_science/green_room/2011/06/plastic_by_any_other_name.html

PLÁSTICO SOB NOVO NOME

 

As garrafas da Coke da Pepsi mesmo feitas de produtos de origem vegetal ainda prejudicam o ambiente. 

 

Por Amy Westervelt, Junho 14, 2011.

 

Plastic bottles. Click image to expand.

Primeiro vieram as press releases: “Em março, a PepsiCo se vangloriava de ser “A primeira do mundo a usar garrafa PET, renovável 100% de origem vegetal“, levndo a CocaCola a balbuciar, “A Odwalla, subsidiária da Coke, primeiro a comercializar com embalagens 100% ‘PlantBottle’ ™ “. As manchetes seguintes sacodiram o mercado com estas notas: “Garrafas da Pepsi: nada mais de plástico” (Christian Science Monitor), “Pepsi aposta alto em garrafas não plásticas 100% de origem vegetal” (GreenBiz),” CocaCola desenvolve garrafas de plástico reciclável e sub-produto vegetal” (Guardian). No último mês, a Coca-Cola riberou um comercial para sua garrafa d’água com a marca Dasani defende que sua embalagem baseada parcialmente em vegetais é “projetada para fazer a diferença”:

 

 

Mas apesar de todo este frenesi, as duas garrafas da Coca-Cola e da PepsiCo baseadas em vegetais continuam sendo ainda muito plástico. As corporações simplesmente trocaram a origem fóssil (petróleo ou gas natural) tradicionalmente usada para fazer suas garrafas plásticas agora com etanol de fontes renováveis (resíduos vegetais no caso da Pepsi e da cana de açúcar brasileira no caso da Coke). Embora estas matérias primas iniciais venham de fontes renováveis e de baixo carbono, as resinas plásticas resultantes são quimicamente idênticas ao polietilenotereftalato – PET – e ao polietileno de alta densidade – PEAD – com as quais as garrafas plásticas normalmente são fabricadas – fato sabido pelas corporações  (nt.: http://myplasticfreelife.com/2011/04/the-truth-about-pepsis-new-plant-based-pet-plastic-bottle/). E uma vez que estas matérias primas vegetais transformam-se em resinas plásticas, carregam todos os impactos ambientais como as resinas plásticas que são originárias de petróleo, ou seja, nafta petroquímica: elas não são biodegradáveis, poluem os oceanos e solos planetários e ainda liberam substâncias químicas potencialmente prejudiciais em nossos alimentos.

“Elas, as corporações, estão usando as mesmas estruturas fabris para fazerem os mesmos polímeiros que podemos encontrar noutros plásticos. Assim estas garrafas têm efeito zero quanto à poluição com plásticos”, diz Marcus Eriksen, um especialista marinho que é cofundador da ONG 5 Gyres (nt.: http://www.5gyres.org/), criada há poucos anos atrás com a finalidade de estudar a plastificação dos oceanos in áreas como Grande Mancha de Lixo do Pacífico (nt.: http://en.wikipedia.org/wiki/Great_Pacific_Garbage_Patch). Eriksen e sua tripulação acabam de explorar os cinco maiores vórtices oceânicos de lixo do mundo (correntes marítimas com baixa velocidade que permitiram criar massivos redemoinhos d’água onde os plásticos podem se acumular). Eles encontraram verdadeiras “sopas plásticas” — camadas de água com pequeníssimos pedaços de plásticos — em todos os cinco vórtices. O grupo de Eriksen e outros pesquisadores também encontraram nacos e destroços de pláticos nas costas de várias ilhas disperos através dos vórtices. Da mesma forma, encontraram nos estômagos de pássaros mortos (nt.: http://www.chrisjordan.com/gallery/midway/#CF000313%2018×24), peixes e outros animais que pegam pedaços de plástico quando se confundem com peixes e outros animais dos quais se alimentam e finalmente morrem em razão de não conseguirem digerir estes materiais (nt.: ).

De maneira maneira, plástico — de origem vegetal ou outra qualquer — agride a saúde humana. Os perigosos aditivos químicos comumente utilizados em plásticos, como o antioxidante BHT (nt.: butylated hydroxytoluene = hidroxitolueno butilado) , como também compostos químicos que lixiviam dos plásticos, como a acetaldeido que vem sendo amplamente publicado (nt.: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16470261) por eu aparente conexão com vários tipos de cânceres (nt.: http://ecologycenter.org/factsheets/plastichealtheffects.html).

