Agricultura consome 70% da água e emite 15% dos gases de efeito estufa; essa concentração sobe a 75% nos países pobres e emergentes. Dados são do “Estado do Mundo 2011”, lançado no Brasil pela parceria do Instituto Akatu com o Worldwatch Institute (WWI).
Consumo Consciente para um futuro sustentável
- Enquanto o planeta desperdiça um terço dos alimentos que produz, 925 milhões de pessoas (cinco vezes a população brasileira) ainda passam fome no mundo;
- Estima-se que 8 milhões de agricultores da África ainda irriguem suas terras usando baldes de água;
- Agricultura propicia trabalho para 1,3 bilhão de pequenos agricultores e trabalhadores sem terra no planeta;
- Agricultura é a principal fonte de subsistência para aproximadamente 85% dos 3 bilhões de pessoas que integram o contingente rural em países em desenvolvimento;
- Pelo menos 800 milhões de pessoas no mundo dependem da agricultura urbana;
- Só na África, se a agricultura se desenvolver, os agricultores podem fixar nas plantações e retirar da atmosfera 50 bilhões de toneladas de CO2;
- Perda pós-colheita é um problema seriíssimo nos países pobres, algumas culturas alcançam perdas de até 50%, enquanto nos ricos, há perdas que não chegam a 0,7%.
Atualmente, as atividades agrícolas são responsáveis por 70% do uso de água e por 15% das emissões de gases de efeito estufa, sendo que os países em desenvolvimento respondem por 75% desse índice. A destruição de 13 milhões de hectares de floresta ano a ano, quase sempre causada por atividades impróprias, representa 11% do total das emissões. A população global hoje está perto de 7 bilhões, e as previsões apontam que, até 2050, o salto terá sido de 35% a 40%. Esse aumento populacional e o crescimento econômico significarão maior e mais premente demanda por alimentos, ração, fibras e consumo de carne. A agricultura tal como a conhecemos hoje está em apuros. Os desafios e incertezas a serem enfrentados exigem uma mudança de paradigma que deve levar em conta a complexidade de “agri” e “cultura”, a intersecção confusa entre lavoura e sistemas humanos, sociais e políticos. A atividade agrícola sustentável requer muito conhecimento, pesquisa e a combinação de inovações com a experiência dos agricultores.
Estas são algumas da conclusões do relatório “Estado do Mundo 2011 – Inovações que Nutrem o Planeta”, livro que o Instituto Akatu e o WWI Brasil (Worldwatch Institute) lançam em parceria hoje (19/10) na versão em português no teatro da Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo.
No lançamento participam de debate sobre segurança alimentar e inovações para sustentabilidade no campo, o professor Luiz Carlos Beduschi Filho, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da USP e ex-consultor da FAO/ONU, e o economista e engenheiro José de Anchieta Ribeiro Santos, coordenador da Pastoral da Criança no Estado de São Paulo. Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu, e Eduardo Athayde, presidente do WWI no Brasil, fazem a mediação e a apresentação do livro.
O relatório “Estado do Mundo” é produzido há 28 anos consecutivos, em 30 idiomas pela equipe de pesquisadores do WWI, sediado em Washington (EUA). As inovações para manter o homem no meio rural e garantir a sustentabilidade no campo são os temas do relatório de 2011.
A publicação um em cada quatro famintos do planeta vive na África, continente que perdeu valor agregado na agropecuária nos últimos 40 anos, enquanto a média do planeta foi um ganho de 35%.
População, produção e fome no mundo
Indicador Mundo África Subsaariana
População 6,8 bilhões 863 milhões
Total de terra arável 1.380.515.270 hectares 179.197.800 hectares
Alimentos produzidos por
pequenos proprietários 70% 90%
População urbana 3,49 bilhões 324 milhões
Parcela da população urbana 51% 33%
Famintos 925 milhões (14%) 239 milhões (27%)
Crianças abaixo do peso 148 milhões (24%) 39 milhões (28%)
Idade média 29,1 anos 18,6 anos
Valor agregado da produção agrícola,
per capita, entre 1961 e 2006 Aumento de 35% Queda de 12%
Fontes: FAO, ONU, Via Campesina, Eric Holt-Giménez, in “From Food Crisis to Food Sovereignty: The Challenge of Social Movements”, Monthly Review, UN HABITAT, UNICEF, Forum for Agricultural Research in Africa, Framework for African Agricultural Productivity (Accra, Gana: junho de 2006).
O relatório destaca ainda o problema das perdas pós-colheita nos países pobres e em desenvolvimento. Em alguns produtos, a perda chega a 50% do volume da produção. Na média de calorias, o valor perdido supera o que chega à mesa.
Fonte: V.Smil, Feeding the World: A Challenge for the Twenty-First Century (Cambridge, MA: The MIT Press,2001), p. 187.
A expansão da pecuária ainda ameaça – e muito as florestas naturais – além disso os rebanhos são grandes responsáveis pela emissão de gás metano 21 vezes mais potente que o carbono na geração de efeito estufa que provoca o aquecimento global.
Grandes empreendimentos pecuaristas são responsáveis por 65% a 80% do desmatamento da Amazônia. A cada ano, 400 mil a 600 mil hectares da floresta são desmatados para a plantação de lavouras como as de soja, quase sempre para alimentar porcos e aves de criação industrial, mas também para fornecer altas doses de proteína ao gado leiteiro.
O gado contribui com 18% das emissões globais de gases de efeito estufa (25% a 30% do metano e óxido nitroso e 30% a 35% do dióxido de carbono).