
Um pescador com mosca no Rio Miramichi, Nova Brunswick, Canadá. O DDT foi usado em áreas florestais da província de 1952 a 1968. Fotografia: Steve Bly/Alamy
21 abr 2025
[NOTA DO WEBSITE: Sem dúvida um dos maiores ícones da IIª Guerra Mundial, apresentado como o grande salvador da humanidade, mostra-se hoje qual terrível ele é: o DDT. Produto da família dos depois conhecidos organoclorados, foi de maravilha ao terror. Foi justamente ele que abriu o mundo para uma nova percepção do que seria a tragédia dos nossos dias: as moléculas artificiais. Hoje em dia, são elas que nos aterrorizam a cada dia ao irem se desvelando, em sua maioria, pelo menos até agora, como disruptores endócrinos. Esse veneno também, fez os primeiros alvoreceres do movimento ecológico global com o destemido livro da iminente cientista norte americana, Rachel Carson, que lhe deu o nome emblemático de ‘Primavera Silenciosa‘. Pois ele ainda está aí entre nós. Será que daqui uns dias também não lhe alcunharemos de também ‘forever chemicals/químicos eternos’, como são os PFAS?].
Perigo potencial para humanos e vida selvagem = agrotóxicos nocivos descobertos em peixes com concentração 10 vezes maior que o limite de segurança.
Resíduos do inseticida DDT persistem em “taxas alarmantes” em trutas, mesmo depois de quase seis décadas, o que pode representar um perigo significativo para humanos e animais selvagens que comem os peixes, segundo uma pesquisa (nt.: o DDT foi proibido no Canadá em 1974 e nos EUA, em 1972. E o livro ‘Primavera Silenciosa’ de Rachel Carson, foi publicado em 1962 quando desvela o que era o DDT. E o ‘descobridor’ de seu efeito inseticida, o suíço Paul Müller, recebeu o Nobel de Fisiologia e/ou Medicina em 1948).
O diclorodifeniltricloroetano, conhecido como DDT, foi usado em terras florestais em New Brunswick, Canadá, de 1952 a 1968. Os pesquisadores descobriram que vestígios dele permaneceram em trutas de riacho em alguns lagos, frequentemente em níveis 10 vezes mais altos do que o limite de segurança recomendado para a vida selvagem (nt.: sendo hoje reconhecido com um disruptor endócrino, a dose, como na toxicologia convencional, já não faz mais efeito no sentido de envenenamento. Sua ação, como mimetizador de hormônios, se faz efetiva em doses infinitesimais como eles).
Josh Kurek, professor associado de mudanças ambientais e biomonitoramento aquático na Universidade Mount Allison, no Canadá, e principal autor da pesquisa, disse que o DDT era um provável agente cancerígeno que não era usado há décadas no Canadá, “mas é abundante em peixes e lama de lagos em grande parte da província, em níveis assustadoramente altos”.
A pesquisa, publicada no periódico Plos One, descobriu que a poluição por DDT cobre cerca de 50% da província de New Brunswick. A truta de riacho é o peixe selvagem mais comum capturado na região, e a pesquisa constatou que o DDT estava presente em seu tecido muscular, em alguns casos 10 vezes acima do recomendado pelas diretrizes canadenses para a vida selvagem.
Os pesquisadores disseram que o DDT, que é classificado pelas autoridades de saúde como um “provável agente cancerígeno”, pode persistir na lama do lago por décadas após o tratamento e que muitos lagos em New Brunswick retêm níveis tão altos de DDT legado que os sedimentos são uma fonte importante de poluição na cadeia alimentar.
“O público, especialmente as populações vulneráveis a contaminantes, como mulheres em idade reprodutiva e crianças, precisa estar ciente do risco de exposição ao DDT legado por meio do consumo de peixes selvagens”, disse Kurek.
Ao longo das décadas de 1950 e 1960, metade das florestas de coníferas da província foram pulverizadas com DDT, um inseticida sintético usado para controlar insetos transmissores de doenças como malária e tifo. O Canadá proibiu o uso da substância na década de 1980.
A convenção de Estocolmo de 2001 sobre poluentes orgânicos persistentes proibiu o DDT em todo o mundo para uso agrícola em massa, embora ele ainda seja permitido em pequenas quantidades para o controle da malária.
“Essa bagunça não tem solução”, disse Kurek. “O DDT pode persistir na lama dos lagos por décadas ou séculos e depois circular na cadeia alimentar. A melhor abordagem é gerenciar a exposição do público ao DDT legado, incentivando todos a seguir as diretrizes de consumo de peixe e a considerar a redução da exposição.”
Nossas descobertas são um claro alerta para abandonarmos nossa dependência excessiva de produtos químicos sintéticos. Lições precisam ser aprendidas para que não repitamos erros do passado. Esperamos que nosso estudo informe sobre outros contaminantes que aplicamos amplamente hoje, como sal de estrada e herbicidas como o glifosato. Precisamos absolutamente fazer as coisas de forma diferente, ou nossos ecossistemas continuarão a enfrentar uma vida inteira de poluição.
O título, o texto e uma citação neste artigo foram alterados em 22 de abril de 2025 para corrigir o período de tempo desde que o DDT foi usado pela última vez no Canadá, em 1968; são 57 anos, em vez de 70 anos, como dizia uma versão anterior.
Tradução livre, parcial, de Luiz Jacques Saldanha, abril de 2025