Eliane Brum está no Tabuleiro do Embaubal, na Floresta Amazônica, onde as tartarugas vêm fazer seus ninhos. Image by João Luiz Guimarães. Brazil, 2019.
https://pulitzercenter.org/blog/eliane-brum-why-amazon-center-world
ELIANE BRUM
Guest contributor
Eliane Brum is a Brazilian writer, journalist, and documentary filmmaker. She has received more than 40 awards and honors at home and abroad, published five nonfiction books and one novel, and…
July 26, 2019
“For us to be capable of resisting, we must become the forest—and resist like the forest,” said Eliane Brum, Brazilian newpaper columnist, reporter, and filmmaker based in the Amazon city of Altamira. She is also a member of the Amazon Advisory Committee of the Rainforest Journalism Fund (RJF), which supports reporting on the Amazon and other tropical rainforests in partnership with the Pulitzer Center. Brum spoke at the first Rainforest Journalism Fund Conference on July 12, 2019,in Manaus, Brazil, during a dinner for journalists and scientists attending the Sciencetelling™ Bootcamp & Explorer Spotlight, co-sponsored by the National Geographic Society. Eighty journalists and 40 scientists from throughout the Amazon basin gathered at the conference.
Read the full text of her speech, in English and in Portuguese, below. The English version is translated from Portuguese by Diane Grosklaus Whitty.
A Amazônia é o centro do mundo (Portuguese)
Eu quero começar lembrando onde nós estamos.
E quero lembrar que nós estamos no centro do mundo. Essa não é uma frase retórica. Também não é uma tentativa de construir uma frase de efeito. No momento em que o planeta vive o colapso climático, a floresta amazônica é efetivamente o centro do mundo. Ou, pelo menos, é um dos principais centros do mundo. Se não compreendermos isso, não há como enfrentar o desafio do clima.
Esta é justamente a razão de colocarmos o nosso corpo aqui, nessa cidade, Manaus, capital do Amazonas, estado do Brasil, país que abriga cerca de 60% da Amazônia. Manaus é tanto uma floresta em ruínas como as ruínas de uma ideia de país. Manaus pode ser vista como a escultura viva de um conflito iniciado em 1500, com a invasão europeia que causou a morte de centenas de milhares de homens e mulheres indígenas e a extinção de dezenas de povos. Neste momento, em 2019, testemunhamos o início de um novo e desastroso capítulo.
O Brasil é um grande construtor de ruínas. O Brasil constrói ruínas em dimensões continentais desde que começou a ser inventado pelos europeus no século 16. Neste momento, uma forma de vida predatória chamada bolsonarismo assumiu o poder quase total e totalitário no Brasil. O principal projeto do bolsonarismo é justamente construir ruínas com método e com velocidade na floresta amazônica. É por isso que pela primeira vez, desde a redemocratização do país, temos um ministro contra o meio ambiente.
Nenhum ministro do meio ambiente dos últimos mais de 30 anos teve a autonomia que já demonstrou ter Ricardo Salles, o ministro contra o meio ambiente. Ele é o office-boy do agronegócio predatório, este que é responsável pela maioria das mortes no campo e na floresta e é também a maior força de destruição do Brasil. Não é que hoje os ruralistas estão no governo. No governo eles estiveram desde sempre, formalmente ou não. Hoje eles são o governo.
O principal projeto de poder do bolsonarismo é converter as terras públicas que servem a todos, na medida em que garantem a preservação dos biomas naturais e a vida dos povos originários, em terras privadas para lucros de poucos. Estas terras, a maioria delas na floresta amazônica, são as terras públicas de usufruto dos povos indígenas, as terras públicas ocupadas pelos ribeirinhos (população que vive da pesca, da coleta do látex, da castanha e de outros frutos da floresta há mais de um século), e as terras de uso coletivo dos quilombolas (descendentes de escravos rebeldes que conquistaram seu direito aos territórios ocupados pelos antepassados).
