A Ciência dos Disruptores Endócrinos

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Linda S. Birnbaum

Linda S. Birnbaum, autora deste trabalho, é toxicologista e ex diretora do National Institute of Environmental Health Sciences e do National Toxicology Program dos .

 

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3620755/

 

. 2013 Apr; 121(4): a107.
Published online 2013 Apr 1. doi:  10.1289/ehp.1306695
PMCID: PMC3620755
PMID: 23548815
Correspondence

O Estado da Ciência dos Disruptores Endócrinos

Em fevereiro de 2013, o United Nations Environment Programme/UNEP (nt.: Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e a World Health Organization/WHO (nt.: Organização Mundial da Saúde da ) liberaram o documento The State of the Science of Endocrine Disrupting Chemicals-2012  (WHO/UNEP 2013), uma atualização extensiva de um anterior, Global Assessment of the State-of-the-Science of Endocrine Disruptors () (nt.: Avaliação Global sobre o Estado-da-Ciência dos – Programa Internacional sobre Segurança Química 2002). Após uma década ocorreram avanços significativos sobre nosso entendimento quanto aos químicos disruptores endócrinos (nt.: endocrine disrupting chemicals/EDCs): seus números, mecanismos de ação, efeitos biológicos e impactos tanto sobre a saúde humana como da vida selvagem.

Primeiro, como descrito no novo relatório (WHO/UNEP 2013), a convergência dos dados sobre a vida selvagem, animais de laboratório e epidemiológicos, sugere um papel maior dos disruptores endócrinos nas doenças, bem mais amplo do que foi previsto há exatamente dez anos atrás. Tomando a evidência sobre a vida animal e humana juntas, o relatório demonstra uma grande possibilidade de que a exposição aos disruptores endócrinos durante a vida fetal e/ou na puberdade, desempenhe um papel na proliferação dos problemas reprodutivos tanto masculinos como femininos, além de cânceres relativos ao sistema endócrino, infecções, asma, , diabetes e distúrbios comportamentais e desordens de aprendizado, incluindo transtornos de déficit de atenção e hiperatividade/TDAH (nt.: attention deficit/hyperactivity disorder/ADHD).

A incidência destas condições aumentaram significativamente não só nos EUA, mas ao redor do globo. Em razão dos genes não mudarem tão rapidamente, as causas ambientais devem ser consideradas. A contribuição ambiental para a doença é estimada ser de 24 a 33% da carga global das enfermidades (). Embora seja desafiador abordar o papel do meio ambiente na doença, há também uma tremenda oportunidade de melhorar a saúde humana pela identificação de elementos ambientais que afetam a . O reconhecimento destes desafios e oportunidades, juntamente com o fato de que muitas doenças estão associadas ao sistema endócrino (por exemplo, infertilidade, diabetes, de mama e câncer de próstata) levou ao enfoque dos disruptores endócrinos (nt.: Endocrine Disrupting Chemicals/EDCs).

Segundo, agora é aceito que o desenvolvimento (no útero e nos primeiros anos de vida) é um momento muito sensível para efeitos de saúde induzidos pelos disruptores endócrinos (). Nos últimos 10 anos, o foco da pesquisa nos diruptores endócrinos mudou da investigação da exposição de adultos e dos resultados de doenças para se examinar a exposição tanto no desenvolvimento como nos resultados de doenças em fases posteriores da vida. Esta última abordagem é agora considerada a mais apropriada para a maioria das doenças/disfunções relacionadas ao sistema endócrino (U.S. Environmental Protection Agency/EPA-2012).

Terceiro, identificar estes produtos químicos com atividade endócrina de todos aqueles químicos utilizados e liberados em todo o mundo é um grande desafio e provavelmente estamos avaliando apenas a “ponta do iceberg”. Centenas de produtos químicos, bem como os poluentes orgânicos persistentes, foram identificados como disruptores endócrinos. Eles não são uniformes: têm propriedades, origens e destinos muito diferentes quando no ambiente. Embora seja possível rastrear produtos químicos de alto volume de produção, vários e produtos químicos usados no processo de fabricação, não são rastreáveis. Somando-se a essa complexidade, estão os subprodutos não intencionais e possivelmente desconhecidos da fabricação de produtos químicos, incluindo químicos resultantes da combustão bem como daqueles tóxicos resultantes da transformação de substâncias químicas após sua liberação no meio ambiente além dos metabólitos criados internamente, o que pode aumentar a produção no número de exposições potenciais e dos disruptores endócrinos em nosso ambiente

Os disruptores endócrinos provavelmente afetam todos os sistemas hormonais que controlam o desenvolvimento e a função dos órgãos reprodutivos, a regulação do metabolismo e da saciedade. Pesquisas recentes mostraram que eles também afetam sistemas fisiológicos que controlam o desenvolvimento de gordura, ganho de peso e os níveis de glicose ().

E, por fim, conforme observado no novo relatório da OMS/PNUMA (WHO/UNEP 2013), os disruptores endócrinos são um problema global e exigirão soluções globais. Eles vêm contaminando o mundo através do fluxo natural tanto do ar como da água. Várias centenas deles já foram medidos em humanos e animais selvagens, mesmo em lugares tão remotos como o Ártico. Assim, agora é impossível examinar qualquer população que não haja sido exposta em qualquer lugar da Terra. Para melhorar a saúde, os cientistas da área de saúde ambiental e os toxicologistas, precisam trabalhar mais de perto com colegas da endocrinologia, genética, biologia do desenvolvimento, epigenética e medicina clínica para levarem a pesquisa em disruptores endócrinos dentro do fluxo principal do estudo e da pesquisa da própria ciência.

Estes e outros importantes tópicos relacionados aos disruptores endócrinos e seus efeitos, estão detalhados no The State of the Science of Endocrine Disrupting Chemicals – 2012 (WHO/UNEP 2013). Louvo tanto a OMS/PNUMA como os cientistas que trabalharam por mais de dois anos para produzirem este relatório. É uma fonte importante de dados sobre estas moléculas e deve ser leitura obrigatória para todos que estão interessados em proteger e melhorar a saúde humana.

Notas de rodapé


A autora declara não ter conflito de interesses financeiros, reais ou potenciais.

Referências


 

Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, julho de 2018.

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