“Algumas formulações de bioplásticos usam o mesmo tipo de atidivos como as resinas plásticas originárias de petróleo ou de gás natural”,  reconhece Melissa Hockstad, vice presidente da SPI (nt.: http://www.plasticsindustry.org/), uma associação de lobby da indústria. Ou seja, plásticos de origem vegetal não estão necessariamente livres de substâncias prejudiciais. Não há jeito de indentificar se uma garrafa particular feita de plástico de origem vegetal tenha incluidas estas substâncias, já que as “receitas” de todas as resinas plásticas estão protegidas pelo segredo industrial. Mas a partir de que os fabricantes tradicionais de PET e PEAD tendem a empregá-las para produzir alto nível de maleabilidade e transparência, existe um boa chance de que as versões de plásticos originários de vegetal também os contenham. Melissa Hockstad diz que “algumas companhias vem buscando desenvolver alternativa com base biológica”. Mas a frase chave é que “estão desenvolvendo”, ou seja, estes aditivos ainda não existem e talvez jamais ocorra isso.

Dito isso, há um cerne de progresso real dentro desta prograganda exacerbada dos plásticos de origem vegetal. A nova garrafa reduz o uso de petróleo e melhora a reciclabilidade dos produtos. Mas há uma grande diferença entre “reciclável” e “reciclado”. Embora todos os bioplásticos sejam tecnicamente “recicláveis”, os atuais sistemas de reciclagem não estão aptos a reciclarem este tipo de resina que não mimetizem os plásticos hoje existentes. Os bioplásticos mais comuns incluem o ácido poliláctico que é feito de amido de milho, mandioca ou açúcar de cana. Quando estes bioplásticos chegam num galpão de reciclagem, são separados pelos recicladores como lixo descartável.

Neste sentido, a opção da Coke e da Pepsi de criaram tanto o PEAD como o PET de vegetal em vez de outros bioplásticos é louvável. Infelizmente, a população ainda recicla somente uma pequena fração de garrafas plásticas que usam, não importanto de como estas garrafas sejam feitas. (Os fabricantes colocam efetivamente as taxas de reciclagem de PET em 27%, enquanto os defensores da reciclagem sugerem que isto nãoé mais do que 21%). Assim, a maioria das garrafas feitas com vegetais irão, infelizmente, para os aterros ou ao longo das margens das rodovias.

Como tal, é fundamental não cair no engodo de considerar estas resinas como biodegradáveis. “Como um reciclador, estou muito mais feliz com a bioresinas e de nós somos capazes de reciclá-las. No entanto,  não quero gerar uma imagem de que por isso elas são algo que as pessoas pensem de que ao comprarem uma destas garrafa, podem ser perdulários e displicentes”, diz Gerry Fishbeck, vice presidente da  United Resource Recovery Corp. (nt.: http://www.urrc.net/new/pages/), uma grande empresa de reciclagem que é parceira da Coca-Cola.

A Pepsi e a Coke poderiam fazer algo mais positivo sob a aspecto ambiental se focassem na reciclagem em vez de criarem garrafas plásticas de origem vegetal. Poderiam, por exemplo, finalmente lançar seu apoio para o intercâmbio e compra de garrafas em toda a cadeia de consumo, através sistema criado por legislação estatal quanto ao depósito para as embalagens de bebidas. Nos 1o estados norte-americanos onde a lei foi decretada, as taxas de garrafas recicladas é de 60 a 80%, dramaticamente mais alto do que a média nacional. Mas até agora tanto a Coca-Cola como a Pepsi têm se recusado a se engajar neste sistema (nt.: http://www.bottlebill.org/news/articles/2011/4-29-SuppliersSayCokeMandates.html), alegando que ele criou um custo razoável nos seus negócios. (Neste sistema, os fabricantes são obrigados a configurar um processo de depósito, bem como organizar coleta e o processamento de suas embalagens vazias).

Eles devem também se comprometer de empregar material reciclado em suas embalagens. Em 2001, a Coca-Cola se comprometeu de usar 10% plástico reciclado em suas garrafas PET, até 2005. Ela alcançou esse objetivo, rapidamente decurrou com seu compromisso no emprego de material reciclado e agora se esquiva destas estatísticas precisas com declarações do tipo: “estamos trabalhando para avançar nas tecnologias que nos permitam empregar maiores quantidades de materiais reciclados em nossas embalagens”. As garrafas atualmente produzidas pelas grandes fabricantes de garrafas, usam cerca de 4% de materiais reciclados, de acordo com Susan Collins, diretora executiva do Container Recycling Institute (nt.: http://www.container-recycling.org/).