As disputas entre os vários grupos que ocupam o governo é constante, inclusive porque o governo Bolsonaro tem como estratégia simular sua própria oposição, ocupando todos os espaços. A abertura das terras protegidas dos povos indígenas e a abertura das áreas de conservação, entretanto, despontam como consenso. Sobre transformar a maior floresta tropical do planeta em boi, soja e mineração não há briga. Algumas das vozes levemente dissonantes já foram deletadas do governo.
O bolsonarismo vai muito além da criatura que lhe dá nome. Eventualmente, em algum momento, o bolsonarismo pode inclusive prescindir de Jair Bolsonaro. O bolsonarismo, intimamente conectado à crise global das democracias, está influenciando toda a região amazônica, fazendo com que figuras que se mantiveram nos esgotos por anos, às vezes décadas, estejam hoje emergindo em outros países da América Latina onde também o destino da maior floresta tropical do mundo está sendo decidido. O bolsonarismo, vale repetir, não é uma ameaça apenas para o Brasil, mas para o planeta. Exatamente porque ele destrói a floresta estratégica para o controle do aquecimento global.
Como resistir a essa enorme força de destruição, a essa competente força de destruição?
Para sermos capazes de resistir nós precisamos nos tornar floresta—e resistir como floresta. Como floresta que sabe que carrega consigo as ruínas, que carrega consigo tanto o que é quanto o que deixou de ser. Me parece que é a esse sentimento político-afetivo que precisamos dar forma para dar sentido à nossa ação. Para isso temos que deslocar algumas placas tectônicas de nosso próprio pensamento. Temos que descolonizar a nós mesmos.
O fato de a Amazônia ainda ser vista como um longe e também—ou principalmente—como uma periferia dá a dimensão da estupidez da cultura ocidental branca, de matriz primeiro europeia e depois norte-americana, essa estupidez que molda e dá forma às elites políticas e econômicas do mundo e também do Brasil. E, em parte, também às elites intelectuais do Brasil e do planeta. Acreditar que a Amazônia é longe e que a Amazônia é periferia, quando qualquer possibilidade de controle do aquecimento global só é possível com a floresta viva, é uma ignorância de proporções continentais. A floresta é o perto mais perto que todos nós aqui temos. E o fato de muitos de nós nos sentirmos longe quando aqui estamos só mostra o quanto o nosso olhar está contaminado, formatado e distorcido. Colonizado.
Dias atrás eu conversava com procuradores e defensores públicos que chegaram há pouco em cidades do interior amazônico. Era o primeiro posto deles. Porque essa é a lógica. A Amazônia é o epicentro dos conflitos, mas, para fiscalizar o Estado e defender os direitos dos mais desamparados, as instituições mandam os sem nenhuma experiência. Alguns deles—não todos—interpretam que estão sendo enviados a uma região amazônica como um teste ou mesmo um castigo, um calvário que precisam passar antes de ter um posto “decente”. Parte deles—não todos—não vê a hora de ter o que é chamado de “remoção” e deixar essa “bad trip” para trás. E não é culpa deles, ou não é só culpa deles, porque essa é a lógica das instituições, este é o olhar para a Amazônia. Felizmente alguns deles percebem a importância do seu papel, aprendem, compreendem, permanecem e se tornam servidores públicos essenciais para a luta pelos direitos em regiões onde os direitos pouco ou nada valem.
Lembrei a eles que, como eu, eram privilegiados. Eles estavam justamente no centro do mundo. Eles estavam no melhor lugar para se estar para quem tinha escolhido aquela profissão. Mas teriam que se esforçar muito para superar a sua ignorância, como eu me esforço todos os dias para superar a minha. Era a população local, eram os povos da floresta que teriam de ter enorme paciência para explicar a eles o que precisam saber, já que pouco ou nada sabem quando aqui chegam. O mesmo princípio vale para jornalistas e também para cientistas.
Se nós nos reunirmos aqui acreditando que somos especiais por estarmos preocupados com a floresta, não teremos compreendido nada. Se nós compreendermos a nós mesmos – nós jornalistas, nós cientistas, nós brancos para muito além da cor da pele—, como aqueles que deixam o conforto de suas casas em cidades “desenvolvidas” e supostamente com mais opções de lazer e cultura para se solidarizarem com os povos da floresta, também não teremos entendido nada. Se existe uma verdade ela está nas ruínas. A única verdade são as ruínas.
