A entrega de territórios indígenas, pelo estado do Rio Grande do Sul, à iniciativa privada.

Print Friendly, PDF & Email
Tekoá

https://www.ihu.unisinos.br/620877-a-entrega-de-territorios-indigenas-pelo-estado-do-rio-grande-do-sul-a-iniciativa-privada-e-como-se-vendessem-os-indigenas-junto

Cimi Regional Sul

01-08-2022.

As áreas ocupadas pelos indígenas, agora pertencem a empresa vinculada à exploração madeireira e de minério; a entidade questiona como ficará a relação dos indígenas e os empresários.

Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Regional Sul, manifesta profunda preocupação com a definitiva privatização da Companhia Estadual de Elétrica do Rio Grande do Sul (CEEE) e as consequências desta mediada aos povos Kaingang e Guarani.

O leilão consuma a entrega definitiva do patrimônio público, pois já havia sido vendida duas partes dela: a distribuição de energia para uma empresa Chinesa e o seu controle para a CPFL Energia. Mas agora, no dia 29 de julho, consumaram a entrega do patrimônio – as barragens, hidroelétricas e as terras – para a iniciativa privada, dessa vez a uma empresa vinculada à CSN, a Companhia Florestal do .

Todos os bens que eram do estado do Rio Grande do Sul (RS), gerenciados pela CEEE, foram vendidos, incluindo neles as terras ocupadas por comunidades indígenas Kaingang e Mbya Guarani. As áreas em questão são a Fazenda Carola (Charqueadas); Margens da Barragem Dona Francisca (Estrela Velha); Horto Florestal da Barragem Maia Filho (Salto do Jacuí); Aeroporto (Salto do Jacuí), Mato Castelhano (Mato Castelhano) e a Barragem Bugres, em Canela.

Regiões do Rio Grande do Sul vendidas, incluindo comunidades indígenas. (Foto: Maps | Bing)

Com a privatização de todo este patrimônio do estado é como se o governador – e sua turma de governança – vendessem os indígenas junto. Ou seja, o estado fica, aparentemente, desobrigado em discutir a posse, ocupação e a cessão de uso das áreas destinadas às comunidades indígenas. É fundamental destacar que tudo isso foi realizado sem consulta livre, prévia e informada dos indígenas que possuem o direito de posse das áreas há décadas, desrespeitando, com isso, a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

O Ministério Público Federal (), preocupado com essa realidade, ingressou com uma Ação Civil Pública, com pedido de urgência, solicitando a suspensão do leilão. A  Federal de primeira instância, por meio da Drª Ana Inês Algorta Latorre, da 9ª Vara Federal do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) concedeu a liminar suspendendo o leilão, mas a Procuradoria Geral do Estado (PGE) entrou com Agravo de Instrumento contra a decisão e o TRF4 cassou a liminar e manteve o leilão com o argumento de que haveria prejuízos econômicos ao estado e que não percebia que os indígenas seriam prejudicados.

Fato concreto: as áreas ocupadas pelos indígenas agora pertencem a Companhia Florestal do Brasil, empresa da CNS, que é vinculada à exploração madeireira e de minério e, não é por acaso, há interesse minerário em jogo, especialmente de carvão, fósforo, entre outros.

Como se dará, a partir de agora, a relação dos indígenas e os empresários? Não sabemos, mas as experiências em casos similaresBrasil a fora, são muito negativos, chegando a ser violento e desolador.

Fato concreto é que as comunidades indígenas possuem direitos adquiridos de posse e usufruto de muitas áreas que eram do estado do RS, e caberá, sem dúvida, discussões jurídicas importantes para assegurar a manutenção das comunidades na posse dessas áreas.

Ou seja, as lutas pela terra, pela vida e pelos modos de ser e viver dos povos se manterá e nós estaremos com eles, ao lado, assessorando e auxiliando em tudo que estiver ao nosso alcance. Contaremos também com o MPF, aquele que deve zelar, proteger e agir em defesa dos direitos e interesses indígenas, obrigação expressa no artigo 129, V, da Constituição Federal de 1988.

Seguiremos na lutaresistência e esperança.

ChapecóSC, 31 de julho de 2022 

Conselho Indigenista Missionário (Cimi) – Regional Sul

Gosta do nosso conteúdo?
Receba atualizações do site.
Também detestamos SPAM. Nunca compartilharemos ou venderemos seu email. É nosso acordo.