Não há nenhuma dúvida de que tanto a criação de instalações de coleta como a integração de material reciclado no fluxo de produção, são dispendiosos. Mas várias empresas já estão fazendo isso, diz Collins. Naked Juice, Naya Water, Eldorado Water e a Rainbow Light Nutritional Systems, por exemplo, recorrem a 100% de material plástico reciclado, em suas garrafas. Enquanto isso, a Coca-Cola e a Pepsi estão gastando milhões de dólares em uma versão de garrafas com origem vegetal do mesmo tipo de resina plática das antigas embalagens antiga, tratando-as como se fossem um avanço ambiental. Mas não nos deixemos enganar: na melhor das hipóteses, é uma esquiva.

 

Correção, Junho 15, 2011:Este artigo incorretamente sugere que o bisfenol A e o ftalatos são comumente empregados como aditivos para os plásticos PET e PEAD. 

 

 

Material sintetizado da notícia acima, pelas ativistas Fernanda Medeiros e Fabiana Dupont, para o site  O Tao do Consumo.

Publicado em junho 21, 2011

 

Em março, a Pepsi divulgou para a imprensa “a primeira garrafa feita 100% a base de plantas, uma garrafa PET feita com fontes renováveis”. Em seguida, a Coca devolveu: “Odwalla, do grupo Coca-Cola é a primeira indústria a comercializar embalagens feitas 100% a base de plantas”. As manchetes seguintes foram ainda mais fortes: “Garrafas da Pepsi: agora sem plástico” (Christian Science Monitor), “Pepsi pressiona mercado com garrafas feitas a base de plantas, uma garrafa 100% sem plástico” (GreenBiz), “Coca-Cola está desenvolvendo garrafas de plástico reciclado e materiais vegetais” (Guardian). No mês passado a Coca-Cola lançou um comercial para sua água mineral Dasani argumentando que a embalagem feita com material vegetal foi desenvolvida para “fazer a diferença”.

Mas, apesar de todo o barulho, as garrafas a base de plantas ainda resultam no velho e conhecido plástico. As empresas simplesmente substituíram combustíveis fósseis (como o petróleo e o gás natural) pelo etanol. E embora o etanol seja renovável e fonte de baixa emissão de carbono, o plástico resultante é quimicamente idêntico ao PET (polietileno tereftalato) ou ao PEAD (polietileno de alta densidade), materiais comumente usados na fabricação de garrafas plásticas. E, uma vez que o material vegetal se torna plástico, eles causam os mesmos impactos ambientais que um plástico feito de combustível fóssil. Ou seja, como não são biodegradáveis, poluem os oceanos e o solo e ainda contaminam os alimentos com químicos que migram da embalagem para o conteúdo interno. “Eles estão simplesmente utilizando plantas para fazer os mesmos polímeros que se encontram em plásticos. Isso não tem efeito nenhum para o meio ambiente”, explica Marcus Eriksen, um dos criadores da 5 Gyres, entidade que estuda a poluição de plástico em áreas como a grande mancha de lixo do Oceano Pacífico.

Eriksen e sua equipe acabam de explorar as cinco maiores correntes do mundo onde o plástico se acumula. Eles acharam plástico se acumulando em várias das ilhas pesquisadas e no estômago de pássaros e peixes mortos que consumiram plástico, pensando se tratar de pequenos peixes ou algas marinhas.
O plástico feito a base de plantas (ou não) prejudica a saúde de humanos da mesma forma. Os perigos de aditivos químicos normalmente usados em sua produção – como ftalatos e bisfenol A – têm sido amplamente divulgados: os dois já foram associados à obesidade, autismo e várias formas de câncer.

“Algumas formulas de bioplásticos usam os mesmos tipos de aditivos que os plásticos feitos com petróleo ou gás natural”, reconhece Melissa Hockstad, vice presidente da SPE (The Society of the Plastics Industry), uma associação de indústrias de plástico dos Estados Unidos. “Algumas empresas estão trabalhando para conseguir alternativas” diz Hockstad. A dúvida é: se as empresas “estão trabalhando no desenvolvimento”, esses bioaditivos ainda não existem?

Notícia originalmente publicada no site Slate do Grupo Washington Post em 14 de junho de 2011.