Durante mais de duas décadas, eu me desloquei para as diferentes regiões da Amazônia e depois voltei para Porto Alegre, primeiro, depois para São Paulo, onde vivia. Em 2017, me mudei para Altamira, para deixar de ser “enviada especial” à Amazônia, mudar o ponto de vista a partir do qual eu olhava para o Brasil e para o planeta e ser coerente com a convicção de que a floresta é o centro do mundo.
Na chegada, tive dificuldades para alugar uma casa. Algumas das que eu gostava pertenciam a grileiros e/ou mandantes de crimes contra povos da floresta e pequenos agricultores. Porque aqui, no centro do mundo, a relação é direta. Não é que os proprietários de casas, apartamentos, hotéis e condomínios de São Paulo sejam mais “limpinhos”, é que a cadeia entre o crime e a ponta é mais longa e tem mais intermediários.
Nas grandes cidades do Brasil e do mundo, somos afastados das mortes das quais nossos pequenos atos cotidianos se fazem cúmplices, temos o privilégio de não sermos obrigados a questionar a origem da roupa que vestimos ou a origem da comida que comemos. Aqui, na Amazônia, se você come boi, tem certeza que é boi de desmatamento. Se você compra madeira, sabe que (quase) não existe madeira efetivamente legal no Brasil. Se você compra uma mesa ou um guarda-roupa vai ficar olhando para esses móveis e pensando que muito provavelmente eles foram feitos com madeira arrancada de terra indígena ou de uma reserva extrativista. Aqui, no centro do mundo, a relação com a morte da floresta e dos povos da floresta, assim como com a morte dos agricultores familiares, é direta. É inescapável. E só podemos viver carregando—conscientemente—tanto nossas contradições quanto nossas ruínas.
Por isso, temos que enfrentar também a contradição de estarmos aqui, financiados neste evento, por recursos da Noruega. A Noruega também sustenta majoritariamente o Fundo Amazônia, hoje sob ataque do governo de Bolsonaro. A continuidade do Fundo Amazônia, principal financiador da proteção da floresta, é essencial para barrar, ainda que minimamente, a destruição acelerada do bioma. Este fato não nos absolve, porém, da necessidade de refletir que o Rainforest Journalism Fund é financiado, em grande parte, por dinheiro proveniente do petróleo, já que a Noruega é o maior produtor de petróleo da Europa. A Noruega tem ainda participação em frentes de destruição da Amazônia, como a empresa Hydro Alunorte, que contaminou os rios de Barcarena, no Pará. Só podemos seguir adiante enfrentando todas essas contradições—e não fugindo delas. E exigindo melhores práticas e mais coerência da Noruega.
Por caminhos diferentes, penso que nós estamos aqui, e não só os que vieram de fora, mas também os que já se colocaram geograficamente aqui neste território, porque sabemos que nossa vida depende disso. Mesmo que este ainda não seja um sentimento—ou mesmo um pensamento—que todos possam nomear. Não estamos aqui para ajudar os povos da floresta, contando o que está acontecendo aqui para o mundo de lá, mas sim estamos aqui para, humildemente, perguntar se eles nos aceitam ao seu lado na luta.
Somos nós que precisamos da ajuda dos povos da floresta. É deles o conhecimento sobre como viver apesar das ruínas. São eles os que têm experiência sobre como resistir às grandes forças de destruição. Para que tenhamos alguma chance de produzir movimento de resistência precisamos compreender que, nesta luta, nós não somos os protagonistas.
Sem compreender nosso lugar nessa luta e estarmos dispostos a compartilhar o pouco poder que temos, ou mesmo ceder esse poder, acredito que será muito difícil produzir movimento real. Desta vez, somos nós que precisamos nos deixar ocupar, permitir que nosso corpo seja afetado por outras experiências de ser e de estar neste planeta. Não como uma violência, como foi a colonização da Amazônia e de seus povos, esta que está em processo até hoje, e em processo cada vez mais acelerado. Mas, desta vez, como troca, como mistura, como relação amorosa, como sexo consentido.
