O Projeto Cana Verde …“mostra que a cultura orgânica pode, sim, ser mais produtiva que a convencional”, explicita André de Carvalho, professor da Fundação Getúlio Vargas.
Leontino Balbo Junior é vice-presidente da Native Produtos Orgânicos, pioneira na produção de açúcar orgânico.
Abaixo temos uma explanação feita por este técnico de um grande exemplo de um canavial sustentável, feito pelas usinas São Francisco e Santo Antonio – e administradas pelo Grupo Balbo, em Sertãozinho, SP. Realizam hoje a maior produção de açúcar orgânico do mundo: 75 mil toneladas por ano, exportadas para 64 países e distribuídas no Brasil com a marca Native. Produzem também 12 milhões de litros de álcool orgânico, usados na produção de cosméticos, tendo a Natura como principal cliente. As duas unidades cultivam 20 mil hectares no total, dos quais 13 mil são de cana orgânica.
Esse resultado começou a ser construído em 1986, com a criação do Projeto Cana Verde, conta Leontino Balbo Júnior, engenheiro agrônomo e diretor-agrícola da Usina São Francisco. Na sua visão, a terra não podia ser apenas um suporte para adubos químicos, quebrado, moldado e misturado como mera argila. Tudo que se fazia em cana era baseado em técnicas que vieram da Europa e de países temperados. “Lá tem a neve, o desgelo e o solo fica gelado. É preciso revolver a terra, inverter a leiva, tornando-se necessário a ação do sol para ativar os micro-organismos para que eles possam atacar a matéria orgânica e mineralizar os nutrientes. Na Europa é preciso aquecer a terra para ativar a vida. Aqui, é um país tropical, ao arar e revirar a terra o solo fica exposto, chega a uma temperatura de 70 graus, com isso, as minhocas desapareceram. Esterilizou-se o solo.”
Assim, independente das questões sociais, agrárias e do tipo de produto agrícola final, a implantação deste projeto mostra que sim, é possível se fazer cultura no campo, ou seja, se fazer agricultura num outro tipo de relação humana com a terra e seus parceiros não humanos.
E a pergunta que não se cala é: por que então o ‘agronegócio’ necessariamente vem sendo social, nutricional e ambientalmente destrutivo e devastador? A resposta parece estar fundada de que a produção agrícola se transformou simplesmente num grande negócio, onde tudo vale, em vez de ser gerador de cultura e integração do ser humano na dinâmica viva da Terra.
Abaixo a explanação do diretor da Usina São Francisco, num encontro patrocinado pela Natura e Itaú, ocorrido no primeiro semestre de 2018 e publicado no Youtube em abril deste mesmo ano.
O website agradece ao professor da USP, José Eli da Veiga, a indicação deste conteúdo.
Não vislumbro um futuro humano plástico,
mas muito plástico no futuro desumano.
E não falo de monturos,
falo de montanhas de plástico impuro.
Falo de futuro suástico, inseguro, iconoclástico.
Plásticos grandes e pequenos, moles e duros,
que se amontoam.
Nanoplástico que se respira,
que se bebe e se come,
se adoece, se morre e se consome.
Presente fantástico de futuro hiperplástico,
plástico para sempre,
para sempre espúrio, infértil e inseguro.
Acuro todos os sentidos
e arrepio em presságios.
Agouros de agora,
tempos adentro,
mundo afora.
Improvável um futuro fúlguro!
Provavelmente escuro e obscuro.
Assim, esconjuro e abjuro!