Yeosu, Coreia do Sul, 13/7/2012 – Há um século, uma caminhada a beira-mar em quase qualquer parte do mundo era uma experiência limpa e revigorante, fosse com o mar calmo ou cheio de ondas. Agora, não é assim.
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por Samuel Koo*
Os litorais e os oceanos do mundo, e as criaturas que os habitam, estão sofrendo, e o ser humano é o culpado. Hoje é mais provável que alguém que vague pelas areias da praia encontre pedaços de plástico do que conchas marinhas. A contaminação, causada por enormes vazamentos de petróleo ou pelo despejo de lixo, arrasou com o fundo do oceano e regiões antes originais onde o mar encontra a terra.
Vastos trechos da faixa costeira foram dragados e reformados para criar terras aráveis, destruindo o habitat de aves, conchas marinhas e outras formas de vida. Frotas dedicadas à pesca industrial, com suas redes estendidas ao longo de quilômetros, colocam os peixes à beira da extinção. A lista das maneiras de explorar os oceanos continua. Não é exagero afirmar que enfrentamos uma crise ecológica fundamental que ameaça nossas vidas. O quanto estamos conscientes sobre o que está em risco?
O governo da Coreia do Sul, junto com outros 104 países e a Organização das Nações Unidas (ONU) enfrentam essa questão e muitas outras em uma feira mundial de três meses que acontece em Yeosu, na costa Sul da península coreana. Seria difícil encontrar melhor lugar para realizar uma exposição internacional sobre a importância dos oceanos. Yeosu, outrora uma cidade portuária de 300 mil habitantes, desenvolveu-se a partir de uma pequena baía. Às suas margens se ergue um parque futurista ao estilo da Disney, que recebe milhões de visitantes de todo o mundo para percorrer pavilhões que destacam o prazer e os perigos que enfrentam.
A ONU tem um papel crucial na Expo 2012 de Yeosu, patrocinando uma série de programas educativos para destacar assuntos fundamentais como mudança climática, elevação do nível do mar e contaminação marinha, entre outros. O aumento do nível do mar colocará em risco a vida das comunidades costeiras, ricas e pobres, em todo o planeta. Em pouco tempo, os pequenos Estados insulares poderão, simplesmente, desaparecer debaixo d’água. Sem uma pesquisa e educação adequadas sobre a natureza dos tsunamis, milhares de pessoas continuarão morrendo neles, como ocorreu com os poderosos maremotos no Oceano Índico em 2004 e nas águas da costa oriental do Japão em 2011. E a segurança dos mares também afeta todas as nações que dependem da livre circulação de seus navios mercantes.
No núcleo central do complexo de Yeosu há uma estrutura de 12 andares de altura com formato da letra “O”, que lança jatos de água e luzes de laser. Emite uma fina lâmina de água sobre a qual é possível projetar vídeos. O “O”, naturalmente, remete aos oceanos, mas também ao zero, como símbolo do início de um esforço coletivo para restabelecer a saúde dos mares. Nos quase dois meses transcorridos desde a inauguração da Expo, o “Grande O” se tornou o lugar mais procurado pelos visitantes.
Na feira acontece uma variedade de atividades: conferências quase contínuas de sensibilização sobre a importância dos oceanos, e apresentações diárias de música e grupos de dança, com shows que vão do balé a concertos sinfônicos. A própria ONU montou uma exposição permanente, e mostras mutáveis envolvendo 24 das suas agências e organizações internacionais.
Achim Steiner, diretor executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, justamente definia o objetivo global da Expo de Yeosu: “Gerenciar e proteger serviços dos ecossistemas do nosso planeta azul faz parte da transição para uma economia verde global que, em última instância, garanta empregos, erradique a pobreza, para nos ajudar na adaptação à mudança climática e a manter a saúde dos nossos oceanos”.
Segundo conversas informais, a Expo 2012 está conseguindo passar a mensagem de proteger os oceanos e promover o conhecimento do ecossistema marinho. Contudo, também apresenta resultados contraditórios. Milhares de garrafas plásticas e caixas de lanche, montes de folhetos promocionais e lembranças jogadas diariamente nos cestos de lixo, levam alguns a questionar a sabedoria de realizar uma enorme exposição como a de Yeosu.
Quando terminar a exposição, no dia 12 de agosto, dignatários de todo o mundo, incluindo o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, se reunirão para proclamar a Declaração de Yeosu, na qual detalharão planos de ação para salvaguardar os mares para a posteridade. Sabemos que o caminho negligente que seguimos conduz a mais ruína e à destruição de uma de nossas formas de relação mais importantes com o planeta. Preservar os oceanos é tão relevante quanto garantir que haja água limpa para todos, ou preservar as florestas. Envolverde/IPS
* Samuel Koo, ex-jornalista internacional, funcionário da ONU e diplomata cultural, passou sua carreira promovendo atividades humanitárias vinculadas às artes. Atualmente, é comissário-geral das Nações Unidas para a Expo Yeosu 2012.