Reproduzo aqui uma fala do filósofo Peter Pál Pelbart, que faz essa síntese de forma brilhante: “Talvez o desafio seja abandonar a dialética do Mesmo e do Outro, da Identidade e da Alteridade, e resgatar a lógica da Multiplicidade. Não se trata mais, apenas, do meu direito de ser diferente do Outro ou do direito do Outro de ser diferente de mim, preservando em todo caso entre nós uma oposição. Nem mesmo se trata de uma relação de apaziguada coexistência entre nós, onde cada um está preso à sua identidade feito um cachorro ao poste, e portanto nela encastelado. Trata-se de algo mais radical, nesses encontros, de também embarcar e assumir traços do outro, e com isso às vezes até diferir de si mesmo, descolar-se de si, desprender-se da identidade própria e construir sua deriva inusitada”.
Durante muito tempo nós, jornalistas e cientistas brancos ocidentais, e quando me refiro a brancos ocidentais me refiro a muito além da cor da pele, me refiro a um modo de pensar e de habitar esse mundo, usamos os povos da floresta apenas como fontes do nosso trabalho. Cientistas de todas as áreas, e também da área de humanas, fizeram sua carreira a partir do conhecimento dos povos da floresta citando-os nos trabalhos acadêmicos apenas como “informantes”, isso quando os citavam.
Embora essa prática ainda seja largamente exercida na produção científica, muitos já começam a compreender que já não é eticamente possível fazer isso. Os povos da floresta precisam ser reconhecidos, no mínimo, como coautores. Os intelectuais, assim como os cientistas, não se restringem à academia. Os intelectuais e os cientistas estão também—e muito—na floresta.
É isso que muitos intelectuais indígenas estão dizendo no mundo inteiro neste momento. No Brasil, a obra mais expressiva de coautoria entre um intelectual acadêmico e um intelectual da floresta é “A Queda do Céu”, resultado de uma parceria efetiva, real, de mútuo respeito e mútuo aprendizado, entre Davi Kopenawa, intelectual yanomami, e Bruce Albert, antropólogo francês.
Talvez o debate mais fundamental que precisamos empreender no jornalismo é como esse desafio ético e também estético pode ocupar a produção jornalística neste momento crucial. Como colaborar com os povos da floresta para invadir e ocupar o jornalismo a partir de suas próprias experiências—e não apenas se deixando formatar pelo nosso modelo de imprensa. Esta, me parece, não deve ser apenas uma ocupação de espaço, com indígenas, ribeirinhos e quilombolas fazendo jornalismo. Deve ser também uma transformação do espaço, do próprio fazer jornalístico.
Uma das maneiras de começar esse movimento no Rainforest Journalism Fund é estimular a coautoria nos projetos de reportagem porque, a maneira mais efetiva de ocupar os espaços de poder é… ocupando os espaços de poder. E, de novo, devemos aceitar esse desafio não porque somos “cool” ou por concessão ou por favor – e nem mesmo porque é o mais correto a se fazer—, mas porque precisamos muito aprender e porque podemos ensinar. Precisamos nos inventar de outro jeito se quisermos ter uma chance de enfrentar este momento em que a espécie humana se tornou ela mesma a catástrofe que temia.
Bolsonaro não é apenas uma ameaça para a Amazônia. É uma ameaça para o planeta exatamente porque é uma ameaça para a Amazônia. Diante desta força acelerada de destruição que é o bolsonarismo nós, de todas as nacionalidades, precisamos fazer como os africanos escravizados que se rebelaram contra o opressor. Precisamos nos aquilombar. E, como não sabemos fazer isso, teremos que ter a humildade de aprender com quem sabe.
