A primeira ideia era escrever um roteiro de ficção sobre a Amazônia. Depois de uma expedição pela floresta — e a constatação de que a Amazônia não é tão simples quanto parece —, a ideia passou a ser fazer uma pesquisa filmada. Após três anos, 120 horas de filmagens e R$ 140 mil angariados em uma grande vaquinha pela internet, o projeto finalmente saiu do papel. E em uma data propícia. O documentário – Uma Guerra Anunciada”, sobre a usina hidrelétrica que está sendo construída no Pará, estreou no último domingo, com exibição no auditório Ibirapuera, em São Paulo, em meio às discussões sobre meio ambiente promovidas pela Rio+20. Agora, ele está disponível na internet para quem quiser assitir neste link. Na próxima sexta-feira, o longa-metragem pode ser assistido na Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo. O horário da sessão ainda não foi definido.

Financiamento coletivo leva Belo Monte para as telonas

 

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A reportagem é de Rafael Soares e publicada no jornal O Globo, 20-06-2012.

O responsável por essa saga, que durou dois anos e três expedições à Amazônia, é o diretor André D’elia. A ideia de escrever um roteiro de ficção sobre a floresta surgiu quando ele ainda era assitente de direção de outro longa. Mas bastou uma visita ao local para perceber que os povos de lá precisavam ser ouvidos.

— No Rio ou em São Paulo, as pessoas acham que conhecem a Amazônia, acham que sabem o que está acontecendo lá, mas não sabem. Muita coisa não está sendo dita. Para entender a questão é fundamental ouvir os povos que vivem lá e saber o que está por trás do projeto — conta André, que ouviu, ao todo, 87 pessoas, entre políticos, especialistas, líderes indígenas e moradores da região do entorno de Belo Monte para montar o filme.

Desde o início, o documentário foi pensado como uma iniciativa independente, sem “rabo preso”. André, inclusive, vendeu sua moto por R$ 11 mil para ajudar a financiar o projeto. Mas quando as filmagens acabaram, a equipe percebeu que não conseguiria financiar sozinha o próprio filme. Assim, surgiu a ideia de incluir o público no processo e usar o financiamento coletivo online para angariar dinheiro suficiente para que o filme fosse finalizado e lançado na internet. A resposta dos espectadores não poderia ter sido mais positiva: em um mês, quase 3,5 mil pessoas bateram a cota de R$ 114 mil e doaram mais de R$ 140 mil.

— Não podíamos esperar por editais. A usina já está sendo construída. Além disso, o crowdfunding também foi uma maneira que encontramos de incluir o público no projeto, das pessoas poderem dizer: ‘Eu quero saber a verdade!’ — explica o diretor.

Em três dias de exibição pela internet, o filme foi visto por 25 mil pessoas. Mas a intenção da produção é encontrar parceiros para a exibição do filme em circuito. De acordo com André, quanto mais gente assistir, maior a reflexão sobre o empreendimento e, consequentemente, maior a pressão por uma solução que respeite os povos que vivem no Xingu.

— O primeiro objetivo que desejo com o filme é concreto: espero que ele evite a construção de outras hidrelétricas ao longo do Xingu, um ponto que não está sendo divulgado hoje, mas, segundo especialistas, vai passar a ser uma necessidade no futuro. Também espero que mostre como os povos indígenas são tratados pelo poder público e inspire uma reflexão para que as decisões que englobem esses seres humanos sejam tomadas com mais carinho.