A FDA bane o BPA das mamadeiras e copinhos infantis.

De agora em diante, os fabricantes dos EUA não podem mais produzir mamadeiras e copos com biqueira (para criança que engatinha) de policarbonato se o plástico transparente tiver sido feito com bisfenol A, um composto mimetizador hormonal. Há longo tempo esperado, o anúncio mesmo não sendo grande coisa, representa um gesto ousado. A administração Obama decide trancar a porta do estábulo, depois que a vaca já morreu.

 

http://www.sciencenews.org/view/generic/id/342352/title/FDA_bans_BPA_in_baby_bottles,_cups

 

bisfenolBisfenol. Infográfico Correio Braziliense

 

No Diário Oficial de 17 de julho pp, a Administração de Alimentos e Fármacos dos EUA (nt.: U.S. Food and Drug Administration) anunciou, com efeitos imediatos, de que não será mais permitido produtos feitos com policarbonato que tenha por base o BPA, destinados especificamente para alimentar crianças. Sua justificativa: a produção destes bens para o mercado dos EUA “deve ser completa e permanentemente abandonada”.

De fato, o American Chemistry Council/ACC, o grupo representativo dos interesses comerciais (dentre outros) dos fabricantes de plásticos, peticionou esta ação governamental. Supostamente, as companhias membro que vem voluntariamente eliminando esta formulação controversa não querem ter o risco de que qualquer produto estrangeiro possa ser oferecido e invadir os seus territórios. No entanto, não importa qual a motivação da ACC, reconhece Sarah Janssen, uma cientista sênior de saúde pública junto ao National Resources Defense Council, um grupo de defesa ambiental, baseado em São Francisco, de que a ação da FDA quanto aos produtos feitos com BPA, é um passo na direção correta.

Embora uma ação muito restrita.

Miríades de jovens ainda bebem em garrafinhas ou copos de policarbonato. Pais cortam ou misturam no preparo de numerosas comidas, em processadores de alimentos que invariavelmente têm sua tigela feita de policarbonato. Muitas mães distribuem bebidas em jarros de policarbonato e levam talheres descartáveis para picnics e outros eventos feitos com esta resina. Assim as crianças ainda enfrentam sólidas chances de serem contaminadas com o BPA (que pode lixiviar da resina plástica).

Utensílios culinários plásticos, no entanto, não são a única fonte alimentícia de exposição ao BPA. Resinas feitas com BPA — e prontas para lixiviar este hormônio ambiental — estão presentes em grande parte da linha de produtos enlatados. A FDA não se moveu para proibir o seu uso. E foi por isso que o deputado Edward Markey (democrata de Massaschussets) em 16 de março último, apresentou três requerimentos à agência. Eles a questionavam sobre a eliminação do uso de materiais feitos com BPA em mamadeiras e embalagens de alimentos formulados para bebês, em alimentos e bebidas envasados em latas e em embalagens pequenas de reuso para alimentos e bebidas (como garrafas de desportistas, frascos e vasilhames para armazenar sobras de comida).

A FDA rejeitou as petições, argumentando que, caso os fabricantes não tivessem abandonado estes usos, ela não poderia proibi-los unilateralmente (pelo menos prontamente). Assim Markey mudou sua estratégia para outra frente onde as resinas com BPA estavam sendo eliminadas: a embalagem para alimentos infantis formulados. Uma proposta questionando a FDA para banir materiais com base de BPA nesta antiga aplicação também apareceu no Diário Oficial de 17 de julho pp. 

Mas mesmo se a FDA for se mover sobre o BPA para este e outros produtos, há ainda uma série de químicos semelhantes que permanecem envenenando esta fração de produtos porque são neles colocados como substitutos ao BPA. O maior vilão dentre eles: Bisfenol S — uma molécula funcional análoga ao Bisfenol A, usada em alguns produtos, sendo o mais conhecido em papel de notas e recibos termo impressos.

Como se relatou aqui, algumas semanas atrás, cientistas da Comissão Europeia liberam dados preliminares indicando que o BPS possui um alter ego hormonal exatamente como há preocupa com o BPA. E ressalta este estudo governamental: sua preocupação se o BPS poderá ser mais seguro do que o BPA para ser usado em mamadeiras. Ou seja, objetivamente se as companhias não estão começando a vender mamadeiras “BPA-free” feitas como BPS, torna-se a nova discussão.

“Exato agora, o BPS está sendo o mais utilizado nestes papéis que antes precisavam do BPA (como as notas e recibos termo impressos)”, observa Alex Formuzis do Environmental Working Group/EWG, uma organização não governamental de Washington que tomou atitudes veementes contra as exposições de crianças ao BPA. “Mas os fabricantes de alimentos formulados para crianças e a indústria de bebidas podem fazer a mudança [para o BPS] amanhã”, diz ele. Agir contra o BPA não acontece nada se não for proibido outros não testados ou largamente não estudados e que podem ser a alternativa para serem seus substitutos.

Finalmente, deixar resinas feitas com BPA e plásticos no mercado, sempre se  permitirá a exposição de adultos. Com a idade pode haver uma redução à suscetibilidade aos danos deste mimetizador hormonal, mas não os elimina completamente, mostram estudos com animais. Além disso, quaisquer exposições que atinjam mulheres grávidas podem permitir que o feto em desenvolvimento compartilhe desta sua contaminação. De fato, dados de estudos com animais sugerem que exposições no útero podem gerar os maiores riscos e de mais longa duração, oriundos da exposição a estes produtos.

Eu subscrevo o princípio da precaução (nt.: http://pt.wikipedia.org/wiki/Princípio_da_precaução) da mesma forma como faço seguro, levo meu carro à revisão periódica e faço mamografia anualmente. Talvez tenha chegado o tempo de aplicarmos o princípio da precaução também para os poluentes mimetizadores hormonais. Parece-me totalmente imprudente consentir seu uso continuado em produtos especificamente projetados para contato direto com quaisquer alimentos e bebidas.

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, outubro de 2012.