O melhor—e o mais potente—do Brasil atual e da Amazônia, em todas as regiões, são as periferias que reivindicam o lugar de centro. Nossa melhor chance é nos somar às forças do real centro do mundo onde a disputa pelo futuro é travada, às vezes a bala. É a esse movimento que nós, jornalistas e cientistas, precisamos humildemente servir. Espero que os povos da floresta possam, depois de tudo o que fizemos contra seus corpos, nos aceitar ao seu lado na luta.
The Amazon Is the Center of the World
I want to begin by reminding us where we are.I want to remind us that we are in the center of the world. This isn’t a rhetorical statement. Nor is it meant to be a sound bite. Right now, as our planet is experiencing climate collapse, the Amazon Forest is truly the center of the world. Or at least one of its main centers. If we don’t grasp this, there is no way to meet the climate challenge.This is precisely why we have placed our bodies here in the city of Manaus, the capital of the Brazilian state of Amazonas, in the country that holds about 60 percent of the Amazon. Manaus is both a forest in ruins as well as the ruins of the idea of a country. Manaus can be seen as the living sculpture of a conflict begun in 1500, when the European invasion brought the death of hundreds of thousands of Indigenous men and women and the extinction of dozens of peoples. Right now, in 2019, we are witnessing the beginning of a new, disastrous chapter.Brazil is a great builder of ruins. Brazil has built ruins of continental proportions ever since Europeans started inventing it in the sixteenth century. Right now, a predatory form of life called Bolsonarism has assumed nearly total, and totalitarian, power in Brazil. Bolsonarism’s chief project is precisely to build ruins in the Amazon Forest, methodically and swiftly. This is why, for the first time since Brazil’s re-democratization, we have a Minister Against the Environment.For over 30 years, no environment minister has enjoyed the same autonomy as Ricardo Salles, Brazil’s Minister Against the Environment. He is a gofer for predatory agribusiness, in turn responsible for the majority of the deaths in the fields and forests, and also Brazil’s greatest destructive force. The “ruralist” caucus is not in the government today. They have always been part of the government, formally or not. But today, they are the government.Bolsonarism’s number-one power project is to turn the public lands that serve everyone—because they guarantee the preservation of natural biomes and the life of native peoples—into private lands that profit a few. These lands, most of which lie in the Amazon Forest, include the public lands to which Indigenous peoples have the constitutional right of use, the public lands settled by ribeirinhos (people who have for over a century made their living by fishing, tapping rubber, and gathering Brazil nuts and other forest products), and the collective-use lands of quilombolas(descendants of rebel slaves who conquered their right to the territories occupied by their ancestors).Infighting is constant among the various groups occupying the government today, in part because the Bolsonaro administration employs the strategy of simulating its own opposition so it can occupy every possible space. Yet there is a consensus about opening up Indigenous peoples’ protected lands and opening up conservation areas. When it comes to transforming the planet’s largest tropical forest into cattle, soybeans, and mined ore, there is no fighting. A few somewhat dissonant voices have already been deleted from the government.Bolsonarism goes well beyond the creature that lends it its name. At some point, Bolsonarism might even do without Jair Bolsonaro. Deeply entwined with our global democracy crisis, Bolsonarism has been influencing the entire Amazon region, drawing out figures who have been hiding in sewers for years, sometimes decades, in other Latin American countries where the fate of the world’s largest tropical forest is also being decided. Bolsonarism, it bears repeating, is not a threat just to Brazil but to our planet. Exactly because it destroys the forest that is strategic to controlling global heating.How do we resist this tremendous destructive force, this skilled destructive force?For us to be capable of resisting, we must become the forest—and resist like the forest. Like the forest that knows it carries ruins within itself, that carries within itself both what it is and what it no longer is. It seems to me that we must lend shape to this political, affective feeling in order to lend meaning to our actions. This means shifting a few tectonic plates in our own thinking. We have to decolonize ourselves.The fact that the Amazon is still seen as something faraway and also, or mainly, as a periphery shows just how stupid white Western culture is—a culture first of European roots and then of U.S. ones, and a stupidity that molds and shapes the political and economic elites of the world and likewise of Brazil. Also, to some extent, the intellectual elites of Brazil and the planet. Believing the Amazon is faraway and that it is a periphery, when the only chance of