O consumo de transgênicos começou aproximadamente em 1994 com o tomate transgênico (conhecido como tomate longa vida). Felizmente ainda não há registros de danos à saúde das populações devidos ao consumo do tomate longa vida (nota do site: o que discordamos do autor já que temos material que mostra o contrário, como exemplos-http://nossofuturoroubado.com.br/pesquisa-nos-eua-tambem-encontra-glifosato-no-ar-e-na-agua-da-chuva/ e http://nossofuturoroubado.com.br/novos-estudos-angustiantes-revelam-os-efeitos-insidiosos-do-glifosatoroudup/).
http://www.ecodebate.com.br/2014/09/25/a-soja-transgenica-artigo-de-roberto-naime/
No entanto, o caso mais evidenciado e discutido é o da soja transgênica, pelo volume, quantidade e importância econômica. O que é a soja transgênica? Quando temos uma planta convencional e aplicamos um herbicida não seletivo, como o Glifosato, este produto bloqueia a atividade de uma enzima (chamada EPSPS), cuja função é a síntese dos aminoácidos aromáticos que são essenciais ao metabolismo da planta. Todas as plantas, bactérias e fungos sintetizam estes aminoácidos.
Mamíferos, aves e peixes não realizam esta síntese e obtém os aminoácidos das plantas e microorganismos. Algumas bactérias do solo, do gênero Tumefasciens produziam esta enzima e não sofriam bloqueio por ação do Glifosato. Foi identificado o gene responsável pela síntese desta enzima na bactéria, e então este gene foi clonado e introduzido na soja.
Desta forma a leguminosa passou a resistir também ao glifosato. Foi utilizada uma variedade de soja americana muito produtiva (A 5403), sendo selecionada uma linhagem tolerante ao glifosato (GTS 4032).
A enzima EPSPS existente na soja é destruída pela ação do glifosato, mas aquela enzima que é sintetizada pelo gene proveniente da bactéria, não é afetada.
Todas as variedades resistentes ao Glifosato existentes no mundo são derivadas da linhagem tolerante modificada geneticamente (GTS 4032). Quando se deseja introduzir resistência ao glifosato em qualquer linhagem, é feito um cruzamento através de melhoramento convencional. Como o gene da resistência ao glifosato é dominante, ele já se expressa na primeira geração (CIRINO V., Engenharia Genética não vai criar monstros. Revista do Plantio Direto, Passo Fundo, maio/junho de 1999, p 21-23).
Os estudos indicam que não existe variação de produtividade relevante entre os 2 tipos de soja. Em alguns casos o tipo transgênico produz menos. Isto se explica porque muitas vezes no processo de retrocruzamento, não se consegue quebrar ligações gênicas e recuperar todas as características das variedades adaptadas às nossas condições de meio físico (solo e climas).
A vantagem do uso da variedade transgênica está na menor aplicação dos herbicidas, com ganhos muito variáveis segundo cada caso. Mas o principal ganho seria ambiental, pois menos aplicações de herbicidas significam menor impacto ambiental sobre todos os meios: físico, biológico e antrópico.
Não existem provas que os alimentos transgênicos sejam prejudiciais à saúde das populações, assim como não existem provas de que não sejam danosos a longo prazo (nota do site: com o reconhecimento de que nosso corpo é um ecossistema de vidas, nossa microbioma, incluindo a vida intestinal, esta molécula que atinge somente vegetais do glifosato nos atingiria da mesma forma, de outra forma!).
O que deveria ter sido feito? Estudos de impacto ambiental em plantações, que tivessem durado um período de tempo suficientemente longo, para que a comparação entre um uso de soja convencional comparado ao uso de soja geneticamente modificada, pudesse apresentar dados definitivos.
E um estudo de longo prazo em populações humanas, uma parte consumindo soja convencional e outra parte consumindo soja transgênica, controlando quadros clínicos, doenças, peso, e evolução, durante um tempo que fosse capaz de atestar as diferenças encontradas ou não encontradas. Os estudos biológicos garantem não haver transferências de genes através do consumo das variedades que sofreram transgenia.
Mas estudos de longo prazo com populações não se conhecem na maioria dos países. Só os Estados Unidos, Argentina e Paraguai respondem juntos com o Brasil por mais de 90% do total de soja produzida.
No entanto, ao que se saiba, estudos desta natureza não foram produzidos nestes países ou em qualquer outro lugar do mundo, porque a magnitude dos interesses econômicos induziu a introdução das práticas comerciais antes dos estudos de biossegurança, situação muito comum não apenas na soja ou na agricultura transgênica.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.