A derrota dos céticos do aquecimento global.

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Os pesquisadores de Harvard reconstruíram os eventos que levaram ao fim da era glacial e demonstraram a relação de causa e efeito entre o aumento de dióxido de carbono e o da temperatura. Foi a presença de CO2 que provocou o derretimento do gelo.

 

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/508435-a-derrota-dos-ceticos-do-aquecimento-global

 

A reportagem é de Elena Dusi, publicada no jornal La Repubblica, 12-04-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A misteriosa cadeia de eventos que levou ao fim da era do gelo foi finalmente reconstruída. Poderia parecer uma análise confinada ao passado remoto. Ao refazer as suas etapas, os climatologistas se encontraram novamente, ao contrário, diante de um espelho que reflete com uma fidelidade inesperada o presente do nosso planeta cada vez mais quente.

O que desfez parte das geleiras que cobriam a Terra entre 20 e 10 mil anos atrás – explicam os pesquisadores de Harvard – foi um aumento de dióxido de carbono na atmosfera. Em 7 mil anos, os gases de efeito estufa passaram de uma concentração de 180 para 260 moléculas por milhão. E uma calota ártica que cobria metade dos diminuiu para as dimensões que conhecemos hoje. Se considerarmos que no último século a concentração de CO2 passou de cerca de 300 para 392 partes por milhão compreende-se por que o alerta dos pesquisadores liderados por Jeremy Shakun, que publicaram na revista Nature as suas análises.

O estudo derruba um dos argumentos usados pelos céticos do . Até ontem, considerava-se que, no fim da era glacial, a temperatura do planeta tivesse subido, seguida só em um segundo momento pelo aumento de dióxido de carbono. A sequência dos eventos excluía que esse gás de efeito estufa era o responsável pelo aquecimento. Assim como no fim da era do gelo, também para hoje os céticos pediam a absolvição do CO2 da acusação de aquecer o planeta. E foi sobre o vínculo dado por óbvio entre os gases do efeito estufa e as que haviam se concentrado as críticas ao filme de Al Gore Uma Verdade Inconveniente.

O argumento foi completamente invertido por Shakun e por seus colegas, que, com um trabalho de investigadores, reunir um número sem precedentes de indícios sobre o do passado. O passo à frente da sua análise está em ter coletado não apenas amostras de gelo das profundezas da calota antártica, mas também de ter estendido as suas carotagens para áreas diferentes do planeta, do fundo do mar até a terra firme, tanto no hemisfério Norte quanto no Sul. O que é verdadeiro para a Antártida (o aquecimento precedeu o aumento do CO2) não é de todo se considerarmos o planeta em seu conjunto, onde os gases de efeito estufa precedem – e portanto, com toda a probabilidade, determinam – o aumento das temperaturas.

O complicado mecanismo foi acionado há cerca de 17 mil anos com um leve deslocamento da Terra da sua órbita (fenômeno conhecido pelos astrônomos). O hemisfério Norte se encontrava mais exposto aos raios solares. A calota ártica começou a derreter e fez aumentar os níveis dos mares em 10 metros. As enormes massas de água fria geraram um colapso na circulação oceânica, com o efeito global de confinar o calor dos mares ao polo Sul. O aumento da temperatura na Antártida fez restringir a superfície das geleiras, liberando na atmosfera as enormes quantidades de CO2 que haviam permanecido no fundo do mar.

A conclusão de Shakun parece querer romper de uma vez por todas o debate: “O deslocamento da órbita desencadeou o mecanismo, mas o nosso estudo demonstra que o CO2 desempenhou o papel decisivo. Entre o seu aumento na atmosfera e o aumento das temperaturas, há uma correlação muito clara”.

 

O físico arrependido: ”O fenômeno existe, mas resta entender o papel do ser humano”

 

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/508436-o-fisico-arrependido-o-fenomeno-existe-mas-resta-entender-o-papel-do-ser-humano

 

Ele era contado entre os céticos. Depois, no dia 21 de outubro de 2011, Richard Muller, professor de física da Universidade de Berkeley e autor com o seu grupo Best de uma análise independente sobre o aquecimento do planeta, surpreendeu a todos com um artigo no Wall Street Journal: “Eis o argumento contra os céticos do aquecimento climático”.

A reportagem é do jornal La Repubblica, 12-04-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

Esse estudo o convenceu ainda mais?

Os resultados são surpreendentes e invertem as cartas sobre a mesa. Mas eu não colocaria a mão sobre o fogo com relação à correção das conclusões dessa pesquisa. Medir a temperatura do planeta há milhares de anos não é uma tarefa banal. Trata-se de extrapolar dados, partindo dos restos de antigos organismos marinhos. Não é esse o ponto. A meu ver, a pergunta a ser feita é outra.

Qual?

Eu não teria dúvida do fato de que o dióxido de carbono provoca o aquecimento. E, em comparação com um ano atrás, hoje estou ainda mais convencido da mudança que está ocorrendo no clima do nosso planeta. A dúvida que ainda me resta é: quanto do aquecimento foi provocado pelo ser humano? Somente responder a essa pergunta poderá nos ajudar a orientar as nossas políticas futuras.

Uma sondagem do Eurobarômetro demonstra que 50% dos europeus consideram o clima o problema mais grave em nível global. Os norte-americanos que acreditam no aquecimento causado pelo ser humano passaram de 55% a 62% segundo uma pesquisa da Universidade de Michigan. O ceticismo já está em retirada?

Quando não são ditadas pela ignorância ou pelo desprezo pela ciência, as teses dos céticos deveriam ser ouvidas. O que eu noto, ao contrário, é uma falta de interesse. No seu último discurso sobre o estado da União, o presidente Obama nem sequer mencionou o problema.

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