controlling global heating is to keep the forest alive, reflects ignorance of continental proportions. The forest is the closest close that all of us here have. And the fact that many of us feel faraway when we are here only shows how much our eyes have been contaminated, formatted, and distorted. Colonized.Some days ago, I was talking to public attorneys and prosecutors who had recently moved to towns in the Amazon interior on their first postings. Because that’s the logic. The Amazon is the epicenter of conflicts, but to oversee the State and defend the rights of the most unprotected, institutions send in those with no experience. Some—not all—interpret their being sent to a region of the Amazon as a test or even punishment, an ordeal they have to pass before they receive a “decent” posting. Part—not all—can’t wait to be re-assigned and leave this “bad trip” behind. It’s not their fault, or it’s not their fault alone, because this is institutional logic, this is how our eyes view the Amazon. Fortunately, some realize the importance of their role, and they learn, comprehend, and stay, becoming public employees vital to the struggle for rights in regions where rights are worth little or nothing.I reminded them that they, like me, are privileged. That they are precisely in the center of the world. That they are in the best place to be for someone who has chosen their profession. But they will have to work hard to overcome their ignorance, as I work hard every day to overcome mine. And the local population, the forest peoples, will have to be tremendously patient in explaining what they need to know, since they know little or nothing when they get here. The same holds true for journalists and also for scientists.If we gather here believing we are special because we are concerned with the forest, we will have understood nothing. If we—we journalists, we scientists, we who are white well beyond skin color—understand ourselves as having left the comfort of our homes in “developed” cities, which supposedly offer more leisure and cultural options, and having come here to express our solidarity with the forest peoples, we likewise will have grasped nothing. If any truth exists, it lies in the ruins. The only truth is the ruins.For more than 20 years, I traveled the Amazon’s different regions and then returned to Porto Alegre and, later, to São Paulo, cities in Brazil’s urban south, where I lived. In 2017, I moved to Altamira, so I would no longer be a “special envoy” to the Amazon and could change the point of view from which I observe Brazil and the planet and also be coherent with my conviction that the forest is the center of the world.When I got here, I had trouble renting a house. Some of the houses I liked were owned by land-grabbers and/or those who order crimes to be committed against forest peoples and sustainable farmers. Because here, in the center of the world, there is a direct relationship. Not that the owners of houses, apartments, hotels, and condominiums in São Paulo are “cleaner,” but there the chain linking the crime to its head is longer and has more intermediaries.In the big cities of Brazil and the world, we are distanced from the deaths in which our small daily acts are accomplices. We have the privilege of not being forced to question the origin of the clothes we wear or the food we eat. But here, in the Amazon, if you eat beef, you know for sure it is beef from deforestation. If you buy wood, you know there is (almost) no truly legal lumber in Brazil. If you purchase a table or a wardrobe, you look at the furniture and think about how it was most likely made with wood torn off Indigenous land or from an extractives reserve. Here, in the center of the world, our relationship with the death of the forest and forest peoples, as well as with the death of family farmers, is direct. It is inescapable. And we can only live by consciously carrying both our contradictions and our ruins.This is why we must also face up to the contradiction that we are here, at this convening, funded by Norway’s resources. Norway is a major backer of the Amazon Fund as well, now under attack by the Bolsonaro administration. The continued existence of the Amazon Fund, the main financier of forest protection, is vital to curbing the accelerated destruction of this biome, even if only minimally. Yet this does not absolve us from the need to reflect on the fact that the Rainforest Journalism Fund is financed largely with oil money, since Norway is Europe’s biggest oil producer. Norway is also present on destructive frontlines in the Amazon—for example, through the company Hydro Alunorte, which contaminated the rivers of Barcarena, in Pará. We can only move ahead if we face up to all these contradictions, instead of running away from them. And if we demand better, more coherent practices from Norway.Along different paths, I think we are here—not only those who have come from outside but also those who have already placed themselves here in this territory geographically—because we know our lives depend on it. Even if this is not yet a feeling, or even a thought, that everyone can name. We aren’t