Bancos desembolsaram US$ 22,5 bi para empresas envolvidas com desmatamento

Pecuária E Desmatamento

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Nayara Machado

22 de junho de 2022

Relatório da Rainforest Action Network mostra que bancos e grandes marcas globais falham em dar respostas a conflitos em florestas tropicais.

Levantamento da Rainforest Action Network (RAN) revela que, desde a assinatura do Acordo do Clima de Paris, no final de 2015, sete bancos desembolsaram pelo menos US$ 22,5 bilhões em empréstimos e outros serviços financeiros para empresas envolvidas em conflitos em florestas da Indonésia, Bacia do Congo e .

O JPMorgan Chase foi o maior, fornecendo US$ 6,9 bilhões, seguido pelo japonês MUFG com US$ 4 bilhões.

A análise anual também mostra que, à medida que as ameaças enfrentadas pelas comunidades indígenas nas regiões de floresta tropical aumentam, as empresas do lado da demanda estão falhando em reformar as cadeias de suprimentos.

“Sabemos que estamos em uma encruzilhada e qualquer desmatamento adicional contribuirá para uma catástrofe climática que durará por gerações”, diz Daniel Carrillo, diretor de Campanha Florestal da RAN

“Enquanto isso, as próprias comunidades que tentam proteger essas florestas tropicais inestimáveis ​​para todos nós estão enfrentando represálias cada vez mais violentas”.

Os dados foram divulgados na última terça (14/6), um dia antes de a Polícia Federal encontrar os restos mortais do indigenista Bruno Araújo e do jornalista Dom Phillips, assassinados no Vale do Javari — palco de conflitos típicos da Amazônia, como desmatamento e avanço do garimpo.

A RAN avaliou 17 companhias, incluindo bancos, e constatou que nenhuma delas tomou “as medidas adequadas para lidar com sua contribuição para a destruição de florestas, grilagem de terras e violência contra comunidades locais e indígenas”, e várias marcas e bancos continuam a ter um desempenho pior do que seus pares. Veja na íntegra (.pdf)

O banco estatal indonésio BNI, o malaio CIMB e o multinacional estatal chinês ICBC tiveram o pior desempenho entre os bancos avaliados.

Entre as empresas, a gigante de bens de consumo Procter & Gamble, a confeitaria Mondelēz e a fabricante de alimentos japonesa Nissin Foods também ficaram atrás de seus pares ao agir para acabar com o desmatamento e as violações dos direitos humanos nas cadeias de fornecimento de commodities com risco florestal.

De acordo com o levantamento, nenhum dos 17 exigiram comprovação de que o direito ao Consentimento Livre, Prévio e Esclarecido (CLPI) está sendo respeitado por seus clientes, fornecedores ou investidas.

E até o momento, nenhum dos bancos ou marcas analisadas publicou os procedimentos que seriam usados para garantir que os direitos dos povos indígenas e das comunidades locais de dizer não ao desenvolvimento em suas terras sejam respeitados.

“Um punhado de marcas e bancos poderosos têm séria influência sobre a contínua destruição de florestas tropicais, o roubo de terras e o assassinato de defensores dos direitos humanos e, no entanto, estão fazendo muito pouco para impedir isso”, disse Carrillo. “O mundo não tem mais tempo para essas corporações continuarem repassando os impactos que seu modelo de negócios tem sobre florestas e comunidades”.

Relatório da Rainforest Action Network mostra que bancos e grandes marcas globais falham em dar respostas a conflitos em florestas tropicais

Sobrevoo flagra queimada na floresta Amazônica, no Pará (Foto: Araquém Alcântara/WWF Brasil)

Acabar com o desmatamento e proteger florestas está entre os principais apelos da comunidade global para alcançar a meta de emissões líquidas zero até 2050.

Até porque, muitas das estratégias, tanto de países quanto de empresas, para alcançar a neutralidade estão associadas ao offset — isto é, a compensação das suas emissões com projetos de remoções (geralmente relacionados a florestas) em outros lugares.

Uma outra análise, do NewClimate Institute, alerta que as abordagens de compensação  estão minando a integridade das promessas climáticas de grandes empresas — justamente pelos riscos associados à destruição florestal.

Entre as 25 das maiores empresas do mundo, 24 estão contando com créditos de compensação de qualidade variável.

Além disso, pelo menos dois terços das empresas dependem de remoções de florestas e outras atividades biológicas, que podem ser facilmente revertidas, por exemplo, por um incêndio florestal, alerta a organização.

Reforma no preço do carbono

Investidores que administram 10,6 trilhões de dólares disseram nesta quarta (22/6) que menos de 25% das emissões globais são cobertas por um preço de carbono, cujo nível varia muito entre as regiões e é muito baixo para efetuar mudanças.

Em documento divulgado às vésperas da Cúpula de Líderes do G7, que começa no próximo domingo em Berlim, a Net-Zero Asset Owner Alliance (NZAOA) pede que formuladores de políticas introduzam preços de carbono juridicamente vinculativos, definidos de acordo com a ciência das mudanças climáticas.

Um relatório da Comissão de Alto Nível sobre Preços do Carbono descobriu que os preços precisavam estar na faixa de US$ 50 a US$ 100 a tonelada até 2030 para manter o aquecimento global abaixo de 2 graus Celsius. Reuters

CBIO em alta no Brasil

Por aqui, os créditos de descarbonização vinculados à política de biocombustíveis seguem em alta. Na semana de 13 a 17 de junho, os CBIOs foram comercializados em média a R$ 146,75 — maior patamar desde o início das negociações, em junho de 2020 –, de acordo com boletim semanal do Ministério de Minas e Energia.

Cada CBIO equivale a uma tonelada de carbono que deixou de ser emitida na produção de biocombustível.

Até agora, os produtores de biocombustíveis (emissores) colocaram à venda 66,2% da meta anual de 35,98 milhões que precisam ser adquiridos pelas distribuidoras de combustíveis (parte obrigada).

Nayara Machado

Jornalista especializada em energia e combustíveis com foco em clima e sustentabilidade. Edita a newsletter Diálogos da Transição. [email protected]