Agricultores da capital de São Paulo começam a eliminar agrotóxicos de suas lavouras.

Profissão: agropecuarista. Cidade de domicílio: São Paulo. Sim, na maior cidade do Hemisfério Sul, densamente urbanizada, há 435 agropecuaristas. Entre eles, 35 se livraram de agrotóxicos e fertilizantes químicos e aderiram a uma produção orgânica, de acordo com dados da Prefeitura – no ano passado, oito conquistaram uma certificação especial do Ministério da que garante que sua produção é totalmente orgânica. Matéria de Edison Veiga e Rodrigo Burgarelli, em O Estado de S.Paulo.

 

http://www.ecodebate.com.br/2013/04/24/agricultores-da-capital-de-sao-paulo-comecam-a-eliminar-agrotoxicos-de-suas-lavouras/

 

venenoAgricultor da capital é cada vez mais ecológico – Cidade de São Paulo tem 435 trabalhadores agropecuaristas e pelo menos 35 já eliminaram agrotóxicos de suas lavouras

“Somos os pioneiros, mas esperamos que outros também consigam. É bom para o meio ambiente e é bom para a saúde das pessoas”, comenta Zundi Murakami, de 73 anos. Desde 2008 ele cultiva bananas no Sítio Pinhal, de propriedade da sua família, na região de Parelheiros, extremo sul do município – a região sul concentra 72% dos produtores rurais da capital paulista. Ali, bem longe das paineiras, tipuanas e ipês dos canteiros centrais das movimentadas avenidas do centro expandido, a paisagem é rural.

Atualmente, Murakami produz 1,5 mil quilos por mês – tudo vendido em feiras. “Pena que é preço de banana, senão estaria rico”, brinca. Com a certificação, ele pode explorar o fato de ter uma produção orgânica – qualidade que virou praticamente um fetiche entre paulistanos, dos naturebas aos descolados. Aí, consegue vender a banana por um preço até 30% maior do que a convencional. “Mas a produção é mais complicada. Quase artesanal”, explica Murakami, dizendo que a adubação é toda orgânica (esterco animal, palha e cinzas) e o controle de pragas feito com armadilhas simples e produtos naturais.

Também na zona sul, a Ilha do Bororé, na Represa Billings, concentra grande quantidade de sítios. No Paiquerê, a administradora hospitalar Maria José Kunikawa, de 57 anos, transformou o hobby em negócio. Ela planta itens variados como mandioca, milho, feijão e batata, tudo orgânico – também é uma das certificadas pelo Ministério.

“O segredo é cuidar pé a pé, acompanhar de perto. Agricultura orgânica é isso: demanda cuidado.” Por enquanto, a produção ocupa 2 mil metros quadrados de suas terras. “Mas, se der certo, quero aumentar”, diz. “Já está dando certo”, completa Murakami – que em vez de concorrente, é visto como parceiro, já que os produtores orgânicos paulistanos se conhecem e trocam experiências.

Na hora de divulgar a produção, mais do que apelar para a velha argumentação de que é bom para a natureza ou não faz mal a saúde. “Na verdade, o produto orgânico é mais saboroso”, propagandeia Maria José. “Garanto que a batata produzida aqui tem um gosto diferente, uma textura diferente. Quem experimenta não quer mais comer a convencional.”

Caqui. O agricultor Osvaldo Iwao Ochi, de 66 anos, planta caqui na borda do Parque Estadual da Serra do Mar. Sua plantação foi iniciada por seu pai há mais de meio século, quando a família de origem japonesa chegou a São Paulo vindo de Bastos, no interior do Estado. Foram décadas plantando com agrotóxicos e fertilizantes químicos, até que, por decisão própria, seus 15 hectares de caquizeiros deixaram de receber qualquer produto químico artificial.

“Aqui é área ambiental. A nascente do Rio Embu-Guaçu é aqui do lado do meu sítio. Ele deságua na Represa do Guarapiranga, que é de onde eles tiram água para abastecer quem mora na cidade. Quando isso tudo ficou claro, decidi parar e produzir o orgânico.” A decisão, tomada oito anos atrás, deu certo até financeiramente. “Hoje o orgânico tem uma saída melhor.”

Osvaldo diz que nunca foi intimado por nenhum órgão para adotar esse tipo de produção, mas que a orientação dada pela Prefeitura e pelo Ministério da Agricultura ajudaram na adoção das práticas que hoje ele adota. E ele não troca o estilo de vida atual por nada. “Moro em São Paulo, mas em um lugar que quase nenhum paulistano sabe que existe”, brinca, com satisfação.

Trâmites. Para conseguir a certificação, os produtores rurais orgânicos receberam orientação da Associação Biodinâmica, que é cadastrada no Ministério da Agricultura. Sua forma de produção não pode usar adubos químicos, venenos, sementes transgênicas, hormônios nem antibióticos. Para a manutenção do selo, eles precisam desembolsar uma taxa de cerca de R$ 300 anuais – o valor varia conforme o tamanho e o tipo de produção.

Até as relações trabalhistas são observadas. “Se eu tenho um ajudante aqui na minha plantação, preciso registrar direitinho. Senão perco o selo”, comenta Murakami.

Mas não são só os orgânicos que enfrentam burocracias. Conhecido por fornecer lenha para lareira e cultivar pinheirinhos de Natal em sua fazenda Castanheiras, Edwin William Hering, de 78 anos, desde 2005 vem cultivando palmito. “Há dois anos entramos com um pedido de licenciamento para o manejo”, explica ele, que pretende vender o produto, fresco, diretamente da Ilha do Bororé a restaurantes badalados de São Paulo.

“Meu objetivo é explorar 100 palmiteiros por mês, mas com uma preocupação sustentável. E não vamos vender nada em conserva, porque o produto fresco é o que tem o melhor sabor”, diz Hering.

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