here to help the forest peoples, telling the world out there what is happening here. Rather, we are here to humbly ask if they will accept us alongside them in the fight.We are the ones who need the help of the forest peoples. They are the ones who know how to live despite the ruins. They are the ones who have experience resisting the great forces of destruction. If we are to have any chance of producing a resistance movement, we must understand that in this fight, we are not the protagonists.Unless we understand our place in this fight and are willing to share the little power we have, or even give up this power, I believe it will be very hard to produce any real movement. This time, we are the ones who need to let ourselves be occupied and allow our bodies to be affected by other experiences of being on this planet. But not as a form of violence, like the colonization of the Amazon and its peoples, the colonization still underway today—and underway at an ever faster pace. This time, as a form of exchange, a blending, a relationship of love, as consensual sex.I would like to repeat the words of the philosopher Peter Pál Pelbart, who summed it up brilliantly: “Perhaps the challenge is to abandon the dialectics of Same and Other, of Identity and Alterity, and recover the logic of Multiplicity. It is no longer just a matter of my right to be different from the Other or the Other’s right to be different from me, in both cases preserving an opposition between us. Nor is it a matter of a relationship of peaceful coexistence between us, where each is tethered to his identity like a dog to a post, and thus entrenched in it. It is a matter of something more radical in these encounters, of also embarking on and assuming some of the Other, and thus at times even differing from yourself, detaching from yourself, coming unstuck from your own identity and constructing unprecedented shiftings.”For a long time, we white Western journalists and scientists—and when I say “white Westerners,” I am talking about much more than skin color; I am talking about a way of thinking about this world and inhabiting it—have used the forest peoples merely as sources for our work. Scientists from all fields, including the humanities, have made careers grounded in the knowledge of forest peoples, citing them in academic papers simply as “informants,” if citing them at all.While this practice remains widespread in scientific production, many have begun to understand that it is no longer ethically possible. Forest peoples must be recognized at the very least as co-authors. Intellectuals, like scientists, are not limited to academia. Intellectuals and scientists are also, and very much so, in the forest.This is what many Indigenous intellectuals all over the world are saying right now. In Brazil, the most significant work co-authored by an academic intellectual and a forest intellectual is “The Falling Sky,” the product of a true, real partnership of mutual respect and mutual learning, between Davi Kopenawa, a Yanomami intellectual, and Bruce Albert, a French anthropologist.Perhaps the most fundamental debate we need to pursue within journalism is how this ethical, and aesthetic, challenge can occupy journalistic production at this crucial moment, how we can collaborate with forest peoples in order to invade and occupy journalism through their own experiences—and not just by letting themselves be formatted by our model of the press. It seems to me this shouldn’t be just about occupying space, about Indigenous peoples, ribeirinhos, and quilombolasdoing journalism. It should also be about transforming space, transforming the very act of journalism.One of the ways to initiate this movement within the Rainforest Journalism Fund is to encourage the co-authorship of reporting projects, because the most effective way to occupy spaces of power…is by occupying spaces of power. And again, we must take up this challenge not because we are “cool,” or making a concession, or doing a favor—not even because it’s the most correct thing to do—but because we have much to learn and because we can teach. We need to invent ourselves another way around if we want to have a chance to confront this moment in which the human species has become the catastrophe it feared.Bolsonaro is not just a threat to the Amazon. He is a threat to the planet, exactly because he is a threat to the Amazon. Confronted with Bolsonarism’s accelerated force of destruction, we, of all nationalities, must do as the enslaved Africans who rebelled against their oppressors. We must forge quilombos. And since we don’t know how to do this, we will have to be humble enough to learn with those who do.What is best, and most powerful, about today’s Brazil and the Amazon, in all its regions, are the peripheries that demand to be the center. Our best chance lies in joining forces with the real center of the world where the dispute over the future is being waged, sometimes by bullet. This is the movement that we, journalists and scientists, must humbly serve. I hope the forest peoples can, after everything we have done against their bodies, accept us alongside them in the fight.