Por Sarah Gibbens
Quarta-feira, 24 Abril, 2019
Ao longo dos últimos 80 anos, o aquecimento global tem afetado populações de peixes em todo o mundo, e muitas foram drasticamente reduzidas.
Novo estudo publicado na revista científica Science descreve o impacto que oceanos mais quentes têm em espécies de peixes comercialmente importantes.
A indústria mundial da pesca depende de populações regionais de peixes que podem ser pescados pelo homem para fins econômicos. E, em média, os pesquisadores descobriram que o número de peixes em importantes populações ao redor do mundo foi reduzido em 4% desde 1930.
Populações localizadas no Mar do Japão e no Mar do Norte foram as mais afetadas. O número de peixes nesses locais foi reduzido em 35%. Entretanto, outros peixes se beneficiaram do aumento da temperatura das águas e suas populações cresceram, uma expansão que, de acordo com os cientistas, pode gerar uma competição não sustentável por recursos.
“Ficamos surpresos com a intensidade do impacto já causado pelo aquecimento nas populações de peixes”, afirma o principal autor do estudo, o ecologista Chris Free, da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara.
Medindo a temperatura do oceano
Para avaliar o efeito do aquecimento e da pesca predatória, Free começou a analisar dados de temperatura dos últimos 80 anos e compará-los à produtividade de uma determinada população de peixes durante os períodos nos quais a temperatura ficou acima da média. A equipe analisou 235 populações de 124 espécies de peixe em 38 regiões.
Águas mais quentes podem deixar alguns peixes menores devido ao estresse metabólico, dificultando a reprodução ou a busca por alimentos. Águas mais quentes também podem reduzir o número de zooplânctons, alimento essencial aos peixes. O impacto em organismos menores gera outros impactos no resto da cadeia alimentar.
No Mar do Norte e no Mar do Japão, onde os cientistas detectaram águas com temperaturas mais altas, foi descoberto que a pesca predatória havia tornado os peixes ainda mais vulneráveis.
“É o equivalente a dois golpes consecutivos”, afirma outro autor do estudo, Malin Pinsky, ecologista da Universidade de Rutgers. “Se a pesca já os prejudica, eles provavelmente têm uma resposta pior quando as temperaturas aumentam”.
“Quando Chris me mostrou esses números, fiquei realmente impressionado”, comenta Pinsky. “Sabíamos que os animais estavam buscando novos locais, mas eu não tinha percebido que já havia afetado a capacidade dessas populações de se reproduzirem”.
Mitigando o impacto do aquecimento
Ecologista de pesca Will White, da Universidade do Estado de Oregon, não participou do estudo de Free e Pinsky, mas diz que as conclusões dos autores destacam a importância de controlar as populações de peixes.
“Com muitos peixes na região da costa oeste, historicamente, temos um controle muito bom das populações, o que nos deu resiliência”, afirma White.
De 2014 a 2016, a costa oeste foi afetada pela presença mortal de uma mancha de água mais quente denominada “blob”. Quando essa mancha aqueceu as águas do Pacífico, ela matou organismos marinhos como os zooplânctons, o alimento dos salmões, prejudicando a saúde das lucrativas populações de salmão do estado de Oregon.
“Não tenho certeza se há uma forma de escaparmos disso”, diz White sobre o aquecimento agudo do oceano. Porém, em uma escala global menos dramática, ele diz que considerar o aquecimento dos oceanos pode ser uma importante ferramenta para o controle das populações de peixes.
Pinsky alerta que o crescimento das populações não deve ser considerado um bom sinal.
“Os peixes são como a história de Cachinhos Dourados”, afirma Pinsky. “Para alguns, é muito frio, mas aumentar a temperatura fará com que fique muito quente”.
O aumento de uma espécie também pode avançar sobre o território de outra espécie. Na região da costa da Nova Inglaterra, nos EUA, as populações de robalo aumentaram.
“O problema é que”, complementa ele, “os robalos gostam de comer lagosta. Conforme se tornam mais abundantes, podem começar a impactar a lagosta-americana. É preciso considerar todos esses efeitos secundários”.
Alimentando o planeta
Se a atual tendência de aumento populacional continuar, o mundo precisará dobrar sua produção de alimentos até 2050. Para compensar, líderes mundiais passaram a considerar o peixe como uma importante fonte de proteína para milhões de pessoas.
Em 2016, 171 milhões de toneladas de peixes foram retiradas do mar e espera-se que esse número aumente para 201 milhões ao longo dos próximos 10 anos.
“A segurança alimentar é uma grande preocupação”, afirma Pinsky. Estima-se que 3 bilhões de pessoas utilizem o peixe como fonte primária de proteína.
“Além disso”, complementa Pinsky, “também sabemos que os impactos são grandes para os que dependem da pesca para sobreviver”.
Ele acredita que um controle mais efetivo pode ajudar a mitigar o impacto do aquecimento. Criar zonas nas quais é proibido pescar, por exemplo, dá aos peixes tempo para se reproduzirem e voltarem a aumentar suas populações.
Por fim, Free diz que seu estudo destaca os impactos da queima de gases de efeito estufa, que não são poucos. Sem nenhuma ação, ele afirma que algumas populações de peixes provavelmente continuarão em declínio.
Ele complementa, “apenas precisaremos nos adaptar”.
Muito bom, mais infelizmente os seres humanos não tem interesse em cuidar do planeta
é triste essa situação!